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Estado de Minas

Iraquianos não conseguem enterrar seus mortos pelo coronavírus


postado em 30/03/2020 09:55

Para o iraquiano Saad Malik, perder o pai pelo novo coronavírus foi apenas o começo do pesadelo. Por mais de uma semana, cemitérios em todo país se negaram a permitir que ele fosse enterrado.

Temendo que a doença respiratória pudesse, de alguma forma, disseminar-se dos corpos para as cidades próximas, as autoridades tribais e religiosas iraquianas devolveram os corpos das vítimas de COVID-19 para os necrotérios do hospital, onde estão se acumulando.

"Não pudemos realizar um funeral por ele e não pudemos enterrar seu corpo, apesar de já ter passado mais de uma semana desde sua morte", desabafou Malik, em entrevista à AFP.

Homens armados que se identificaram como líderes tribais ameaçaram Malik, sua família e amigos, dizendo que incendiariam seu carro, se tentasse enterrar o corpo em sua localidade.

"Você consegue imaginar que, neste país enorme, o Iraque, não há alguns poucos metros quadrados para enterrar uma pequena quantidade de corpos?", questionou.

De acordo com o Islã, uma pessoa deve ser sepultada o quanto antes depois da morte, em geral nas primeiras 24 horas. Cremação é algo estritamente proibido.

O Iraque confirmou mais de 500 casos de COVID-19 e 42 mortes. Como apenas um número pequeno dos cerca de 40 milhões de habitantes foi examinado, acredita-se que o total de vítimas seja muito mais alto.

O governo declarou quarentena geral em todo país até 11 de abril, pedindo à população que fique em casa e adote uma rigorosa rotina de higiene para evitar a propagação do vírus.

- "Onde colocamos os corpos?" -

Em algumas áreas do país, os poderes locais adotaram medidas ainda mais rígidas.

Esta semana, no nordeste de Bagdá, líderes tribais impediram que uma equipe de funcionários do Ministério da Saúde enterrasse quatro corpos em um cemitério designado, pelo Estado, especificamente para as vítimas da COVID-19.

Quando a delegação tentou levar os corpos para outro cemitério, ao sudeste de Bagdá, dezenas de moradores foram às ruas em protesto. Os corpos acabaram sendo devolvidos para o necrotério.

Um iraquiano que vive perto de Bagdá disse à AFP que decidiram "bloquear qualquer enterro" em sua área. "Temos medo pela saúde dos nossos filhos e familiares", admitiu.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), que lidera a resposta global à pandemia, o coronavírus é transmitido por gotas de saliva e pelo contato superficial.

Não há evidência científica de que possa se propagar através de cadáveres, segundo o porta-voz do Ministério iraquiano da Saúde, Seif al-Badr.

O porta-voz acrescentou que o governo está tomando todas as precauções possíveis para sepultar os corpos, incluindo envolvê-los em sacos, desinfectá-los e colocá-los em caixões especiais.


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