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Estado de Minas

O calvário de um grupo de refugiados rohingyas


postado em 29/06/2020 09:31

"Sofremos muito nesse barco!" Um grupo de refugiados rohingyas chegou à costa da Indonésia esta semana, depois de passar vários meses no mar, em uma jornada marcada pela fome, sede e a violência dos traficantes de seres humanos.

Pelo menos uma mulher morreu durante a travessia e seu corpo foi jogado ao mar, disseram à AFP vários refugiados que desembarcaram na ilha de Sumatra.

O grupo de quase 100 rohingyas, uma minoria muçulmana perseguida em Mianmar, incluindo 30 crianças, estava em um barco precário. Os pescadores os trouxeram para Lhokseumawe, uma cidade na província de Aceh.

As autoridades indonésias inicialmente recusaram-se a permitir o desembarque, citando o risco de infecção por COVID-19. Mas os habitantes sentiram pena e decidiram levar os refugiados exaustos para a costa, onde receberam comida e roupas e foram registrados.

Um refugiado contou à AFP a violência com que os traficantes os trataram depois que deixaram um campo de refugiados em Bangladesh para tentar chegar à Malásia.

- Abandonados à deriva -

"Eles nos torturaram, nos machucaram. Uma pessoa morreu", denunciou Rashid Ahmad, 50 anos, em um centro de imigração de Lhokseumawe.

"Sofremos muito nesse barco!"

"No começo, havia comida, mas quando acabou, os traficantes nos levaram para outro barco e nos deixaram à deriva, sozinhos", explicou.

Habibullah, outro refugiado, explica que "todos foram espancados". "Eles cortaram minha orelha, me bateram na cabeça".

Segundo Korima Bibi, uma mulher rohingya de 20 anos, duas pessoas morreram durante a viagem.

"Não tínhamos comida nem água suficiente. Alguns tiveram que beber água salgada ou urina", disse, coberta por um véu branco e agachada no chão com o filho. "Ainda assim, sobrevivemos".

A AFP não conseguiu verificar as afirmações. As versões dos sobreviventes contadas à AFP e à Organização Internacional para as Migrações (OIM) coincidem que os rohingyas vieram do campo de refugiados de Balukhali em Cox Bazar, Bangladesh, e que fugiram da perseguição em Mianmar.

Durante a árdua jornada, uma mulher faleceu deixando seus dois filhos sozinhos. Três outros menores, incluindo uma menina de 10 anos, fizeram a viagem desacompanhados, informou um porta-voz do grupo à OIM. Há também uma mulher grávida.

- Compaixão -

Os traficantes cobravam US$ 2.300, segundo a OIM, para levá-los à Malásia, um destino procurado pelos rohingyas porque é um país relativamente rico, com uma população muçulmana majoritária.

Os refugiados rohingyas costumam fugir de Mianmar ou Bangladesh, onde um milhão deles vive em campos superlotados depois de escapar da violência do exército birmanês em 2017.

Os traficantes afirmam que os refugiados teriam uma vida melhor no sudeste asiático, mas a jornada de milhares de quilômetros para a Malásia ou Indonésia é muito perigosa.

Desde o início da pandemia de COVID-19, vários países que lhes permitiam atracar passaram a rejeitá-los invocando o risco à saúde.

Nos últimos meses, o número de refugiados rohingyas que vagam pelo mar aumentou para cerca de 1.400 este ano, alerta a OIM, que estima em pelo menos 130 as mortes no mar.

Na terça-feira, os moradores da costa ficaram furiosos com a recusa das autoridades em deixar os refugiados desembarcarem. E decidiram buscá-los por conta própria.

"Como muçulmano, senti compaixão, especialmente porque havia crianças e mulheres. Isso partiu meu coração", disse Saiful Hardi, morador de Lhokseumawe.

A iniciativa foi aplaudida por organizações de direitos humanos. E os testes dos refugiados para a COVID-19 deram negativos.

O futuro dos refugiados permanece muito incerto. As autoridades indonésias dizem que podem enviá-los de volta ao mar com comida.

"Vocês nos salvaram e agradecemos mil vezes", disse Korima Bibi aos indonésios. "Agora, tudo depende de vocês. Quaisquer que sejam suas leis, nós as respeitaremos."


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