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Estado de Minas

Países europeus ativam mecanismo para obrigar Irã a respeitar acordo nuclear


postado em 14/01/2020 17:19

Os países europeus optaram na terça-feira por uma complexa estratégia diplomática para forçar o Irã a respeitar seus compromissos nucleares sem ativar novas sanções, que terminariam com o acordo de Viena de 2015.

A França, o Reino Unido e a Alemanha, signatários do acordo sobre o programa nuclear iraniano, ativaram o mecanismo de solução de controvérsias previsto no pacto em caso de quebra de compromissos.

"Não temos outra escolha, dadas as ações do Irã, além de expressar nossas preocupações quanto ao fato de o Irã não cumprir seus compromissos com o JCPOA (o acordo de Viena) e acionar a Comissão Mista no âmbito do Mecanismo de Solução de Controvérsias", indica um comunicado conjunto emitido pelos chefes da diplomacia dos três países, Jean-Yves Le Drian, Dominic Raab e Heiko Maas.

Em 5 de janeiro, Teerã anunciou a "quinta e última fase" de seu plano para reduzir seus compromissos nucleares em resposta à saída dos Estados Unidos do acordo em 2018, assim como ao restabelecimento das sanções norte-americanas que estrangulam sua economia.

"Ao fazer isso, nossos três países não se somam à campanha que tende a exercer uma pressão máxima contra o Irã", acrescentaram, dando a entender que não querem se unir à política de sanções dos Estados Unidos.

A ativação do Mecanismo de Solução de Controvérsias (MRD), com o qual Paris faz ameaças há várias semanas, pode levar ao restabelecimento das sanções da ONU.

Os europeus não querem "apressar o passo", e sim pressionar o Irã a salvar o acordo de 2015 (JCPOA), que enquadra seu programa nuclear, ressaltou Paris.

"A preservação do JCPOA é mais importante hoje do que nunca", disse o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.

- Aceitar as "consequências" -

O Irã, no entanto, alertou a França, o Reino Unido e a Alemanha das "consequências" dessa iniciativa.

"É claro que, se os europeus procurarem abusar (desse procedimento), eles também devem estar preparados para aceitar as consequências, que já foram notificadas a eles", afirmou o Ministério das Relações Exteriores do Irã em comunicado.

Já a Rússia denunciou essas "ações impensadas" dos europeus, que poderiam levar a uma "nova escalada" em torno do acordo.

Com esta iniciativa, os três países europeus se opõem a Donald Trump, que os exortou a abandonar o pacto e decretar novas sanções em 8 de janeiro, após a escalada militar que surgiu após o assassinato do general iraniano Qassem Soleimani por um ataque americano com drone.

Paris, Londres e Berlim confiam que a diplomacia e as negociações com o Irã serão mantidas. No entanto, é uma aposta arriscada, que pode ser prejudicada pelas novas manifestações contra o regime de Teerã.

"O que eles querem colocar na mesa em troca da mudança na atitude iraniana não está claro. Isso pode continuar a prejudicar a estrutura do JCPOA", disse Ellie Geranmayeh, especialista do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR), através do Twitter.

Parecendo contradizer sua diplomacia, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse nesta terça que está pronto para substituir o acordo nuclear iraniano de 2015 por um novo texto, como desejado por Donald Trump, considerando o presidente americano um "excelente negociador".

"O presidente Trump é um excelente negociador", disse ele à rede BBC, acrescentando em seguida que "vamos trabalhar juntos para substituir (o acordo assinado em 2015) e substituí-lo pelo acordo de Trump".

Mas os britânicos estão "extremamente apegados" ao acordo, segundo fontes diplomáticas europeias, que relativizam as declarações do primeiro-ministro. Dominic Raab negou qualquer mudança na posição britânica.

Os europeus não analisam "muito" politicamente e estão divididos, disse Alex Vatanka, especialista em Irã no Instituto do Oriente Médio em Washington, que acredita que haverá uma "aproximação" entre Johnson e Donald Trump.

- "Ver o que acontece" -

Os sinais enviados pelo Irã nos últimos dias pareciam encorajadores, pois a comoção causada pela morte de Soleimani fez com que no início se pensasse no pior.

A República Islâmica optou por uma resposta proporcional, embora seja verdade que, pela primeira vez, tenha lançado mísseis contra soldados americanos, não deixando vítimas.

O regime iraniano também reconheceu que suas Forças Armadas abateram por engano um avião de passageiros ucraniano horas depois do resgate com mísseis contra bases americanas no Iraque.

O presidente francês Emmanuel Macron, que tentou em vão organizar uma reunião entre os presidentes Donald Trump e Hassan Rohani em 2019 para salvar o acordo nuclear iraniano, continua disposto a aproximar as partes.

"Acreditamos que essa iniciativa francesa não falhou. Não há outra alternativa. No momento, não há outro líder capaz de conversar com todos e dizer a todos a mesma coisa", diz uma fonte diplomática francesa.

Mas será que o presidente Trump, antes de tudo preocupado com sua reeleição, continua buscando um aperto de mão com o líder iraniano, por mais midiático que seja?

Nesta conjuntura instável, a raiva provocada no Irã pela queda do avião ucraniano gerou uma mudança espetacular nesta situação.

"Vendo os fatos, Trump poderia optar por uma 'mudança de regime', dizer 'de fato, não quero falar com o Irã, mudei de ideia, vamos ver o que acontece", diz Alex Vatanka.


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