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Estado de Minas

A monja budista que desafia a misoginia enraizada de Mianmar


03/09/2020 10:13

Em uma sociedade que exige que as mulheres "tratem o filho como seu chefe, e o marido, como seu deus", a monja budista Ketumala é um caso à parte.

A mulher, de 40 anos, afastou-se da imagem que tinha de si mesma quando era adolescente e se imaginava casada e com filhos. Em vez disso, passou mais de duas décadas defendendo a importância das mulheres na religião.

As túnicas vermelhas e as cabeças raspadas dos monges de Mianmar são conhecidos em todo mundo, mas pouco se fala do grande número de monjas no país, estimado em mais de 60.000.

Por conta do patriarcado enraizado - a crença de que as mulheres são inferiores é bastante comum, e a discriminação é diária -, as monjas são vítimas frequentes de abusos.

"Quando um homem se torna monge, as pessoas sempre aplaudem, dizendo que é bom para a religião e que a tornará melhor. Mas quando uma mulher se torna monja, as pessoas sempre pensam que isso se deve a um problema", explica Ketumala.

"Eles acreditam que é um lugar para mulheres pobres, velhas, doentes, divorciadas, ou que precisam de ajuda", acrescenta.

Ketumala, de caráter rebelde e sem papas na língua, provavelmente é a monja mais conhecida de Mianmar. Ela criou a Fundação Dhamma School, que administra mais de 4.800 centros de educação budista para crianças no país.

Ela adverte, porém, que muitos desses estabelecimentos continuam sendo tratados com desprezo. Os conventos de monjas funcionam mediante doações, mas não contam com o mesmo respeito dos mosteiros e enfrentam dificuldades para encontrar fundos.

- Superstição e discriminação -

A batalha de Ketumala para que o budismo respeite e reconheça as monjas evolui em paralelo ao desafio mais amplo enfrentado pelas mulheres da moderna Mianmar.

A vencedora do Nobel da Paz Aung San Suu Kyi talvez seja o rosto da nação, mas seu papel no topo do governo civil esconde, na verdade, a falta de mulheres nos cargos de poder do país.

Apenas 10,5% dos deputados são mulheres, embora esse índice possa melhorar após as eleições de novembro, segundo as pesquisas.

As leis geralmente são feitas pelos homens e para os homens. Os ativistas pelos direitos civis alertaram que a violência contra as mulheres está tão disseminada que a sociedade a vê como algo normal.

Além disso, o que também é muito propagado é a superstição em torno das mulheres: lavar a roupa das mulheres junto com a dos homens é malvisto, inclusive dentro de uma mesma família, por medo de que os homens percam sua masculinidade.

No âmbito religioso, em alguns templos, as mulheres são proibidas de entrar e nunca devem sentar acima dos homens.

Ketumala reconhece que ela tem pouco poder para realizar todas as mudanças que gostaria.

"As decisões sobre todos os assuntos que dizem respeito às monjas vêm dos monges", explica.

- Aliados -

Ketumala admite que não tem muita esperança de que as monjas alcancem o mesmo status que os homens.

Ainda assim, está decidida a fazer a diferença para as dezenas de milhares de religiosas do país, para que possam "fazer um melhor uso de suas capacidades".

Em 2016, ela lançou um programa de empoderamento para monjas jovens e planeja criar uma organização que ensine assuntos como a arte da liderança e a gestão de equipes.

Para Ketumala, a melhor maneira de conseguir uma mudança é encontrar aliados e amigos em toda sociedade, incluindo os monges, em vez de criar "inimigos".


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