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Estado de Minas

Tensões, tristeza, traumas: democratas sofrem com Trump


postado em 31/10/2019 11:01

Alguns deixaram de falar com familiares. Outros saíram das redes sociais e evitam fazer comentários sobre política. Muitos sentem que feridas foram reabertas. Nos Estados Unidos, a Presidência de Donald Trump causou inúmeras tensões, muito evidentes a um ano das eleições de 2020.

Ruth, uma arquiteta do Arizona que prefere não dar seu verdadeiro nome, disse estar entre os democratas que rejeitam Trump "com cada célula de seu corpo".

Quando esta sexagenária descobriu, em 2016, que dois de seus amigos de uma vida inteira apoiavam o republicano, ficou "arrasada".

"Realmente tive que pensar muito para ver como ia lidar com a nossa amizade", disse à AFP. Por fim, "decidi que não podia rejeitá-los completamente (..) Ainda somos amigos, mas menos próximos".

Cody Mayers, um jovem desenvolvedor de software na Carolina do Norte, escreveu um post na rede social Quora sobre como, depois de publicar um vídeo satírico anti-Trump, ele e sua namorada brigaram com seu pai.

Contactado pela AFP, Mayers disse que não queria mais falar disso para não "reabrir feridas".

Donna Ramil é uma das muitas americanas que buscam não falar de política para evitar rupturas drásticas com amigos, parentes, ou conhecidos.

"Antes costumávamos brincar sobre política, as pessoas que sabiam que sou democrata colocavam um adesivo republicano nas minhas costas e ríamos. Se alguém fizer isso agora, vou ficar muito ofendida", afirmou.

- "Muito tóxico" -

Ramil diz que, agora, precisa ser extremamente sensível ao fato de seus interlocutores terem diferentes opiniões políticas.

"O que se faz é que você não fala de política porque é muito tóxico. É uma loucura, é deprimente", acrescentou Donna Schlather, que trabalha na Universidade de Cornell, no estado de Nova York.

Jacqueline Daly, uma nova-iorquina aposentada e católica praticante, parou de conversar sobre política com seus amigos da paróquia - a maioria pró-Trump - para não correr o risco de perdê-los.

"Algumas vezes, houve uma divergência acalorada, sobre imigração, crianças enjauladas, por exemplo. Depois de alguns minutos, todos viam que ninguém ia mudar de opinião, e a gente simplesmente parava. Queremos manter uma relação amistosa", afirmou.

Muitos saíram do Facebook.

"Ficou mais difícil gostar das pessoas das quais eu gostava antes", desabafou Brigid Beachler, uma colega de Ramil.

Para Darrell West, autor do livro "Política dividida, nação dividida: hiperconflito na era Trump" (em tradução livre do inglês), a polarização vai muito além da política e afeta a sociedade e a cultura.

Enquanto fazia a pesquisa para seu livro, publicado em março, West disse que estava "assombrado" pelo fluxo de mensagens de desconhecidos que lhe contavam sobre as divisões em suas próprias famílias.

"As pessoas sofrem", comentou.

"Isso não começou com Donald Trump, mas ele piorou", acrescentou West, um democrata que diz manter boas relações com suas irmãs pró-Trump.

- Política e psicanálise -

Talvez mais grave do que as tensões entre amigos e familiares seja o fato de as pessoas se sentirem afetadas psicologicamente por Trump.

Betty Teng, uma psicoterapeuta de Nova York, viu várias vítimas de agressão sexual que consideram traumático que um homem como Trump - que se orgulhou, em um vídeo, de assediar mulheres sexualmente - ter chegado à Casa Branca.

A batalha de 2018 pela confirmação de Brett Kavanaugh como juiz da Suprema Corte indicado por Trump, depois de Christine Blasey Ford tê-lo acusado de agressão sexual, foi outra lembrança do que haviam sofrido, completou.

"É como arrancar uma camada de pele e depois se expor a tudo isso. Torna nosso trabalho mais difícil", disse Teng, acrescentando que os mais vulneráveis são os imigrantes, ou ainda as minorias raciais, religiosas, ou sexuais, com frequência atacadas pelo governo de Trump e por seus partidários.

Matt Aibel, um psicanalista de Manhattan, concorda.

"Qualquer pessoa que tenha sido vítima de comportamentos injustos de uma figura poderosa e que [esta figura] não tenha tido de prestar contas, provavelmente, está traumatizada com o posicionamento de Trump", afirmou.

Para Aibel, que atende principalmente a brancos com confortável situação socioeconômica e que, portanto, não são atacados diretamente por Trump, a política foi durante muito tempo considerada "tabu" nas sessões de psicoterapia. Isso mudou desde 2016.

Assim como Teng, Aibel está convencido de que o clima atual é ruim para a saúde mental.

"Quem pode se manter são e equilibrado neste contexto? Além do dalai lama, não sei", afirmou.


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