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Estado de Minas

'Onda populista' subverte relações internacionais


postado em 25/07/2019 16:01

De Donald Trump a Boris Johnson, o clube dos dirigentes antissistema com traços populistas cresce sem parar e transforma a diplomacia mundial, em detrimento do multilateralismo e da cooperação internacional.

Para muitos observadores, a "onda populista" que se espalhou por países democráticos teve sua primeira contundente vitória com o "sim" ao Brexit, no referendo britânico de junho de 2016, antes mesmo da eleição do magnata republicano à presidência dos Estados Unidos em novembro daquele mesmo ano.

A posse ontem do conservador Boris Johnson como novo primeiro-ministro do Reino Unido parece ser parte deste movimento. Também se viu um aumento de representantes da extrema direita no Brasil, com Jair Bolsonaro, ou na Itália, com Matteo Salvini, por exemplo.

"Os líderes de quase metade dos países do G20", que reúne as principais potências ricas e emergentes, "agora estão, em geral, a favor de Trump", disse Ian Bremmer, presidente da consultoria Eurasia Group.

"E muitos deles chegaram ao poder depois dele", acrescentou.

Entre eles, cita Reino Unido, Brasil, Itália, Austrália, mas também dirigentes que estão no poder há mais tempo - caso do indiano Narendra Modi, do argentino Mauricio Macri e do turco Recep Tayyip Erdogan - e os de países mais autoritários, como o russo Vladimir Putin e o príncipe herdeiro da coroa saudita, Mohamed bin Salman.

Apesar de suas afinidades com Trump, Johnson pode, contudo, sentir-se rapidamente "desconfortável", adverte Thomas Wright, da Brookings Institution.

"Ele é certamente populista e radical no Brexit, mas não em outros temas", explica para a AFP.

"Sobre mudança climática, Irã", o novo chefe do Governo britânico é "mais moderado" e pode em breve entrar em atrito com seu colega americano, supostamente seu principal aliado.

Ainda assim, a despeito dos diferentes contextos e personalidades, os paralelismos são muitos entre estes dois líderes.

"Têm em comum um estilo populista e são claramente parte de um fenômeno maior", disse Luigi Scazzieri, do Centro para a Reforma Europeia em Londres.

"Os eleitores nos Estados Unidos, Reino Unido, ou na Itália elegem políticas que se caracterizam por um sentimento anti-imigração, um discurso mais ou menos explicitamente nacionalista, a rejeição das elites tradicionais encarnadas por tecnocratas e pelos especialistas", completou.

- 'Sem uma frente comum' -

As raízes estão no aumento das desigualdades, com um sentimento de empobrecimento que vai além das classes populares e que chega às classes médias.

Combinado com um uso "incrivelmente efetivo" das redes sociais, das quais Bolsonaro, Salvini, Trump e Johnson são assíduos, estes fatores explicam a ascensão "estrutural" do "populismo", avaliou Ian Bremmer.

A irrupção destes novos atores tem, inevitavelmente, "profundas consequências nos assuntos do planeta", já que "denigrem as instituições internacionais acusadas de minar os interesses nacionais e a soberania", completou Scazzieri.

A primeira vítima é o multilateralismo e suas conquistas desde 1945. Do Acordo de Paris sobre o Clima até o acordo nuclear do Irã, das Nações Unidas à União Europeia: as instituições que governam a ordem internacional estão sob constante ataque.

É difícil, porém, falar de uma "coalizão" de líderes "nacionalistas", "populistas", ou "antissistema". É um grupo à parte, sem dúvida, mas não homogêneo, nem unido.

Como prova, está a impossibilidade de formar um grupo parlamentar comum depois das eleições europeias, porque as questões econômicas, ou as relações com a Rússia, por exemplo, dividem os lados.

"Todos têm diferentes bandeiras e diferentes interesses nacionais", afirma Ian Bremmer.

"É fácil para eles se oporem à globalização, às estruturas internacionais existentes e ao livre-comércio, mas não estão unidos em torno de algo", completou o analista.


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