A economia brasileira registrou uma retração de 0,2% no primeiro trimestre de 2019 na comparação com o quarto trimestre do ano passado, o primeiro resultado negativo desde o fim de 2016, de acordo com dados oficiais publicados nesta quinta-feira (30) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O Produto Interno Bruto (PIB) foi afetado principalmente pela queda dos investimentos de capital fixo (-1,7%), da indústria (-0,7%) e da agropecuária (-0,5%), informou o IBGE.
Tiveram resultados positivo no setor de serviços (+0,2%), consumo das famílias (+0,3%) e compras governamentais (+0,4%).
Embora o resultado fosse esperado, ele desperta preocupações, já que a economia do país ainda sente os efeitos da recessão de 2015-2016, com crescimento fraco nos dois anos seguintes (+1,1%) e mais de 13 milhões de desempregados contabilizados pelo mesmo instituto.
A economia agora corre risco de entrar em recessão - definida por dois trimestres consecutivos de retração em relação ao período imediatamente anterior.
Comparado a igual período de 2018, o PIB avançou 0,5%, seu pior resultado desde os primeiros três meses de 2017.
No acumulado de 12 meses, o índice marca um crescimento de 0,9%, confirmando a anemia da atividade econômica, que já levou o governo a reduzir suas previsões de crescimento para 2019, de 2,5% para 1,6%. O mercado prevê uma expansão inferior, de 1,2% - e essa tendência não parece que será freada.
O economista André Perfeito, da consultoria Necton, projetava crescimento de 0,9%, mas após a divulgação dos dados anunciou que a estimativa deve ser revista para baixo nos próximos dias.
- Dificuldades políticas -
Os analistas enumeram vários fatores que afetaram a economia este ano, como a ruptura em janeiro da barragem de Brumadinho, que deixou 245 mortos e 25 desaparecidos e provocou a contração de 6,3% das atividades extrativistas no primeiro trimestre.
Também apontam para uma retração das exportações de 1,9% no primeiro trimestre contra o último de 2018, em um contexto de guerra comercial entre a China e os Estados Unidos.
Mas destacam, sobretudo, a frustração provocada pelos atrasos na aprovação das reformas prometidas, particularmente a do sistema Previdenciário.
Nos cinco meses deste ano, o governo se viu mergulhado em polêmicas com seus próprios aliados, o que atrasou a tramitação dessas reformas e prejudicaram a confiança dos mercados.
"Teve um problema da novidade no governo, e um pouco de inexperiência no contato com o Congresso", afirma Jason Vieira, da Infinity Assets.
Analistas de mercado, no entanto, ainda estão apostando em uma mudança de dinâmica no caso de as reformas finalmente acontecerem, especialmente a da Previdência.
A desaceleração da atividade econômica aumentou a pressão sobre o Banco Central (BC) para reduzir a taxa básica de juros, a Selic, atualmente em seu mínimo histórico, de 6,5%, a fim de incentivar o investimento e o consumo.
Contudo, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, descartou nesta quarta-feira essa possibilidade, lembrando que a principal função da instituição é manter a inflação controlada.
"Temos, sim, preocupação com o crescimento econômico e achamos que a melhor forma de colaborar com isso é entregarmos a inflação na meta. Não queremos cair na tentação de tolerar inflação mais alta em troca de crescimento", declarou.