As forças leais ao líder rebelde Khalifa Haftar mantinham neste sábado (6) sua ofensiva rumo à capital líbia sem dar ouvidos aos apelos da comunidade internacional para cessarem as hostilidades.
O avanço do Exército Nacional Líbio (ENL), comandado pelo marechal Haftar, foi contido pelas operações das forças leais à autoridade rival, o Governo de União Nacional (GNA), reconhecido pela comunidade internacional e com sede em Trípoli, que tenta frear a ofensiva lançada na quinta-feira.
No sábado, as milícias do GNA lançaram pelo menos um ataque aéreo contra uma posição do ENL 50 km ao sul de Trípoli, na região de Al Aziziya, indicaram os combatentes de Haftar.
As milícias do GNA confirmaram estes ataques "intensos" contra o ENL.
Em terra, os combates entre os dois beligerantes se intensificam no sul da capital.
Pelo menos um grupo armado de Misrata, ao leste de Trípoli, a "brigada 166", chegou ao leste da capital para participar da contraofensiva, constatou a AFP.
"Esperamos ordens para repelir todo avanço do inimigo rumo a Trípoli", declarou à AFP o porta-voz deste grupo, Khaled Abu Jazia.
Dezenas de caminhonetes armadas com canhões antiaéreos se reuniram em Tajura, em um subúrbio leste de Trípoli, constatou a AFP.
- A Rússia pede um 'diálogo inclusivo' -
Desde a deposição, em 2011, de Muammar Kadhafi, a Líbia está mergulhada no caos. O país tem muitas milícias que disputam regiões e duas autoridades rivais, o GNA, e no leste do país o ENL.
Esta nova escalada ocorre antes de uma Conferência Nacional, auspiciada pela ONU, prevista para meados de abril em Gadamés, sudoeste do país, para esboçar um "mapa do caminho" para tirar o país do caos, com eleições incluídas.
O enviado da ONU para a Líbia, Ghassan Salamé, disse no sábado que a conferência se mantém, apesar da ofensiva de Haftar contra Trípoli.
"Estamos determinados a organizar" esta conferência "na data prevista", de 14 a 16 de abril, "salvo que circunstâncias de força maior o impeçam", disse Salamé em coletiva de imprensa em Trípoli.
O chanceler russo, Serguei Lavrov, pediu um "diálogo inclusivo" e "sem os prazos artificiais que alguns tentam impor (aos líbios) a partir do exterior", sem informar a que prazo se referia.
Analistas avaliam que a conferência não faz mais sentido. "Já significava pouco antes da ofensiva de Haftar. Agora significa ainda menos", disse Khalel Harshaui, pesquisador do Instituto Clingendael de Haia.
Ao deixar o país na sexta-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, expressou sua "profunda inquietação" com a situação.
Guterres se reuniu na quinta-feira em Trípoli com o chefe do GNA, Fayez al Sarraj, e na sexta-feira com o marechal Haftar em Benghazi (leste).
- 'Avanço maldito' -
Na quinta-feira, Haftar ordenou às suas forças avançar em direção a Trípoli. "Chegou a hora", disse em mensagem de áudio, prometendo não causar danos aos civis, às "instituições do Estado" e aos estrangeiros.
A força de proteção de Trípoli anunciou imediatamente uma contra-ofensiva e os poderosos grupos armados de Misrata se declararam "dispostos a frear o avanço maldito" de Haftar.
As forças do ENL recuaram alguns quilômetros na noite de sexta-feira devido à contra-ofensiva, depois de tomar brevemente o aeroporto internacional de Trípoli, ao sul da cidade, que não é usado desde que foi destruído em combates, em 2014.
Esta escalada da violência inquieta a população civil de Trípoli, embora o centro da cidade não pareça alterado, constatou a AFP.
Os civis, no entanto, foram às lojas para estocar comida e combustível.
"Por precaução, devemos armazenar tudo o que é necessário, pois não sabemos nunca o que pode acontecer", disse Farida à AFP, enquanto fazia compras em um supermercado no centro da capital.
Os ministros das Relações Exteriores dos sete membros do G7, grupo de países mais industrializados do mundo, se reuniram na sexta-feira na França e exortaram todos os atores a frear "imediatamente" todos "os movimentos militares rumo a Trípoli".
"Não há solução militar para o conflito líbio", destacaram os chanceleres de Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Reino Unido, Itália e Japão.