Envolvido em uma queda de braço comercial com a Donald Trump, o presidente chinês, Xi Jinping, reuniu-se nesta quarta-feira (5) com "seu melhor amigo", o contraparte russo, Vladimir Putin, também frio com os americanos, para dar novo impulso ao acordo entre Rússia e China.
Antes de uma recepção em sua homenagem no Kremlin, uma apresentação no Teatro Bolshoi, uma visita a dois pandas chineses emprestados ao zoológico de Moscou e de uma intervenção no principal encontro político e econômico da Rússia, Xi Jinping foi recebido por várias horas por Putin, multiplicando saudações e declarações de amizade.
Depois de assinar uma declaração conjunta com seu contraparte a fim de abrir uma "nova era" sobre seus vínculos, Putin elogiou perante a imprensa relações que alcançaram níveis sem precedentes.
As posições de Moscou e Pequim, membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, que frequentemente votam em uníssono, são "muito próximas ou totalmente coincidentes" na maior parte dos assuntos internacionais, como o programa nuclear da Coreia do Norte, o conflito na Síria, a crise na Venezuela ou o acordo nuclear iraniano, disse.
No entanto, os dois países fixaram novos objetivos ambiciosos, destinados a fortalecer ainda mais a cooperação e contribuir para a prosperidade de seus povos, destacou Putin neste encontro para celebrar os 70 anos do estabelecimento das relações entre os dois países.
Xi Jinping também retribuiu elogios ao presidente russo, a quem chamou de "seu melhor amigo" e disse esperar que "a tradicionalmente forte amizade russo-chinesa brilhe com novo impulso".
As duas potências têm em comum relações particularmente tumultuadas na atualidade com Washington por diferentes motivos.
- "De acordo" -
"Estou convencido de que esta visita terminará com novos e impressionantes êxitos" nas relações bilaterais, "que irão cada vez melhor", declarou Xi, no início do seu encontro com Putin no Grande Palácio do Kremlin.
"Nos últimos anos, as relações entre a Rússia e a China atingiram um nível sem precedentes, devido à sua participação direta", destacou Putin.
A tradicional "diplomacia do panda" chinesa também se fez sentir com a visita de Xi Jinping e Vladimir Putin a dois pandas gigantes emprestados durante 15 anos ao zoológico de Moscou.
O empréstimo "é um sinal de respeito especial para a Rússia", disse Putin a jornalistas. "Estes animais são um símbolo da China e apreciamos muito este gesto de amizade".
Posteriormente, Xi viajará na quinta e na sexta-feira a São Petersburgo e será o convidado de honra do Fórum Econômico, que reúne dirigentes e representantes de 1.800 empresas russas e estrangeiras de 75 países.
Xi e Putin deverão também assinar uma declaração comum sobre "o reforço das relações, da associação em nível global e cooperação estratégica, que ingressam em uma nova era".
Além dos tradicionais laços de amizade, a China "é o mais importante parceiro comercial da Rússia", lembrou nesta terça-feira um conselheiro do Kremlin, Iuri Ushakov.
Em um contexto de fortes tensões entre a Rússia e países ocidentais, o intercâmbio comercial entre Moscou e Pequim aumentou 25% em 2018 para atingir "um nível recorde de 108 bilhões de dólares", assegurou Ushakov.
- Guinada na direção da China -
A Rússia, cuja economia é duramente atingida por sanções europeias e americanas desde 2014 devido à crise na Ucrânia e à anexação da Crimeia, "está se dirigindo realmente do mercado europeu ao mercado chinês", destacou o analista russo Alexander Gabuiev.
Ao mesmo tempo, a China se tornou um "investidor muito importante" na economia chinesa e mantém financiamento público e privado na Rússia, lembrou o analista à AFP.
De uma perspectiva política, a aproximação dos dois países parece revelar coincidências.
"As posições de Rússia e China são muito próximas ou coincidem completamente na maioria dos assuntos internacionais", disse Ushakov.
As relações russo-americanas estão seriamente afetadas pelas acusações de ingerência eleitoral e vários desacordos sobre o desarmamento. Enquanto isso, China e Estados Unidos estão confrontados em uma interminável guerra comercial.
Neste quadro, em suas conversas, Xi e Putin se propõem a "reafirmar seu apoio mútuo (...) e assegurar que os laços sino-russos não serão afetados pelas mudanças na situação internacional", antecipou o vice-ministro chinês de Relações Exteriores, Zhang Hanhui.