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Estado de Minas

Em Londres, Davi Kopenawa faz chamado mundial 'urgente' para salvar a Amazônia


postado em 03/02/2020 16:55

O líder yanomami Davi Kopenawa, reconhecido com o Right Livelihood, prêmio considerado um Nobel alternativo, explica em entrevista à AFP seu chamado "urgente" de ajuda à Europa e ao mundo.

Em Londres, junto a outros três líderes indígenas brasileiros - Dario Yanomami, Raoni Metuktire e Megaron Txucarramae - Kopenawa entregou uma carta destinada ao primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e a outros líderes europeus, na qual pede que eles não comprem produtos procedentes da destruição das terras na Amazônia.

P: Vocês foram recebidos por Boris Johnson em Downing Street (sede do governo britânico)? Do que se trata a carta?

R: O primeiro-ministro não nos recebeu pessoalmente, nos reunimos com um dos seus funcionários. Entregamos a carta por escrito. Nela falamos sobre os invasores na Amazônia, os problemas com as doenças, a demarcação de nossas terras e também o mineração ilegal. Escrevemos sobre o que o governo está destruindo ao cooperar com pessoas que querem desmatar. Pedimos nessa carta escrita para o primeiro-ministro daqui conversar com outras autoridades da Europa.

P: Qual a principal mensagem para os líderes mundiais?

R: A minha mensagem para o mundo inteiro, o meu sonho e pensamento, é escutar e sentir vontade de ajudar. A minha necessidade é que as autoridades tomem providências para tirar os invasores e os garimpeiros da terra yanomami.

P: Qual a relação de Bolsonaro com os indígenas?

R: A relação que o presidente tem conosco é de buscar riquezas em nossas terras, não se importando com a floresta ou com os povos indígenas. Ele quer explorar os recursos e as riquezas de nossas terras. A mineração, o ouro, os diamantes. Querem acabar conosco e roubar nossas terras.

P: Quais as consequências disso para o seu povo?

R: Isso pode nos destruir. O povo das cidades aumentou, cresceu muito, e por isso que eles estão querendo tomar nosso lugar. Faz 50 ou 60 anos o povo da cidade estava longe. Agora está próximo. Na cidade de Boa Vista [capital de Roraima] tem muita gente que chega lá e está preparando grandes invasões na terra yanomami para plantar capim e criar boi para vender carne para outros países.

P: Vocês estão recebendo apoio mundial?

R: Recebi um prêmio que está me ajudando a trazer visibilidade para o meu povo yanomami, a fazê-lo ser reconhecido em outros lugares, porque seu nome às vezes fica invisível. Esse prêmio foi muito útil para abrir o meu caminho, dar medo de armas de fogo. Tenho medo de perder minha vida, mas não tenho medo de lutar usando as palavras. O homem branco que estraga a minha casa não tem esse direito. Eles estão errados. Ele não sabe respeitar, nós sabemos. Eles às vezes pagam pistoleiros para matar líderes indígenas que estão lutando por suas terras.

P: É possível um modelo de desenvolvimento econômico que respeite os povos indígenas?

R: Esse é o pensamento de um homem capitalista. Meu povo não precisa desse tipo de desenvolvimento, já temos o desenvolvimento natural. O desenvolvimento que o homem branco fala destrói os nossos rios, mata os nossos peixes, arruína a nossa saúde e nosso ambiente. Já nos consideramos ricos com as nossas terras. Temos casa, animais que podemos caçar, pássaros e frutas, e essa é a forma mais limpa de se desenvolver. O desenvolvimento econômico ameaça a terra. Não quero ouvir as pessoas dizendo que os indígenas precisam se desenvolver. Quero proteger, cuidar da terra e manter o planeta como era.


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