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Estado de Minas

Onde está Salvator Mundi, quadro de Da Vinci, o mais caro do mundo?

Enigma intriga o mundo das artes; pintura retrata Cristo bendizendo o mundo com uma mão, enquanto a outra segura esfera transparente


postado em 30/04/2019 08:50 / atualizado em 30/04/2019 09:32

(foto: Wikimedia Commons)
(foto: Wikimedia Commons)

Onde está o quadro mais caro do mundo? "Salvator Mundi" de Leonardo da Vinci, leiloado por 450 milhões de dólares em 2017, tem seu paradeiro desconhecido 500 anos após a morte do gênio italiano.


O quadro de 65x45 cm, em que Cristo é retratado bendizendo com uma mão o mundo, enquanto a outra segura uma esfera transparente, seria exposto em setembro do ano passado no museu do Louvre de Abu Dhabi, parceiro da famosa galeria parisiense homônima.


Mas o museu anunciou que a exposição da pintura seria adiada, sem dar outras explicações.


O Louvre da capital francesa organiza este ano uma grande retrospectiva de Leonardo da Vinci, para a qual desejava expor a obra. "O Louvre solicitou ao Ministério da Cultura e do Turismo de Abu Dhabi o empréstimo do quadro", confirmou o museu à AFP. "Mas ainda não obtivemos resposta", acrescentou.


Não há informações oficiais sobre quem comprou a obra.


Segundo The Wall Street Journal, o comprador seria o príncipe saudita Badr bin Abdallah, que teria atuado em nome do poderoso príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohamed bin Salman (MBS), que nunca confirmou nem desmentiu essa informação.


Para a Artprice, líder mundial de bases de dados sobre cotação de arte, os ulemas (teólogos) da universidade Al Azhar do Cairo recomendaram que MBS não exibisse o quadro por questões religiosas, uma vez que representa Jesus como o salvador do mundo, como Deus, cuja representação é impossível para o Islã.


Outras fontes, incluindo historiadores, compartilham esta opinião.


Paternidade questionada


O Ministério da Cultura e do Turismo dos Emirados não quis responder às perguntas da AFP e limitou-se a garantir que é "dono" do quadro.


O Conselho Internacional de Museus, que registra o depósito de obras nos museus, também não quis confirmar nem negar se um procedimento entre o Louvre de Abu Dhabi e o proprietário de "Salvator Mundi" para formalizar o depósito foi feito.


Os especialistas estão divididos sobre a localização atual da pintura. Alguns falam do depósito do Louvre em Abu Dhabi, mas outros consideram que nunca chegou até lá.


Esse mistério se soma às dúvidas já existentes sobre a autoria do trabalho, que poderia ter sido realizado por discípulos de Da Vinci, e não pelo mestre.


"Alguns detalhes não enganam", como a má execução de um dedo - "a rotação do dedo médio", "anatomicamente impossível" - sendo Da Vinci um grande conhecedor do corpo humano, explica Jacques Franck, especialista da técnica pictórica do gênio italiano.


"Na época em que o quadro foi pintado (por volta de 1500) Leonardo da Vinci fazia seu estúdio executar suas obras, uma vez que tinha muito pouco tempo", acrescenta.


Daniel Salvatore Schiffer, filósofo da arte e grande conhecedor desta questão, também "nega" a "paternidade da pintura". "Quando se analisa em detalhes, nada é de Leonardo", diz ele.


Além disso, "Salvator Mundi nunca é mencionado na correspondência de Leonardo da Vinci" ou na de seus contemporâneos, explica ele.


"Da Vinci é o autor"


Esta polêmica, surgida há mais de um século, voltou recentemente com o lançamento do livro "The Last Leonardo", do historiador da arte inglês Ben Lewis. Nele, o autor assegura que a National Gallery de Londres, que expôs a obra em 2011, não levou em conta a opinião de cinco especialistas consultados para autentificar o quadro.


Dois emitiram um "veredito favorável", outro se opôs e os dois restantes não se pronunciaram. Por essa razão, a obra foi identificada como uma criação autêntica de Leonardo da Vinci, explicou Ben Lewis à AFP.


Contudo, a National Gallery nunca mencionou as dúvidas sobre a autenticidade da obra.


"Foi complicado vendê-la, muitos museus não acreditaram no trabalho dos peritos", já que a obra "estava em más condições", acrescentou.


Dianne Modestini, restauradora do quadro, não entende "a polêmica" e assegura que "Da Vinci o pintou".


"Quando me pediram para fazer a restauração não sabia quem havia pintado o quadro, apenas que era um grande artista", explicou à AFP a especialista americana, que lembra que quando examinou a pintura pela primeira vez, em abril de 2005, "estava em um estado lamentável, muito deteriorada".


As dúvidas sobre a autoria teriam "levado o dono da pintura" a não expô-la "até que os especialistas de Leonardo entrassem em acordo", segundo Franck.


"Se o Louvre não recebeu resposta, [...] a obra não será exibida", prevê, considerando que se trata de uma "questão geopolítica".


O Louvre poderia "manchar sua credibilidade e reputação" ao endossar uma obra sobre a qual ainda há dúvidas, considera Schiffer.


O Louvre de Abu Dhabi foi inaugurado em novembro de 2017 pelo presidente francês, Emmanuel Macron, e pelo homem forte dos EAU, o xeque Mohamed bin Zayed al Nahyan.


A parceria entre os dois países prevê que Paris contribua com seus conhecimentos, empreste obras de arte e organize exposições temporárias por 1 bilhão de euros. Apenas a concessão do nome 'Louvre' até 2037 aportou 400 milhões de euros para o museu parisiense.


Mas a credibilidade da Christie's, a casa que organizou o leilão, também está em jogo, dizem os especialistas.


"Conduzimos investigações exaustivas que levaram à atribuição desta pintura em 2010. Nenhuma discussão ou nova especulação desde a venda de 2017 levou-nos a rever esta posição", disse à AFP um porta-voz da casa de leilões.


E sem resolver o mistério sobre a localização atual da famosa pintura, limitou-se a confirmar que o trabalho foi "transferido com sucesso" para seus "novos proprietários".


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