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Estado de Minas

O homem que denuncia a exploração dos 'invisíveis' na Itália


postado em 28/06/2020 15:30

Ele é a voz dos trabalhadores agrícolas, frequentemente sem documentos e explorados, na Itália. O sindicalista Aboubakar Soumahoro reclama medidas urgentes para estes "invisíveis", cuja situação o novo coronavírus deixou ainda mais precária.

No último dia 16, durante os "estados gerais" da economia organizados pelo governo visando a preparar um plano de reativação pós-pandemia, Soumahoro acorrentou-se ante o suntuoso palácio romano do século XVII onde o evento era realizado. Ele queria fazer ouvir a voz das pessoas em situação precária e reclamar uma reforma da rede de abastecimento agrícola, um "plano nacional de emergência para o trabalho" e uma reforma legislativa sobre a imigração.

"Queremos que o governo aprove uma licença alimentar", diz Soumahoro, encarregado do setor agrícola do USB, um dos principais sindicatos do país, independente. Esta "licença" tornaria obrigatória a inclusão de uma menção nas embalagens indicando que os alimentos foram produzidos sem a exploração de trabalhadores.

"Sua aprovação permitiria que os consumidores soubessem o que comem e os agricultores soubessem que não estão de mãos atadas pela grande distribuição, que impõe preços que não permitem aos mesmos viver decentemente do seu trabalho", diz o ativista italiano, 40, nascido na Costa do Marfim.

Centenas de milhares de agricultores estrangeiros estão expostos na Itália à exploração, segundo os sindicatos. Parte deles é submetida ao "caporalato", uma forma moderna de escravidão onde os intermediários, frequentemente ligados ao crime organizado, ficam com grande parte dos magros salários que eles recebem.

Vivendo há 20 anos na Itália, onde começou trabalhando na colheita de tomates sobre o sol abrasador da Puglia, Aboubakar Soumahoro é, hoje, uma voz da esquerda e uma das poucas vozes negras da política italiana.

- 'Neoescravidão' -

O sindicalista, muito ativo nas redes sociais, prefere falar, mais do que sobre sua trajetória atípica, sobre o inferno em que vivem os imigrantes que trabalham no campo colhendo frutas e verduras. "Não sou ninguém, apenas alguém que participa da luta coletiva em que queremos acreditar que os sonhos podem se tornar realidade", responde, antes de assinalar que viveu "as mesmas frustrações, humilhações e preocupações que muitos jovens italianos".

Soumahoro critica a recente regularização das pessoas sem documentos pelo governo, destinada a compensar a escassez de mão de obra no setor agrícola causada pela pandemia, para que os estrangeiros cujas permissões expiraram em 31 de outubro de 2019 possam solicitar, até 15 de agosto, um permissão de residência de seis meses.

Em meados de junho, haviam chegado ao Ministério do Interior 32 mil pedidos. "Levando em conta que, na Itália, cerca de 600 mil pessoas não possuem documentos, pode-se dizer que estamos diante de um fracasso, que não funciona", diz Soumahoro. Segundo ele, os empregadores que deveriam executar o processo, mediante o pagamento de 500 euros, não pretendem fazê-lo, "porque não apenas é muito caro, mas também porque há milhares de trabalhadores excluídos, uma vez que sua permissão de trabalho venceu antes de 31 de outubro".

"Pedimos uma regularização de pelo menos um ano, porque, em um período dramático como o que vivemos, não se pode encontrar trabalho em seis meses", afirma, antes de denunciar que "se usa o argumento da cor de pele e da procedência geográfica para reduzir as pessoas à condição de neoescravidão. Nosso combate também afeta os italianos que trabalham, os miseráveis que vivem em condições lamentáveis."

O sindicalista pede ao Executivo que derrogue as leis de segurança promovidas em 2018 e 2019 pelo ex-ministro do Interior Matteo Salvini, líder da Liga (extrema direita). Os textos eliminaram a permissão de residência por razões humanitárias, os fundos para a repatriação de imigrantes em situação irregular e as restrições em matéria de salvamento no mar.


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