A calma prevalece pelo segundo dia consecutivo no Iraque, que continua praticamente sem internet nesta quarta-feira, enquanto Washington pediu a Bagdá que "preste contas" após as mais de 100 mortes registradas durante um movimento sem precedentes de contestação social.
Em Bagdá, a segunda capital mais populosa do mundo árabe, a vida parece voltar ao normal, com enormes congestionamentos e as escolas recebendo seus alunos.
Mas enquanto as repartições públicas e o comércio reabriram, o acesso às redes sociais permanece impossível.
Em 1º de outubro, o Iraque entrou em uma espiral de violência: manifestações aparentemente espontâneas e motivadas por problemas sociais foram reprimidas violentamente. Na madrugada de domingo, cenas de caos tomaram Sadr City, reduto em Bagdá d influente líder xiita Moqtada Sadr, que pediu a renúncia do governo.
O Exército reconheceu o "uso excessivo" da força apenas durante esta noite, quando pelo menos 13 manifestantes morreram.
O balanço oficial da semana de violência que atingiu Bagdá e o sul do Iraque já ultrapassa os 100 mortos e 6.000 feridos.
Sobre os autores da repressão, as autoridades se referiram a "atiradores não identificados".
O governo nada comentou sobre a interrupção do acesso à internet que atinge três quartos do país.
"Esta falta de conexão imposta pelo Estado na maioria das regiões limita gravemente a cobertura da mídia e transparência da crise", denunciou o site especializado Netblocks.
- Crise política -
Diante da violência, o movimento social degenerou em uma crise política.
Em um país dividido entre seus dois principais aliados - o Irã e os Estados Unidos - onde os líderes se acusam mutuamente de lealdade às potências estrangeiras, o presidente Barham Saleh apelou aos "filhos da mesma nação".
Ele decretou um "diálogo nacional" que, por enquanto, deu origem a uma série de reuniões entre parlamentares, bem como entre líderes governamentais e tribais e partidos políticos.
Os manifestantes não responderam ao chamado de figuras políticas ou religiosas conhecidas.
O governo e o parlamento já anunciaram medidas sociais para acalmar os manifestantes, que reclamam da corrupção, do desemprego e dos péssimos serviços públicos em um país rico em petróleo, onde mais de uma em cada cinco pessoas vive abaixo da linha de pobreza.
Na terça à noite, a diplomacia americana anunciou que o secretário de Estado Mike Pompeo havia pedido ao governo iraquiano "contenção máxima". "Aqueles que violaram os direitos humanos deverão ser responsabilizados", acrescentou.
O sul do Iraque, igualmente atingido pela violência, também se prepara para comemorar em 20 de outubro o Arbain, a maior peregrinação do islamismo xiita do mundo, que reúne milhões de visitantes, principalmente do Iraque e do Irã.
A maioria converge a pé de Basra, na ponta sul do Iraque, ou de Bagdá, para o túmulo do imã Hussein em Kerbala, 100 km ao sul da capital.
Comentando o recentemente a contestação em seu vizinho, o Irã denunciou uma "conspiração" de "inimigos" da República Islâmica para semear a discórdia entre Teerã e Bagdá.