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Estado de Minas PANDEMIA

Mineiras de BH descrevem o dia a dia de quem está no olho do furacão, com esperança em alta

Em Lisboa e em Madri, ambas passam por privações, mas esperam o melhor


postado em 01/04/2020 09:12 / atualizado em 01/04/2020 10:04

Em meio à pandemia do coronavírus, praticamente todos os países do mundo estão sendo afetados, seja social ou economicamente. O número de mortes só aumenta em todos o planeta, e na Europa, claro, a situação não é diferente.

Aliás, pelo contrário. Em países como Itália, Espanha, Portugal e Alemanha, uns mais outros menos, a população sofre com o isolamento e o medo do que ainda está por vir. Crise, recessão, desabastecimento...

E no turbilhão de emoções e privações, duas mineiras de Belo Horizonte relatam como têm sido o dia a dia no olho do furacão. Com 625 quilômetros de separação, ambas passam por situações bem semelhantes. Compras, mobilidade, falta de seriedade no isolamento, dúvidas em relação ao futuro... Mas com uma semelhança: a esperança em dias melhores.

(foto: Gabriel Boys/AFP)
(foto: Gabriel Boys/AFP)


Manaira Aráujo, 36 anos, sendo seis em Madri. Trabalha com formação de eventos em hotéis:

“Estamos completando duas semanas de confinamento em Madri. Os números oficiais de infectados e mortos ainda é alto, mas acreditamos (ou queremos acreditar) que todo esse esforço dará resultado e que agora, a partir de abril, a situação comece a melhorar. Infelizmente, também acreditamos que os números reais sejam bem maiores. Tenho amigos com sintomas que tentaram entrar em contato com o número de telefone disponibilizado pelo governo, mas não tiveram sucesso.

Um pouco antes do confinamento oficial, as escolas já tinham parado de funcionar. Com isso, vimos muitas crianças e seus avós nas ruas e parques. Muitas famílias que vivem em Madri viajaram para outas cidades, principalmente com praias, para casa de parentes ou segundas residências. Mesmo que o governo e os noticiários nos alertassem que a situação do país e que não estávamos de férias, muita gente não levou a sério o isolamento social. Com certeza, essa falta de responsabilidade fez aumentar o número de contágios.
Ver galeria . 7 Fotos Imagens de Madri, na Espanha, em meio à pandemia do coronavírusManaira Araújo/Divulgação
Imagens de Madri, na Espanha, em meio à pandemia do coronavírus (foto: Manaira Araújo/Divulgação )

Vejo que o mesmo está acontecendo no Brasil. As pessoas não estão acreditando que podem ser infectadas pelo coronavírus (e infectar outras pessoas) e na gravidade da situação. O fato e que essa falta de responsabilidade de algumas pessoas fez com que o governo aumentasse as restrições de mobilidade, interditando espaços públicos de lazer e autorizando a polícia a aplicar multas a quem não obedecesse as restrições.

Moramos fora do Centro de Madri, em uma casa, e certamente nosso confinamento está sendo mais agradável do que o de famílias com filhos que moram em apartamentos ou de pessoas que vivem sozinhas. Podemos sair, somente uma pessoa, para levar o cachorro para fazer as necessidades e assim aproveitamos para dar uma volta. Somente uma pessoa de cada família pode ir ao supermercado por vez. Tentamos ir a cada cinco dias ou uma semana. As pessoas que necessitam sair de casa para trabalhar devem levar um comprovante.

As corridas ao supermercado no início do confinamento fizeram com que alguns produtos desaparecessem das prateleiras por alguns dias. Além do papel higiênico, estava bem complicado encontrar leite, macarrão, comida enlatada, álcool em gel, luvas e máscaras. A situação já está bem melhor. Tirando o álcool e as máscaras, a oferta dos demais produtos não está totalmente normalizada, mas podemos encontrá-los.

O desespero passou e as prioridades mudaram. Agora um dos produtos mais escassos é a pipoca de microondas. Na entrada dos supermercados encontramos luvas e material desinfetante para limpar os carrinhos.

Trabalho com treinamento em hotéis de forma presencial e online. Com a pandemia, os treinamentos presenciais foram cancelados e estou trabalhando de casa. Como o setor de turismo é um dos mais afetados, muitos hotéis preferiram adiar o treinamento e de momento a empresa está aproveitando o tempo livre para fazer formação interna. Esperamos que siga assim para manter nossos empregos e salários, mas tudo vai depender de quanto mais tempo iremos seguir assim, além da recuperação do mercado.

Meu marido trabalha com eventos, e mesmo antes do confinamento, vários já estavam sendo cancelados. Depois do anúncio do isolamento, a empresa suspendeu os contratos de trabalho temporariamente, passando o pagamento dos empregados para o governo durante o período de crise do coronavírus. Quando o país voltar ao normal, eles voltam a trabalhar para a mesma empresa.

Diante do impacto econômico da pandemia, vejo que as ações do governo espanhol estão sendo corretas em priorizar a saúde da população. Vejo que os cidadãos, pelo menos a maioria, também estão se esforçando.

A princípio, o isolamento vai até o dia 11, mas vemos que se estenderá um pouco mais. A situação é muito triste. Já são mais de nove mil mortos, e seus familiares mal tiveram a oportunidade de se despedir. De todas as formas, vemos que o número de novos contágios está diminuindo e esperamos que seja a luz no fim do túnel, que em breve a vida volte ao normal.

(foto: Patricia de Melo Moreira/AFP)
(foto: Patricia de Melo Moreira/AFP)


Mariana Montenegro, 30 anos, publicitária e que trabalha como gerente de formação e qualidade em Lisboa. Está há cinco anos em Portugal:

“Na terça-feira, havia completado 10 dias sem sair aqui em Lisboa, quando comecei a trabalhar de casa. Antes disso, tinha feito uma compra de coisas mais básicas não perecíveis, como arroz, feijão, macarrão, massa de tomate, além de algumas frutas, verduras, legumes e coisas que podem ser congeladas. Nada exagerado e ainda tenho o bastante para durar por algum tempo, visto que moro sozinha.

Nesta terça-feira fui ao supermercado para reabastecer a parte de produtos frescos. Fui andando para evitar o transporte público e aproveitar para fazer algum exercício ao ar livre e tomar sol, coisas raras nos últimos dias. Era por volta de 18h e a avenida mais movimentada do bairro estava praticamente deserta. Algumas pessoas andavam por ali, várias com máscara. A única aglomeração que vi eram de pessoas mais velhas para entrar na mercearia do bairro. Ainda assim, eram quatro pessoas. Mas todos têm saído mais de casa, aparentemente.
Ver galeria . 13 Fotos Imagens de Lisboa, capital de Portugal, em meio à pandemia do coronavírusMariana Montenegro/Divulgação
Imagens de Lisboa, capital de Portugal, em meio à pandemia do coronavírus (foto: Mariana Montenegro/Divulgação )

Pelo caminho, notei muitos estabelecimentos comerciais fechados e diversos avisos informando do distanciamento social, da regra de distância mínima dentro dos lugares, além de limite de pessoas nas lojas.

No supermercado havia fila pra entrar, justamente em respeito às regras seguidas pelo sistema nacional de saúde de Portugal. Dessa vez, a maior parte das prateleiras estava abastecida, com exceção da parte de frutas e legumes e laticínios (o que não era o caso quando fiz a primeira compra e o estado de emergência tinha acabado de ser declarado). Agora parecia que supermercado tinha sido saqueado. O setor de carnes também estava escasso, como o peito de frango que não consegui comprar por ter esgotado (e o açougueiro ainda riu quando perguntei se tinha).

A maior parte das pessoas seguia a recomendação mínima de distância. E quando chegavam muito perto de mim, eu olhava feio ou me afastava. Além disso, em praticamente todas as prateleiras existe avisos para que você escolha o que vai levar de longe e só tocar nos produtos que vai comprar.

A parte mais complicada foi quando cheguei em casa. A recomendação é tirar a roupa toda da rua e deixar pendurada num local afastado por pelo menos oito horas. Guardei para lavar essas peças de roupa pela manhã. Lavar as mãos, tomar banho e lavar o cabelo, desinfetar todos os produtos comprados com álcool e lavar as frutas e legumes antes de guardar tudo na despensa ou na geladeira. Foram por volta de duas horas e meia entre sair de casa, fazer compras, voltar e conseguir guardar tudo.

Na cidade, os ônibus estão circulando de forma reduzida e os passageiros só entram pela porta do meio, para não passar perto do motorista. Em sua maioria, vazios ou com pouquíssima gente. No metrô, as catracas ficam abertas o tempo todo para evitar o contato de várias pessoas. Os serviços de aluguel de moto/patinete foram encerrados por questões de segurança e todos os eventos foram cancelados. Uma conhecida foi ao hospital por conta de uma infecção urinária e quando chegou, a primeira coisa que fizeram foi medir a temperatura e dar uma máscara enquanto ela esperava o atendimento.

No geral, a maior parte das pessoas têm cumprido o isolamento social. Parece que as pessoas estão se acostumando com a nova rotina e se adaptando a ela. Mesmo nas empresas. Praticamente todos os meus amigos já estão trabalhando de casa. E mesmo o número de casos aumentando consideravelmente por aqui a cada dia que passa, o número de óbitos não é tão alto ainda. Espero que se mantenha assim e que as pessoas se conscientizem da importância do isolamento para que as coisas voltem ao normal assim que possível, com o menor número de pessoas impactadas.”


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