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Estado de Minas

Em plena pandemia, como os venezuelanos conseguem superar a inflação?


04/09/2020 08:55 - atualizado 04/09/2020 13:34

Em plena pandemia, os venezuelanos lutam contra uma hiperinflação voraz, buscando sobreviver à crise econômica. As estratégias? Comprar bens no momento com uma moeda local desvalorizada e administrar dólares tentando economizar enquanto a covid-19 avança.


Em uma recessão econômica que caminha para seu sétimo ano e após quase três anos de hiperinflação, os preços sobem em questão de horas por conta do índice, que em 12 meses, até julho, atingiu 4.099%, segundo o Parlamento.


Isso ocorre em grande parte devido à emissão de dinheiro para financiar o déficit fiscal, em meio à queda da produção de petróleo - principal fonte de divisas do país -, atingida pelas sanções americanas à estatal PDVSA.


O bolívar, a moeda local, desvalorizou 77,9% desde janeiro.


Com dinheiro escasso e moedas inexistentes, os venezuelanos dependem dos cartões de débito para pagar o café e de moedas estrangeiras, especialmente o dólar.


Nesse cenário, aqueles que podem, se protegem comprando dólares em um mercado negro que funciona em paralelo ao controle de câmbio.


"Quase não há aumento da taxa de câmbio, os preços são ajustados praticamente imediatamente e talvez esse ajuste seja até demais para se proteger", explica à AFP o economista Henkel García, da Econométrica.


- Gastar bolívares em "qualquer besteira" -


Delia Hernández, de 58 anos, gasta quase que instantaneamente sua renda como aposentada do ministério da Educação, o equivalente a 3,2 dólares por mês.


"Quando me depositam, compro qualquer besteira: um quilo de farinha (de milho pré-cozido, base das tradicionais arepas venezuelanas), um saco de sabão", explica à AFP.


Pequenos prazeres, como beber leite, são restritos, já que um quilo de leite em pó dobra sua renda em meio à maior inflação do mundo.


"Enquanto tudo isso acontece, decidimos vender charcutaria em casa", diz Delia, que investiu boa parte da indenização do marido, demitido durante a pandemia de coronavírus, para "subsistir".


O casal sai de casa para comprar embutidos, em meio a uma onda de infecções na Venezuela, com 49.877 casos confirmados e 402 mortes, segundo dados oficiais questionados pela oposição e ONGs.


"Temos que sair, ir à Quinta Crespo (um mercado popular), que é o mais próximo, comprar rapidinho e voltar para casa, com todas as medidas sanitárias", afirma.


Na geladeira, guarda queijos, presuntos e linguiças que embala e vende aos vizinhos.


"O medo (do coronavírus) existe, mas o que fazer?", questiona-se.


Donny Torres, de 34 anos, prefere não esperar para fazer compras, pois tem dois filhos e uma esposa para sustentar. "Levo pra casa o necessário (...) À medida que recebo, compro na hora", diz à AFP.


Esse entregador cobra até US$ 4, ou o equivalente em bolívares, por entrega. Num dia bom, ganhar US$ 20, seis vezes mais do que seu salário mensal como funcionário público em uma empresa de gás natural.


Para Donny, a distinção é fundamental: "No câmbio, economizaríamos um pouco mais", enquanto o bolívar "não dá para nada".


No entanto, esbarra em um reajuste de preços baseado em referências internacionais, principalmente na área de serviços, que está "impulsionando a inflação", explica o economista García.


"Preciso comprar um pneu para minha motocicleta, certo? Perguntei hoje de manhã, custava 30 dólares, quando voltei depois de 1 (da tarde), já custava 35", diz.


Na Venezuela, os dólares correm livres, apesar do controle cambiário. A empresa Ecoanalítica prevê que este ano representem 70% das transações.


Fora dessa bolha estão os que vivem com bolívares, em um país onde a renda mínima mensal chega a apenas 2,3 dólares.


Entre eles, Mercedes Brito, auditora de vendas, com um salário em bolívares equivalente a 10 dólares.


"É um choque total (...) que a cada dia, a cada semana, tudo é diferente" enquanto "você continua igual", diz Mercedes, de 30 anos, mãe de um menino de 2 anos.


O economista García acredita que o "dólar continuará sendo a única forma de economizar", um conceito irreal para Mercedes.


Há "algo que eu gostaria em algum momento: comprar um celular. Fui roubada em dezembro do ano passado e até hoje não tive como comprar um novo". "É comer ou ter um telefone celular" por US$ 50, suspira.


 


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