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Estado de Minas

Irã admite abate de avião ucraniano com míssil e reconhece erro

No Twitter, presidente do Irã, Hassan Rouhani, citou resultado de inquérito das forças armadas que assumiu o abate da aeronave, que resultou na morte de 176 pessoas


postado em 12/01/2020 04:00 / atualizado em 11/01/2020 20:41

"As investigações continuam para identificar e levar à Justiça os responsáveis por essa grande tragédia"

Hassan Rouhani, presidente do Irã

O presidente do Irã, Hassan Rouhani, afirmou ontem que o país “lamenta profundamente” ter abatido um avião civil ucraniano, sublinhando tratar-se de “uma grande tragédia e um erro imperdoável”. O líder supremo do Irã foi comunicado na sexta-feira a respeito das investigações e exigiu que a informação fosse tornada pública. O avião foi confundido com um míssil de cruzeiro. O fato deixou milhares de iranianos indignados, que foram para as ruas de Teerã para protestar contra seus líderes.

“O inquérito interno das Forças Armadas concluiu que, lamentavelmente, mísseis lançados devido a erro humano provocaram a queda horrível do avião ucraniano e a morte de 176 inocentes”, admitiu Rouhani, em mensagem divulgada no Twitter. “As investigações continuam para identificar e levar à Justiça os responsáveis”, acrescentou, classificando o abate do avião como “uma grande tragédia e um erro imperdoável”.

Em um segundo tweet, Rouhani disse que o Irã “lamenta profundamente esse erro desastroso”. “Os meus pensamentos e orações vão para todas as famílias de luto. Ofereço as minhas mais sinceras condolências”, acrescentou. O ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Javad Zarif, também apresentou as desculpas do país pela catástrofe envolvendo o Boeing 737 da companhia Ukrainian Airlines, depois de as Forças Armadas terem igualmente reconhecido que o avião foi abatido por erro.

“Dia triste”, escreveu Mohammmad Javad Zarif no Twitter. “Um erro humano em tempos de crise causada pelo aventureirismo norte-americano levaram ao desastre”, acrescentou. “O nosso profundo arrependimento, desculpas e condolências ao nosso povo, às famílias das vítimas e às outras nações afetadas pelo drama”, disse o ministro.

O Estado-maior das Forças Armadas do Irã garantiu à população do país que o responsável pela tragédia do Boeing, abatido na quinta-feira nos arredores de Teerã, será imediatamente apresentado à Justiça Militar. “Garantimos que ao realizar reformas fundamentais nos processos operacionais em nível de Forças Armadas, vamos tornar impossível a repetição de tais erros”, acrescentou, em comunicado.

A agência de notícias iraniana Fars adianta que o aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, foi informado das conclusões das Forças Armadas na sexta-feira e, depois de uma reunião com a cúpula de segurança do país, decidiu que a informação deveria ser anunciada publicamente. Em comunicado publicado em sua página na internet, ele exortou que se faça o necessário para “evitar a repetição de acidentes”, eliminando qualquer tipo de negligência. Ele também apelou às Forças Armadas que “investiguem as prováveis falhas e culpas no doloroso incidente”.

MÍSSIL 

Mais cedo, a televisão estatal iraniana difundiu uma declaração militar que atribuía o abate da aeronave a um erro. O avião ucraniano voou perto de “um centro militar sensível” da Guarda Revolucionária. Devido às tensões com os Estados Unidos, os militares estavam no nível mais elevado de prontidão. “Nessas condições, devido a um erro humano e de uma forma não intencional, o avião foi atingido.”

O avião ucraniano foi confundido com um míssil de cruzeiro, revelou mais tarde um comandante da Guarda Revolucionária na televisão estatal iraniana. O aparelho foi abatido por um míssil de curta distância, revelou o responsável da divisão aérea Amirali Hajizadeh, dizendo que o míssil explodiu ao lado do avião. “Quem me dera poder morrer e não assistir a um acidente como este”, acrescentou Hajizadeh.

Um soldado teria disparado sem ordem devido a um “congestionamento de telecomunicações”, disse o general. Até o momento, o Irã negava que um míssil fosse responsável pelo acidente. No entanto, os Estados Unidos e o Canadá afirmaram, citando informações dos respectivos serviços de segurança, que o acidente foi causado por um míssil iraniano.

O Boeing 737 da companhia aérea Ukrainian International Airlines decolou de Teerã com destino a Kiev, caindo dois minutos após a decolagem nos arredores da capital iraniana. O acidente ocorreu horas depois do lançamento de 22 mísseis iranianos contra duas bases da coligação internacional liderada pelos Estados Unidos, em Ain Assad e Erbil, no Iraque, numa operação de vingança pela morte do general iraniano Qassem Soleimani.
A aeronave, que seguia para Kiev, transportava 167 passageiros e nove tripulantes de várias nacionalidades, incluindo 82 iranianos, 57 canadenses, 11 ucranianos, 10 suecos, quatro afegãos, três alemães e três britânicos. Ucrânia e Canadá exigem investigação completa.

INDENIZAÇÃO 

O presidente ucraniano exige que o Irã assuma inteiramente as responsabilidades. “Esperamos do Irã garantias da sua abertura para uma completa e transparente investigação, trazendo os responsáveis à Justiça, a entrega dos corpos, o pagamento de uma indenização e desculpas oficiais através dos canais diplomáticos”, adiantou Volodymyr Zelenskiy.

O primeiro-ministro do Canadá exigiu igualmente “transparência” na realização de um “inquérito completo e aprofundado” para apurar as responsabilidades. “A nossa prioridade continua a ser esclarecer este caso num espírito de transparência e Justiça”, afirmou Justin Trudeau, em comunicado. “Esta é uma tragédia nacional e todos os canadenses estão de luto. Vamos continuar trabalhando com os nossos parceiros em todo o mundo para garantir a realização de um inquérito completo e aprofundado”, afirmou. Trudeau acrescentou que “o governo do Canadá espera a plena colaboração das autoridades iranianas”.

Já o responsável pela companhia aérea ucraniana disse que nunca teve dúvidas de que o acidente não tinha sido causado por qualquer problema do avião. O aparelho tinha apenas quatro anos, e dois dias antes passou por uma inspeção periódica, que não detectou qualquer problema.

PROTESTOS 

A admissão do Irã de que suas Forças Armadas derrubaram um avião comercial ucraniano parecia ter a intenção de acalmar as críticas num momento de tensões internacionais altas e agitação doméstica. No entanto, o resultado foi a indignação de iranianos com os líderes do país. Forças de seguranças em Teerã usaram gás lacrimogêneo para dispersar centenas de pessoas que foram às ruas ontem como protesto contra o Exército, aumentando a crise do país.

Alguns iranianos culparam seus líderes por incompetência e por mentiras nos três primeiros dias depois da queda, quando o país negou afirmações de que a aeronave havia sido atingida por um míssil iraniano, matando 176 pessoas. Centenas se reuniram na Universidade Amirkabir, na capital, onde alguns jovens homens retiraram pôsteres de Qassim Suleimani, o influente general que foi morto em um ataque norte-americano de drone em Bagdá na semana passada.

“Eles fazem um carnaval de três dias por uma pessoa, mas mentem sobre 176 pessoas por três dias”, afirmou um jovem manifestante, se referindo às procissões por Suleimani. “Estávamos aqui para o luto, mas agora estamos cheios de raiva e ódio.”

A última semana marcou uma mudança na sorte da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã, que desde o ano passado tem sido elogiada domesticamente por atingir os adversários do Irã com uma precisão que surpreendeu muitos observadores.

A rejeição doméstica sugere que parte do sentimento de unidade causado pelo luto pela morte de Suleimani já estava se dissipando. Alguns iranianos em redes sociais questionaram afirmações da mídia estatal de que o líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, maior autoridade iraniana em todos os assuntos de Estado importantes, tinha sido informado da verdade apenas na sexta-feira, dois dias após a queda do avião. 


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