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Estado de Minas

Quarentenas e cordões sanitários, receitas antigas para grandes epidemias


postado em 08/03/2020 14:43

Em resposta às grandes epidemias, como peste, cólera e febre amarela, foram inventadas e aplicadas quarentenas desde a Idade Média, bem como cordões sanitários, como ocorre na China e, a partir deste domingo, no norte da Itália, diante do novo coronavírus.

- Precedentes, antes da Itália -

Fato inédito na Europa, o governo italiano adotou neste domingo por decreto medidas excepcionais de confinamento de milhões de italianos que moram no norte, para conter a Covid-19.

Antes, foram tomadas medidas de limitação de movimentos na região de Wuhan, metrópole de 11 milhões de habitantes localizada no centro da China e epicentro da doença, que afeta cerca de 50 milhões de chineses.

"Essas quarentenas são a escala da população chinesa. Fora a Sars (Síndrome Respiratória Aguda Severa) em 2003, não há nada que possa se aproximar da magnitude desta operação. Exceto, talvez, a quarentena de Mumbai (antiga Bombaim), atingida pela peste em 1898", explicou à AFP Patrick Zylberman, especialista na história da saúde na Escola de Altos Estudos em Saúde Pública (EHESP).

Mais recentemente, durante a epidemia de ebola na África ocidental (2013-2016), foram impostas, em várias ocasiões, medidas de fechamento de fronteiras, confinamento e quarentena.

Os 6 milhões de cidadãos de Serra Leoa se viram, por exemplo, forçados a permanecer em suas casas durante três dias em setembro de 2014 e novamente em março de 2015. Este "confinamento geral" foi elaborado para deter a epidemia.

- Quarentena, ou cordão sanitário? -

Uma quarentena é um isolamento temporário imposto a pessoas, navios e animais provenientes de um país infectado por uma doença contagiosa.

O cordão sanitário consiste em postos de vigilância para controlar e bloquear entradas e saídas de uma zona afetada por uma epidemia.

No caso da epidemia chinesa, é o equivalente a um enorme cordão sanitário que se instalou ao redor da região de Wuhan.

- Nascimento da quarentena -

Para se proteger da peste, surgem nos séculos XIV e XV as primeiras medidas documentadas de isolamento de navios procedentes de zonas infestadas, em Dubrovnik (Croácia), em 1377, e depois em Veneza (Itália), a partir de 1423.

A duração imposta do isolamento, 40 dias, deu origem à palavra "quarentena". Os estabelecimentos que recebem as tripulações confinadas levam o nome de "lazaret", deformação do nome da ilhota na lagoa veneziana onde atracavam os navios, Santa Maria di Nazaret, ou referência ao leproso da Bíblia, Lázaro.

As quarentenas logo foram regularmente adotadas na Europa durante epidemias, até a grande pandemia de cólera que afetou o continente nos anos 1830.

- Aparição do cordão sanitário -

O termo "cordão sanitário" nasceu na França no século XIX, quando, em 1821, Paris enviou 30.000 soldados para bloquear a fronteira com a Espanha. O objetivo era impedir a propagação de uma epidemia de febre amarela.

Muito antes dessa data, porém, barreiras sanitárias foram estabelecidas durante grandes epidemias de peste, lembra Tom Solomon.

Este especialista britânico em doenças emergentes, da Universidade de Liverpool, cita "o famoso exemplo" de isolamento voluntário, em 1665, da cidade de Eyam (Inglaterra) após um caso de peste, para evitar contaminar o restante da região.

No sudeste da França, em 1721, um "muro da peste" foi erguido em Vaucluse (sul) ao longo de 27 quilômetros para proteger a região desta praga que causou estragos na cidade de Marselha e na região de Provence.

- Eficácia em xeque -

As medidas de restrição de movimento podem ser "contraproducentes", gerando pânico e levando as pessoas a fugirem a qualquer custo, alertou Solomon.

Também podem levar a problemas sociais, como aconteceu em Mumbai durante a epidemia de peste no final do século XIX, devido a hospitalizações forçadas de homens e mulheres sem distinção de castas, explicou Patrick Zylberman.

A epidemia de Sars na China causou distúrbios violentos e manifestações nas regiões de Nanquim e Xangai (leste) em 2003, após quarentenas brutais, disse o historiador em seu ensaio "Tempestades microbianas".


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