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Estado de Minas

A odisseia de um argentino que desafiou a pandemia e cruzou o Atlântico sozinho


postado em 15/07/2020 11:49

Um navegador argentino desafiou o coronavírus e o Oceano Atlântico com seu veleiro, em uma travessia solitária de 85 dias para se reunir com seus pais em Mar del Plata.

Juan Manuel Ballestero, de 47 anos, zarpou de Porto Santo, na Ilha da Madeira, em Portugal, em 24 de março, quando um terço da população mundial estava sob confinamento e o número de mortes provocadas pela COVID-19 era cada vez mais preocupante.

Sem voos disponíveis, ele iniciou a viagem no Atlântico e tinha apenas um objetivo: rever os pais idosos.

Pouco depois de iniciar a odisseia, ele comprovou como tudo havia mudado com a pandemia.

"Em Cabo Verde, as lanchas colidiram com o meu barco para não permitir que entrasse no porto. Percebi que o mundo havia mudado de maneira drástica para um navegador solitário", afirmou à AFP no porto de Mar del Plata, 400 km sul de Buenos Aires.

Além do temor de ficar doente em alto-mar, ele tinha a incerteza sobre um eventual resgate. O tráfego marítimo estava reduzido ao mínimo com o fechamento dos portos.

"As notícias eram muito ruins, escutava 'morreram mil, dois mil, 70 mil'... e não tinha ninguém com quem conversar. Era o fim do mundo", relata sobre a experiência que, acredita, o levou ao limite.

"Senti a perseguição nos portos fechados e vi que estava sozinho".

Mas em sua jornada, ele encontrou companhia e distração nos golfinhos que o seguiram durante alguns momentos. "Eles me deixaram feliz, devo muito a eles", conta.

Em Mar del Plata o aguardavam sua mãe Nilda, de 82 anos, e seu pai Carlos, de 90, angustiados com o avanço da pandemia na Argentina, onde o novo coronavírus já provocou mais de 100.000 casos e quase 2.000 mortes.

"Meu único plano era estar em casa, cuidando deles", responde ao ser questionado sobre a motivação durante a viagem.

- "Preso em liberdade" -

Nos 85 dias de viagem, ele cita sete de extrema dificuldade, quando o "Skua", um veleiro de 8,8 metros de comprimento, ficou parado na altura do Equador.

"O marinheiro perde o controle quando não há vento, porque está sozinho no meio do oceano", afirma sobre o episódio, que considera uma revelação.

"Na impotência, eu tentei entender por quê estava no meio do Atlântico. E compreendi que havia feito isso porque há uma pandemia, um vírus mortal, porque as pessoas estavam morrendo, minha família estava em risco e eu também".

Ele passou uma semana inteira paralisado e sem combustível. Água e comida começam a acabar, o vento não aparece, mas a mente não para", relata.

"Você sente que está preso em sua própria liberdade, porque está livre, mas não vai a lugar nenhum. Rezei muito. Meditei. Quando finalmente começou a ventar e a vela inflou, foi uma alegria extrema", recorda, emocionado.

- Seguir, apesar de tudo -

Na cabine do "Skua", uma frase escrita a mão mantém o rumo de Ballestero: "O mar fortalece o caráter e ensina a humildade".

A frase foi escrita por seu pai Carlos sobre uma fotografia de 1979, feita quando foi resgatado com 22 marinheiros de um pesqueiro em chamas perto de Cabo Verde.

"No mar você se sente pequeno, mais humilde", reflete Ballestero, que mora na Espanha, onde trabalha com passeios náuticos.

A bordo do "Skua", ele aponta alguns amassados. "Estas são marteladas de impotência. Não consegui encontrar por onde vazava água até que percebi que era por alguns parafusos".

O argentino conta que durante a viagem passou por todos os sentimentos possíveis, do desespero e medo até o estresse e tristeza, mas conseguiu superar tudo.

Depois de quase três meses de travessia, ele chegou a Mar del Plata em 17 de junho, em um dia de tempestade.

"Você não pode hesitar no meio do Atlântico quando faltam 2.000 milhas para chegar em casa. A COVID mudou nossa existência e nossos planos, mas a humanidade deve seguir", afirma.

Talvez por este motivo ele já tenha planejado a próxima viagem, para depois da pandemia.

"Assim que os portos abrirem, vou navegar no Pacífico. Em breve o Skua vai soltar as amarras, não há dúvida".


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