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Estado de Minas

Brigada sul-coreana encarregada de apagar da internet vídeos sexuais ilícitos


postado em 25/11/2019 09:25

Ver e apagar vídeos íntimos gravados sem o consentimento de sul-coreanas é o trabalho de uma brigada do governo, ativa 24 horas por dia, para eliminar da internet esse material de conteúdo sexual, uma epidemia no país.

A equipe de 16 membros, que inclui quatro mulheres, foi formada no início do ano pelo KCSC, o órgão sul-coreano de censura de conteúdos na internet, e tem sede em Seul.

Chamados de "molka", os vídeos são gravados com câmera escondida. As vítimas são mulheres na maioria das vezes, e são gravadas em banheiros, provadores ou escolas.

A brigada também se encarrega de descobrir vídeos sexuais privados, aqueles publicados na internet por ex-namorados e ex-maridos com sede de vingança.

O fenômeno adquiriu um alcance considerável desde a prisão, em março, de uma estrela do K-pop, Jung Joon-young, acusado de ter filmado e difundido vídeos íntimos de suas companheiras.

Espera-se que a sentença de seu processo seja emitida na semana que vem. A promotoria pediu sete anos de prisão para o jovem, de 30 anos.

Dezenas de milhares de sul-coreanos já se manifestaram nas ruas de Seul para exigir ao governo ações concretas contra os "molka".

Sentado em seu escritório da brigada, An Hyeon-cheol chegou aqui após ter passado em uma prova muito disputada. Não esperava ocupar este posto.

"Era difícil manter o sangue frio no primeiro dia", explica ele, de 27 anos. "Tive que enfrentar imagens que nunca havia visto até então".

"Quando saía do trabalho, não podia nem olhar para as mulheres à minha volta. Os vídeos que havia visto durante o dia me perseguiam", explica o chefe da equipe, Lee Yong-bae.

- Vergonha profunda -

Para detectar vídeos ilícitos, buscam em sites nacionais ou estrangeiros, incluindo Twitter e YouTube, com palavras-chave em coreano para se referir a atos sexuais.

A brigada pode ordenar que as plataformas sul-coreanas retirem os vídeos suspeitos, mas a maioria delas tem seus servidores fora do país, o que complica as coisas.

Para os sites estrangeiros, a brigada não pode pedir que retirem os vídeos, e têm que se limitar a esperar que estes os retirem voluntariamente.

Às vezes, as vítimas, presas do pânico, contatam a equipe por telefone para pedir ajuda.

"Recentemente uma mulher nos deu 100 endereços de sites onde haviam sido publicados vídeos íntimos gravados por seu ex-namorado", explica Lee.

O agente admite que é "quase impossível" apagar completamente um vídeo, pois podem se propagar muito rápido. Um deles, publicado em maio, estava seis meses depois em 2.700 sites diferentes, segundo um documento da KCSC.

Coreia do Sul é um país muito conservador em termos de costumes. E as mulheres que aparecem nesses vídeos sentem muita vergonha se algum de seus conhecidos fica sabendo.

Quase 5.500 pessoas (97% homens) foram detidas no ano passado por publicar esse tipo de vídeos, 22% a mais que em 2016, segundo a polícia.

- 'Em qualquer lugar' -

Park Yu-na, de 31 anos, explica à AFP que agora evita "na medida do possível" usar banheiros públicos.

"Nós mulheres temos medo de ser vítimas deste tipo de câmeras escondidas, que podem estar ocultas em qualquer lugar, a qualquer momento", explica esta moradora de Seongnam (noroeste), não muito longe de Seul.

O presidente sul-coreano, Moon Jae-in, declarou no ano passado que a sociedade não havia "reconhecido plenamente o trauma e a humilhação que as vítimas vivem", e exigiu que as penas sejam reforçadas.

Gravar ou divulgar vídeos íntimos sem consentimento pode ser punido com até cinco anos de prisão, mas a maioria dos acusados acabam sendo condenados com uma pena condicional ou uma multa, segundo os analistas.

"Existe a ideia de que assistir pornô ilegal é uma forma de entretenimento como qualquer outra para os homens", explica Lee Na-young, professora de Sociologia na Universidade Chung-Ang de Seul.

Algumas vozes denunciaram a censura desses vídeos, vendo na medida uma vulneração da liberdade de expressão, aponta Min Kyeong-joong, secretário-geral da KCSC.

"Quando ouço esse tipo de argumentos, tenho vontade de perguntar: Vocês diriam a mesma coisa se acontecesse com suas esposas ou filhas?".


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