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Estado de Minas

Ex-primeiro-ministro de Buteflika é eleito presidente na Argélia


postado em 13/12/2019 18:43

Abdelmadjid Tebboune, que era chefe de governo do ex-presidente Abdelaziz Buteflika, foi eleito presidente da Argélia no primeiro turno das eleições de quinta-feira, marcado pela abstenção e protestos em massa em favor de uma renovação política.

Tebboune, de 74 anos, obteve 58,15% dos votos, segundo o presidente da Autoridade Nacional de Eleições, Mohamed Charfi.

Em sua primeira coletiva de imprensa, disse "ter à mão o (movimento de protesto) 'Hirak' para um diálogo com a finalidade de construir uma Argélia nova", e também se comprometeu a "reformar a Constituição (...) que será submetida a um referendo popular", sem informar as modalidades e lutar "contra os corruptos".

Horas depois de conhecidos os resultados, uma maré humana invadiu as ruas de Argel para protestar.

Segundo uma jornalista da AFP, a mobilização foi igualmente importante que a da sexta-feira passada, quando a multidão desfilou pelo centro de Argel para mostrar seu repúdio a estas eleições.

As eleições foram marcadas por abstenção recorde e por manifestações em massa, inéditas desde a independência da Argélia em 1962, exigindo a renovação total das estruturas políticas.

Ao longo desta sexta, manifestantes portavam cartazes em que se podia ler: "Tebboune, seu mandato nasceu morto" ou "Seu presidente não me representa".

Os participantes eram de todas as idades e condições sociais, tanto homens quanto mulheres, algumas usando véu e outras, calças jeans.

"Tebboune é pior que Buteflika. Fez parte dos ladrões. Não votamos e não daremos um passo atrás", disse à AFP Meriem, funcionária pública de 31 anos.

Para o sociólogo Nacer Djabi, "Tebboune vai começar com um grande handicap de legitimidade. Embora as eleições não sejam fraudulentas, os argelinos não têm mais confiança".

Horas antes de iniciados os protestos desta sexta-feira, Mohamed Charfi cumprimentou o ganhador.

"Gostaria de parabenizar o candidato vencedor", disse Charfi. O Conselho Constitucional anunciará os resultados finais entre 16 e 25 de dezembro, após examinar possíveis apelações.

O islamita Abdelkader Bengrina, 57 anos, cujo partido apoiou a presidência de Tebboune, terminou em segundo (17,38%), disse Charfi.

Ali Benflis, primeiro ministro de Buteflika entre 2000 e 2003, tornando-se seu principal adversário eleitoral nas eleições de 2004 e 2014, obteve o terceiro lugar (10,55%).

O quarto lugar (7,26%) ficou para Azzedine Mihubi, líder da União Nacional Democrática (RND), principal aliada da Frente de Libertação Nacional (FLN) de Buteflika.

Em quinto lugar, terminou Abdelaziz Belaid (6,66%), ex-diretor da FLN e fundador de uma micropartidária para apoiar o ex-presidente. A vitória do ex-chefe de governo de Butefilka foi recebida com gritos "do povo e do exército, com Tebboune" na sede da campanha do político em Argel.

A primeira reação estrangeira foi do presidente francês, Emmanuel Macron, que pediu às autoridades para estabelecer um diálogo com o povo argelino.

Washington afirmou que apoiava o direito dos argelinos a "expressar pacificamente suas opiniões", acolhendo favoravelmente o transcurso das eleições.

"Há um ano, o povo argelino expressou suas aspirações não só nas urnas, como também as ruas", declarou a porta-voz da diplomacia americana Morgan Ortagus.

"Estamos desejando trabalhar com o presidente eleito, Abdelmadjid Tebboune, para promover a segurança e a prosperidade na região", declarou Ortagus.

- '#Hirak continua' -

Após o anúncio dos resultados, os apoiadores do movimento "Hirak" tomaram as ruas de Argel após a oração de sexta-feira, pela 43ª vez desde o início dos protestos em 22 de fevereiro.

"A votação foi fraudulenta. Essas eleições não têm nada a ver conosco e o novo presidente não nos governará", afirmaram os manifestantes, considerando que as eleições presidenciais de quinta-feira são apenas uma extensão da era Buteflika.

Toda sexta-feira, os argelinos vão às ruas pedir uma renovação completa das estruturas políticas em um movimento chamado "Hirak", em árabe.

No Twitter, a hashtag do dia era "#Hirak continua", que serviu para lançar uma campanha sob o lema "Tebboune não é meu presidente".

A Autoridade Nacional Eleitoral indicou que a participação foi de 39,83%, a mais baixa da história, 10 pontos a menos do que as eleições de 2014, nas quais Buteflika conseguiu seu quarto mandato.

O dia de quinta-feira foi dominado pela baixa participação nas assembleias de voto e por uma impressionante demonstração de força do "Hirak", o que causou uma enorme mobilização policial.

Isso aconteceu sem grandes problemas, exceto na área de Cabilia (norte), uma região tradicionalmente conflituosa, onde vive a maioria da minoria berbere da Argélia, representando um quarto da população do país, ou seja, cerca de 10 milhões pessoas.

- "O povo não votou" -

Os manifestantes continuam a exigir o fim do sistema, em vigor desde a independência de 1962, e a saída de todos os partidários ou colaboradores de Buteflika durante seus 20 anos de mandato.

"O povo não votou. Sempre foi negligenciados. Sempre nos amordaçaram desde a independência. Nos despojaram da nossa independência. Ontem bateram em nós. Mulheres e idosos foram espancados. Vamos continuar até a saída do sistema", explica Djamila, uma manifestante sexagenária.

Após uma primeira tentativa de eleições abortada em julho, a cúpula das Forças Armadas, pilar do regime e comandada desde a saída de Butefklika, sabia que tinha que organizar essas eleições para superar a crise político-institucional do país que tem agravado a situação econômica.


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