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Estado de Minas

Quando o isolamento em Buenos Aires acontece nas ruas


postado em 02/04/2020 20:31

O decreto do governo é claro: um isolamento rigoroso até meados de abril. No entanto, um terço da população argentina vive na pobreza e milhares de pessoas não têm onde se proteger da crise sanitária.

Elas são as poucas pessoas vistas nas ruas de Buenos Aires, praticamente vazias desde que, em 20 de março, o presidente Alberto Fernández decretou o confinamento obrigatório em todo o país até 31 de março. Posteriormente, anunciou uma prorrogação até 12 de abril.

Elas dormem em praças ou portas de bancos e lojas. Alegam que os abrigos estão cheios, e algumas denunciam a violência da polícia para tentar removê-las dos locais onde vivem, em muitos casos, há anos.

- Obelisco -

Richard Marcelo vive com três pessoas a poucos metros do emblemático Obelisco. Ele não teme o contágio pelo novo coronavírus. "O que tememos é a fome e tudo mais. O coronavírus, não", afirma o uruguaio, 45, há seis anos na rua.

Emilio Sebastián Barcia, 28, é o mais novo do grupo. Vive na rua há três meses, após perder o emprego de cozinheiro. "Com tudo que está acontecendo em relação ao coronavírus, deixe-me sozinho na esquina e eu morro."

O governo da cidade de Buenos Aires acelera os planos para que os sem-teto sejam levados para centros esportivos ou hotéis, além dos abrigos.

Segundo dados oficiais, 1.146 pessoas viviam nas ruas de Buenos Aires em 2019. Mas segundo um balanço de organizações sociais e políticas, o número de sem-teto chega a 7.521 na capital argentina, que fechou 2019 com 35,5% de pobres, dos quais 8% na indigência.

"Não queremos que reste ninguém em situação de rua antes da chegada do pico do coronavírus (meados de abril)", disse à AFP Alejandro Amor, defensor do povo, que tem como missão a defesa dos direitos das pessoas que vivem em Buenos Aires. Segundo ele, até hoje foram levadas cerca de 700 pessoas, mas restam milhares. Por isso, reconhece que "é muito difícil atingir esta meta".

- Praça San Martín -

Há cerca de quatro anos, Edgardo Gabriel Villalba, 37, vive com dois amigos, Claudio e Dani, na praça San Martín. "Fiquei em situação de rua devido ao HIV", conta.

Villalba se sente perdido com as orientações do governo. "Nunca nos explicaram o que temos que fazer. A polícia vem e te obriga a sair", conta, mostrando hematomas, segundo ele, causados por agressões policiais.

Os três costumam frequentar uma igreja a poucos metros dali, para buscar comida uma vez ao dia. Mas às vezes a refeição não chega, ou é insuficiente.

Villalba sabe que o governo oferece abrigos temporários, mas tem medo de ficar mais vulnerável à doença devido ao contato muito próximo com os demais.

- Casa Rosada -

María vive há anos em frente à Praça de Maio, com vista para a Casa Rosada, sede da presidência argentina. Apesar de ser difícil conseguir comida, ela diz estar feliz com tanto espaço só para si.

"Eu desfruto muito da solidão. Para mim, é o mais bonito do coronavírus", diz, rodeada por seus dois cães e vários livros. María não quer nem ouvir falar em abrigo: "Não posso abandonar meus animais."


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