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Estado de Minas

Além da COVID-19, médicos romenos combatem teorias conspiratórias


22/07/2020 10:49

Há várias semanas, o doutor Virgil Musta trava uma batalha não apenas contra o aumento diário de casos de coronavírus na cidade romena de Timisoara, mas também contra os "coronacéticos" que ignoram suas recomendações.

"Ninguém mais respeita as normas", lamenta o médico, que tratou pelo menos 600 pacientes, em entrevista à AFP.

Como exemplo, ele cita pessoas que testaram positivo para o coronavírus e voltam para casa em transporte público.

Em uma semana, a Romênia registrou quase 5.000 novos casos, chegando a 889 no último sábado, além de 142 mortes, que total de 2.026 óbitos até agora. Por causa desse aumento, alguns países europeus impuseram restrições de viagem aos cidadãos romenos.

Esse ex-país comunista de 19 milhões de habitantes começou sua luta contra a doença com uma política rígida que consiste em hospitalizar sistematicamente todos os 9infectados.

No início de julho, porém, o Tribunal Constitucional declarou ilegal a medida, considerada por alguns uma "ditadura médica".

Manter um paciente no hospital contra sua vontade "viola os direitos fundamentais", alegou o Tribunal.

Aproveitando o vácuo legislativo, "mil pacientes deixaram os hospitais e estão andando livremente", disse um epidemiologista à AFP, com preocupação, e pedindo para não ser identificado.

E a segunda onda pode ser mais forte do que a primeira.

- "O mal está feito" -

Nos últimos dias, dois homens que deram positivo e recusaram internação morreram em casa, segundo as autoridades.

Seis pessoas infectaram 20 familiares, depois de garantir que se cuidariam em casa. Uma promessa difícil de cumprir em um país entre os mais pobres da Europa e com poucos hospitais nas áreas rurais.

De seu leito no hospital em Timisoara, uma jovem paciente de COVID-19 chora pelo marido, morto há alguns dias.

"Não é normal que um homem de 34 anos sem histórico morra por causa do coronavírus", disse ela à AFP.

Cristian Focsan, um esportista na faixa dos 40, pensou que poderia lutar sozinho contra o coronavírus.

No Facebook, disse ter-se recusou a ficar no hospital para "não ocupar um leito" que poderia ter servido a uma pessoa gravemente doente. Sua saúde acabou se deteriorando rapidamente, e ele teve de ser ligado a um respirador.

O Parlamento adotou um texto que permitirá aos hospitais manterem os pacientes com, ou sem, sintomas sob observação por 48 horas. Após esse período, a autorização da Direção de Saúde Pública será obrigatória.

Segundo o dr. Musta, do Hospital Victor Babes em Timisoara (oeste), o mal já está feito.

"Há três semanas, tínhamos um novo caso por dia. Agora, cerca de 40", lamenta ele.

- "Números inflados" -

Em Bucareste, algumas centenas de "coronacéticos" se reúnem regularmente há cerca de dez dias para acusar o governo de transformar o país em um "gulag".

"Tenho que ter o direito de escolher se quero, ou não, ser hospitalizado", diz Costin Tanasescu, um empresário de 49 anos do setor de construção, que questiona o perigo do vírus.

"Os números são inflados para o benefício dos produtores de máscaras protetoras", diz outro manifestante, Ionut Moraru, enquanto Marcela, uma aposentada, teme ser "internada à força por um simples espirro em um local público".

As mensagens de frustração dos profissionais de saúde se multiplicaram por todo país.

"Você não acredita na existência do coronavírus? Então, venha passar 10 minutos sem proteção na UTI. Vamos ver o resultado em uma semana", escreveu a diretora de um centro médico de Bucareste no Facebook.

A rápida disseminação das teorias conspiratórias deixa perplexo o dr. Musta, que acredita que prevenir as pessoas de se exporem aos riscos seja, agora, tão importante quanto curá-las: "A guerra não será mais vencida sozinha no hospital", completa.


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