![Capa da nova edição do Charlie Hebdo, com o título Capa da nova edição do Charlie Hebdo, com o título](https://i.em.com.br/oCQ5HyN9U8Ah8Ny_VPhUVfn9gaE=/790x/smart/imgsapp.em.com.br/app/noticia_127983242361/2020/09/01/1181502/20200901165915808582o.jpg)
"O ódio que nos atingiu ainda está aí e, desde 2015, teve tempo de se transformar, de mudar de aspecto para passar despercebido e continuar sem ruído sua cruzada implacável", disse Riss, diretor da publicação satírica, em uma edição cuja capa retoma as caricaturas.
A edição foi liberada nesta terça-feira na internet e chega às bancas na quarta-feira.
Diante do ódio e medo que gera, "nunca nos renderemos, nunca renunciaremos", completou.
As 12 caricaturas de Maomé foram publicadas inicialmente pelo jornal dinamarquês Jyllands-Posten em 30 de setembro de 2005 e depois pelo Charlie Hebdo em 2006.
Os desenhos mostram o profeta com uma bomba na cabeça, ao invés de um turbante, ou armado com uma faca, ao lado de duas mulheres com véu.
Além das caricaturas dinamarquesas, a capa da nova edição do Charlie Hebdo, com o título "Tudo isto por isso", também reproduz a charge do profeta feita pelo chargista Cabu, assassinado no atentado de 7 de janeiro de 2015.
"Desde janeiro de 2015 recebemos com frequência pedidos para produzir outras caricaturas de Maomé. Sempre recusamos, não porque é proibido, a lei autoriza, e sim porque era necessário ter uma boa razão para fazê-lo, uma razão que faça sentido e que aporte algo ao debate", explica o semanário em um editorial.
![Mortos em atentado ao Charlie Hebdo são homenageados em painel de artista francês nas ruas de Paris(foto: Thomas Coex/AFP) Mortos em atentado ao Charlie Hebdo são homenageados em painel de artista francês nas ruas de Paris(foto: Thomas Coex/AFP)](https://i.em.com.br/nhnt6o1WQGq1-fU8rRgJQa2gKe0=/790x/smart/imgsapp.em.com.br/app/noticia_127983242361/2020/09/01/1181502/20200901165920280155u.jpg)
"Uma publicação "indispensável"
"Reproduzir estas caricaturas na semana de abertura do processo dos atentados de janeiro de 2015 nos pareceu indispensável", completa a equipe do Charlie Hebdo, que considera os desenhos "elementos de prova" para seus leitores e para o conjunto dos cidadãos.
O julgamento do atentado jihadista contra o Charlie Hebdo, que deixou 12 mortos e que foi seguido poucos dias depois por ataques contra uma policial e um supermercado de alimentos judaicos, começará na quarta-feira e deve prosseguir até 10 de novembro para sentenciar 14 acusados.
A decisão do Charlie Hebdo de voltar a publicar os desenhos, justamente na véspera da abertura do julgamento histórico, provocou muitas reações.
Depois da publicação inicial na Dinamarca, as caricaturas provocaram manifestações violentas em vários países muçulmanos e sua divulgação na revista francesa foi muito criticada.
A representação dos profetas é estritamente proibida pelo islã sunita e ridicularizar ou insultar o profeta Maomé pode resultar em pena de morte.
O presidente do Conselho Francês do Culto Muçulmano (CFCM), Mohammed Moussaoui, pediu para que as pessoas "ignorem" as caricaturas e pensem nas vítimas do terrorismo.
"Nada pode justificar a violência", disse Moussaoui, que pediu uma concentração no processo.
"Nós aprendemos a ignorar as caricaturas e pedimos para que todos mantenham esta atitude em qualquer circunstância", disse à AFP.
O Paquistão, por sua vez, condenou a decisão do Charlie Hebdo "com a maior firmeza". "Um ato deliberado desse tipo com o objetivo de ferir os sentimentos de bilhões de muçulmanos não pode ser justificado como um exercício de liberdade de imprensa ou liberdade de expressão", disse o Ministério das Relações Exteriores do país muçulmano no Twitter.
Vários integrantes da redação do Charlie Hebdo morreram no atentado, incluindo os desenhistas Cabu, Charb, Honoré, Tignous e Wolinski, o que provocou um movimento de apoio sem precedentes a favor do semanário satírico, na França e no exterior.
A última caricatura de Maomé publicada pela revista apareceu na capa da primeira edição após o atentado. O desenho mostrava um Maomé com uma lágrima no rosto e um cartaz com a frase "Eu sou Charlie". Acima do profeta, a mensagem "Está tudo perdoado".