Sob o olhar vigilante da polícia, seu filho retoma o caminho para a escola, onde por ordem do governo o estudo do mandarim será reforçado. Uma medida que, segundo este cidadão chinês de etnia mongol, pode colocar em risco a sua própria cultura.
Na China vivem 1,4 bilhão de pessoas, pertencentes a 56 grupos étnicos. Os han são a maioria (92%). Os quase 6,5 milhões de mongóis vivem principalmente na Mongólia Interior (norte), uma vasta região de pastagens, desertos e florestas.
No início de setembro, grandes manifestações sacudiram o território após o anúncio da nova política linguística. Muitos pais também se recusaram a enviar seus filhos às aulas em sinal de protesto.
Mas as autoridades rapidamente reprimiram o movimento.
Tanques foram estacionados perto das escolas em Tongliao, um reduto da resistência onde quase metade da população é de etnia mongol. A polícia também ofereceu recompensas por qualquer informação sobre os líderes desse movimento.
"O espírito [de resistência] ainda está presente. Mas temos medo", explicou à AFP o pai de família, pedindo para permanecer anônimo.
"Aos poucos, os pais mandam seus filhos de volta à escola".
Com mochilas nas costas, os alunos voltavam na quinta ao colégio mongol de Tongliao, encerrando um tenso boicote de uma semana.
A polícia afirmou ter detido dezenas de suspeitos. Foram acusados de terem lançado petições e convocado mobilizações nas redes sociais.
Os pais mais combativos foram ameaçados de demissão, multas ou mesmo expulsão dos filhos da escola. Alguns funcionários foram suspensos e as autoridades reforçaram sua vigilância.
- "Não aceitamos essa nova política" -
Resultado: as petições anunciadas no início de setembro e os demais sinais de oposição ao projeto praticamente desapareceram.
Quanto aos jornalistas da AFP, eles foram vigiados de perto pelas autoridades durante sua recente estada na região.
A política imposta desde o início do novo ano letivo impõe o ensino do mandarim desde o primeiro ano do ensino fundamental, ao invés de um ano depois - como era feito até agora - em todas as "escolas bilíngues" da região.
Além disso, três disciplinas (história, política e literatura) serão agora ministradas em chinês padrão (mandarim) e não em mongol.
Medidas semelhantes foram implementadas em outras regiões habitadas por grupos étnicos importantes, como no Tibete (tibetanos) e Xinjiang (uigures), onde as autoridades tentam impedir os movimentos identitários.
"Não aceitamos esta nova política", disse o pai da família à AFP. "As crianças de 7-8 anos hoje não serão capazes de falar mongol com seus avós em 10 ou 20 anos".
Os chineses de etnia mongol representam apenas um quinto dos 25 milhões de habitantes da Mongólia Interior. A maioria tem orgulho de sua cultura comum com a Mongólia, o Estado independente mais ao norte.
Muitos criticam uma assimilação progressiva.
As autoridades alegam que um melhor conhecimento do chinês padrão ajuda os membros de minorias étnicas a terem mais oportunidades de desenvolvimento, emprego e mobilidade profissional na China.
- Na Mongólia também -
A governadora da Mongólia Interior, Bu Xiaolin, mongol, diz que a implementação dos novos programas é "uma missão política importante".
As autoridades regionais de educação se recusaram a responder às perguntas da AFP.
Na Mongólia, país com estreitos laços econômicos com a China, a notícia também gerou resistência. Mas os líderes nacionais não desafiaram Pequim neste assunto.
Mais de 100 pessoas protestaram na terça-feira em Ulaanbaatar contra a visita de Wang Yi, o ministro das Relações Exteriores da China.
Na Mongólia Interior, onde vivem mais mongóis do que na Mongólia, existem aqueles que continuam a desafiar as autoridades.
O pai de um aluno de Tongliao disse à AFP por telefone que não planeja escolarizar seu filho no momento.
"Sua maneira de pensar é a de um mongol tradicional. Mas se ele estiver impregnado de um ambiente escolar [em mandarim], perderá sua identidade", disse o pai, que pediu anonimato.
A nova política linguística chinesa visa "eliminar a língua, a cultura e a identidade mongóis", denunciou Enghebatu Togoshog, diretor do Centro de Informação sobre Direitos Humanos da Mongólia do Sul, uma organização dissidente com sede em Nova York.
"Os mongóis não querem perder sua língua. Se perderem isso, perdem tudo", conclui.