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Estado de Minas

A internacional supremacista, desestruturada, mas bem ancorada na internet


postado em 20/02/2020 13:31

Eles não são estruturados, mas se influenciam pela internet: racistas e supremacistas de todo o mundo multiplicam os atos e representam uma ameaça crescente que se alimenta de seus heróis e mártires.

O duplo tiroteio que matou nove pessoas em Hanau, na Alemanha, e que parece estar diretamente ligado a "motivações xenófobas", ocorre após uma longa lista de atos mortais cometidos no Ocidente por indivíduos que buscam defender a "raça branca", que eles dizem estar ameaçada pela migração, globalização e Islã.

De Christchurch a Pittsburgh, de Halle a El Paso, os militantes que decidiram agir nos últimos meses se alimentam de uma narrativa veiculada na internet com uma eficiência que preocupa especialistas e forças de segurança.

Segundo fontes consultadas pela AFP, o neo-nazista norueguês Anders Behring Breivik, que matou 77 pessoas em 2011, desinibiu os militantes mais tentados a partir para a ação.

"Breivik se tornou uma figura inspiradora para alguns", estima Graham Macklin, professor assistente do Centro Internacional Anti-Terrorismo (ICCT) em Haia, em um artigo recente sobre o assunto.

"O ecossistema digital alimenta o momento", disse ele. "Um ataque encoraja e inspira outro, criando um conjunto de 'santos' e 'mártires' que outros podem imitar".

O extremismo supremacista branco entrou em uma fase evidente globalização, confirma o Soufan Center, um grupo de especialistas em questões de segurança criado por um ex-FBI.

- Christchurch no Facebook Live -

Os autores desses assassinatos "foram celebrados como heróis, mártires, santos, comandantes e outros títulos honorários", observou em setembro um estudo assinado pelo centro americano.

Os simpatizantes "abraçam crenças milenares e apocalípticas que evocam uma guerra racial iminente, da qual alguns estão convencidos do fim dos tempos", segundo o texto.

Como no jihadismo, a internet atua como um multiplicador. As plataformas discretas, porém acessíveis (8Chan) ou abertas a todos (Youtube), bem como as redes sociais mais tradicionais permitem que os ativistas exaltem a ação e promovam seus fundamentos ideológicos.

O ataque em Christchurch, Nova Zelândia, em março de 2019, foi transmitido ao vivo no Facebook Live. Alguns meses depois, o assassino de Halle, no leste da Alemanha, também postou seu ataque antissemita ao vivo na plataforma de streaming Twitch.

"Existem muitos grupos radicais no mundo e a internet é um facilitador em seu encontro nacional e até internacional", observa Anaïs Voy-Gillis, geógrafa do Instituto Francês de Geopolítica, especialista na extrema direita.

Segundo ela, o massacre de Breivik tornou possível "reiniciar" a dinâmica do terrorismo de extrema direita que existia antes dele.

"Além dos atos que sempre têm um tipo de efeito bola de neve, o contexto atual, em particular a crise migratória de 2015, contribuiu para a radicalização de várias pessoas que agora estão prontas para agir em nome de uma causa que eles consideram superior".

Atentas ao jihadismo, as autoridades de todo o mundo devem a partir de agora olhar para essa ameaça, talvez menos significativa, mas muito real.

Na França, uma comissão de inquérito da Assembleia Nacional evocou tentativas tímidas de contatos entre "grupos de extrema direita presentes na França" e estruturas europeias, em particular na Alemanha, na Grécia e na Bélgica, mas também na Itália, Grã-Bretanha, Espanha ou Áustria.

Em audiência, Nicolas Lerner, chefe da Direção Geral de Segurança Interna (DGSI), considerou "extremamente limitada" as capacidades desses movimentos de coordenar em escala europeia.

Mas coordenados ou não, esses pequenos grupos se tornaram prioritários para as autoridades americanas.

De acordo com um relatório do FBI de novembro de 2019, 19% dos atos de terrorismo cometidos por "lobos solitários" nos Estados Unidos vêm de ideologias "que defendem a superioridade da raça branca". Ou exatamente a mesma proporção que o islamismo radical.

Uma conclusão tirada por Russell Travers, diretor do Centro Nacional de Contraterrorismo: "Por duas décadas, os Estados Unidos apontaram o dedo para países estrangeiros que exportam ideologia islâmica extrema. Agora somos vistos como exportadores da ideologia supremacista branca. É uma realidade que teremos que gerenciar ".


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