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Bernie ou Biden? O que esperar da disputa que define o adversário de Trump

Bernie Sanders e Joe Biden disputam dentro do Partido Democrata a indicação da candidatura à Presidência dos Estados Unidos, que ocorrerá em novembro deste ano


postado em 08/03/2020 04:00 / atualizado em 08/03/2020 08:41

(foto: Quinho)
(foto: Quinho)
 
Senhores de idade, ambos se enquadram na categoria de “homens brancos”. Com uma diferença de apenas um ano, qualquer deles que por hipótese vença Donald Trump se tornaria o presidente eleito mais velho na história dos Estados Unidos.

Para além, contudo, do fato de Bernie Sanders, de 78 anos, e Joe Biden, de 77, estarem armados para o embate dentro do Partido Democrata, na luta pela indicação da candidatura à Presidência da República, e ambos desejarem ardentemente arrancar Trump da Casa Branca, pelo voto popular, aí termina a maior parte das semelhanças.


or toda uma extensa plataforma de temas centrais da campanha presidencial, afirma-se a distância entre os dois senhores: um quer reformas; o outro propõe mudanças profundas. O primeiro é chamado de “moderado”; o segundo, de “revolucionário”. Biden acena aos mais velhos; Bernie é o favorito entre os jovens.
 
Biden fala àqueles que sonham com um retorno às políticas públicas ao estilo de Barack Obama, em mensagem à “pacificação” e à “unificação” do país, que assiste ao agravamento da polarização e divisão entre eleitores, acentuadas em decorrência do estilo e retórica agressivos de Donald Trump.

Bernie ganha adesões apaixonadas entre aqueles que desejam mudanças conceituais profundas no formato do Estado norte-americano em sua interação com o sistema econômico, o que tem acentuado o empobrecimento da população. É assim que o reconhecimento do aprofundamento das desigualdades sociais no país, consenso democrata, torna-se parte da fissura entre as candidaturas quando se trata da forma de enfrentá-lo.
 
Biden, que foi vice-presidente de Barack Obama (2009-2017) – o primeiro afrodescendente a eleger-se presidente na história dos Estados Unidos –, é o que os norte-americanos chamam de um “liberal tradicional”, de centro, apoiador da lei de assistência médica conhecida como Obamacare e progressista no que diz respeito às liberdades individuais: foi responsável por pressionar o então presidente Obama a aceitar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Milita pelo controle de armas de fogo. Tem forte conexão e apoio com o segmento dos chamados blue-collar voters (trabalhadores) do Centro-Oeste. Biden é o nome do establishment democrata: quer paz interna e reformas.
 
Diferentemente, Bernie, autodenominado um “democratic socialist” – em tradução literal um “socialista democrático”–, referência a algo como um social-democrata em sua concepção mais genuína, é um político outsider. De atuação independente no Senado Federal, mas trabalhando e votando ao lado dos democratas em mais de 90% das situações, apresenta uma pauta de centro-esquerda, que, para o padrão convencional e cultura do liberalismo econômico nos Estados Unidos, soa como “revolucionária”.
 
SISTEMA DE SAÚDE Para além das liberdades individuais em respeito à diversidade e do posicionamento em defesa do controle de armamentos, Bernie ousa defender “Medicare-for-all” – algo como o sistema canadense de saúde, fortemente financiado pelo setor público, mas ainda longe da universalização do Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro. Tal formato apresentado por Bernie substituiria o atual seguro privado por um plano de saúde do governo. Os moderados democratas, entre os quais Biden, defendem a expansão de uma opção pública, dentro do atual sistema de seguro privado existente.
 
Bernie e Biden têm compromisso público para retornar ao acordo climático de Paris já no primeiro dia de governo, em forte contraponto à política negacionista de Donald Trump. Inclusive, ambos elaboram  suas políticas ambientais sustentadas no chamado Green New Deal, plano abrangente do Congresso norte-americano para o enfrentamento dos efeitos deletérios das emissões de gases de efeito estufa.

Mas as abordagens têm gradações muito diferentes: na próxima década, Biden pretende investir US$ 1,7 trilhão em medidas ambientais de seu programa, que chama de “Clean Energy Revolution” (Revolução da Energia Limpa), prometendo gerar 10 milhões de empregos na economia verde; Bernie anuncia aplicação de US$ 16,3 trilhões no mesmo período, estimando com o seu plano de ação, que também chama de Green New Deal, acabar com o desemprego, abrindo 20 milhões de vagas da economia verde.
 
Biden promete com a sua proposta alcançar emissões zero até 2050: entende que, embora o país possa, até lá, continuar a utilizar combustíveis fósseis, liberando emissões que provocam o aquecimento global, propõe a mitigação desses efeitos com o emprego de tecnologia, como a captura do carbono para remover os gases da atmosfera. Já o plano Bernie para enfrentar o aquecimento global prevê até 2030 o emprego de energia renovável para todo o transporte e geração de eletricidade no país. E até 2050, Bernie quer afastar em definitivo os combustíveis fósseis da matriz energética norte-americana.

EDUCAÇÃO Bernie tem outras propostas que causam desconforto ao conservador establishment norte-americano, como a gratuidade do ensino universitário, tendo apresentado proposta legislativa para cancelar todos os empréstimos contraídos por estudantes para o financiamento da formação universitária: 45 milhões de cidadãos se beneficiariam, um impacto nas contas públicas estimado de US$ 1,6 trilhão (mais de R$ 7,3 trilhões, a depender do câmbio da hora). Nada que se compare, por exemplo, com a gratuidade e excelência do ensino das universidades federais brasileiras.

Soma-se a essa agenda a proposta de salário mínimo de US$ 15 a hora e consolida-se, para o padrão do liberalismo econômico vigente nos Estados Unidos, um passo que tem sido frequentemente considerado como “revolucionário”, inclusive pela ala tradicional do Partido Democrata.
 
Não por coincidência, Bernie e Biden, dois adversários hoje, que, em breve, estarão juntos na cruzada contra Donald Trump, mantêm entre si um persistente hiato ideológico, bem anotado por aqueles que os acompanham: Bernie é majoritário entre eleitores de até 30 anos, reinando absoluto na faixa até 24 anos; Biden entre eleitores acima de 65 anos. Bernie fala bem aos hispânicos; Biden, aos eleitores afrodescendentes, o que foi demonstrado nas primárias pelos estados do Sul, como Virgínia, Carolina do Norte, Tenesse e Alabama, tendo os eleitores negros sido a chave para a sua vitória nas primárias da Carolina do Sul, informam as pesquisas de opinião política realizadas pela Edison Research e divulgadas pela CNN.
 
Mas, num país em que o discurso do ódio tornou-se elemento-chave na dinâmica política, críticos de Sanders temem que, caso venha a ser indicado pelo Partido Democrata, hipótese que não agrada aos expoentes da ala tradicional da legenda, as suas posições venham a estimular narrativas de Trump, que ressuscitem o fantasma da Guerra Fria (1945-1991), quando o comunismo, no passado associado à extinta União Soviética, já enterrado no mundo contemporâneo, era contraponto ao capitalismo das democracias ocidentais. Mas se a pecha de “revolucionário” atribuída a Bernie pode afastar o eleitor democrata tradicional, por outro lado, discute-se se o discurso moderado de Biden terá apelo para levar às urnas os contingentes de eleitores, principalmente jovens, que pedem mudanças profundas.
 
Da Superterça, pela primeira vez nesta campanha, as duas alas do Partido Democrata estão organizadas entre os dois se- nhores. O moderado Joe Biden recebe apoios das candidaturas igualmente moderadas de Mike Bloomberg e Peter Budigiet. “A maioria dos americanos não quer a promessa de uma revolução. Eles querem resultados, querem o revival da decência e da honra e do caráter”, garante Biden. Um pouco à esquerda, Bernie retruca: “Desde o primeiro dia não é surpresa que eles (o establishment) não querem que eu seja presidente”.
 
Quem agrega mais apoios para vencer Trump, esta é a questão anunciada como central pelo Partido Democrata. Mas que ninguém duvide que para a ala tradicional da legenda, tão incômodo quanto é a presença de Donald Trump na Casa Branca possa vir a ser o independente Bernie à frente do Partido Democrata. E é exatamente para dar conta desta realidade que, se indicado, Bernie, que já é o líder da ala progressista no Partido Democrata, tenderá a se reposicionar ao centro político, de onde poderá atrair mais apoios. Nesse xadrez, como se comportarão os seus seguidores mais fiéis que exigem mudanças profundas?, eis a questão. A sorte foi lançada.
 
 
Bernie Sanders, de 78 anos

“A única maneira de vencer esta eleição e criar um governo e uma economia que trabalhem para todos é por meio de um movimento popular – como nunca visto na
história americana”

Nascido no Brooklyn, em Nova York, vive em Burlington, em Vermont e em Washington. Tem graduação em ciência política pela Universidade de Chicago. Ele já se descreveu como um estudante universitário medíocre porque a sala de aula era "cansativa e irrelevante", enquanto o envolvimento em causas comunitárias era mais importantes para sua educação.

Cargos: exerceu o primeiro mandato representativo em 1981, elegendo-se prefeito de Burlington, maior cidade do estado de Vermont, cargo para o qual foi reeleito três vezes. Ingressou na política nacional em 1990, ao conquistar uma cadeira na Casa dos Representantes (House of Representatives, o equivalente à Câmara dos Deputados), destacando-se como um dos poucos deputados independentes do país. Eleito para o Senado em 2006, foi reeleito em 2012. Anunciou a intenção de concorrer às primárias democratas em 2015, estimulando um amplo movimento progressista, mas foi derrotado por Hillary Clinton. Em 2019, Bernie anunciou a intenção de voltar a concorrer às primárias presidenciais no Partido Democrata. 
 
Joe Biden, de 77 anos

“Se dermos a Donald Trump oito anos na Casa Branca, ele alterará para sempre e fundamentalmente o caráter desta nação, quem nós somos, e nós não podemos assistir parados a isso acontecer”

Nascido em Scranton, na Pensilvânia, em 20 de novembro de 1942, tem formação em direito. Vive em Wilmington, em Delaware

Cargos: foi eleito ao Senado por Delaware pela primeira vez em 1972, tornando-se o mais jovem senador na história norte-americana, assim como aquele na história de Delaware com a mais longa representação: foi reeleito cinco vezes, exercendo seis mandatos. Em 2008, tentou nas primárias a indicação do Partido Democrata para concorrer à Presidência. Derrotado, foi convidado por Barack Obama, de quem é próximo, para compor a sua chapa. Foi o 47º vice-presidente dos Estados Unidos. Em 2017, ao final do governo Obama, Biden foi presenteado pelo presidente com a Medalha da Liberdade.  


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