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Estado de Minas

Pablo Escobar, um legado obscuro que resiste em morrer


postado em 02/12/2018 11:47

Enquanto no bairro Pablo Escobar os moradores preparam emocionadas homenagens ao homem que lhes deu as casas onde vivem, a prefeitura de Medellín finaliza os detalhes para derrubar o que foi a residência do narcotraficante mais temido do mundo.

Vinte e cinco anos depois da morte de Escobar, o esqueleto mal cuidado do edifício Mónaco fica de pé pela última vez, após resistir a um explosão em 1988 do primeiro carro-bomba detonado no país, o que originou uma violenta guerra entre cartéis.

Ícone da opulência e do poder da máfia colombiana, os oito andares abandonados do bunker que protegeu a família do narcotraficante nos anos 1990 cairão em um espetáculo aberto ao público em fevereiro do ano que vem.

"O Mónaco se tornou um 'antisímbolo', um lugar onde se faz apologia ao crime, ao terrorismo (...) Mais do que demolir um edifício, é demolir uma estrutura mental", disse à AFP Manuel Villa, secretário particular da prefeitura de Medellín.

Todos os dias, turistas visitam o fortim construído em El Poblado, um dos bairros mais exclusivos da cidade. Nos "narcotours", estrangeiros e locais observam, deslumbrados, o que em poucos meses será um parque dedicado às milhares de vítimas do narcoterrorismo dos anos 1980 e 1990.

Há 25 anos, em 2 de dezembro de 1993, os meios de comunicação revelavam a imagem do corpo de Pablo Escobar, estirado em um telhado e rodeado de policiais sorridentes, que exibiam seu cadáver como um troféu.

Desde então, o aniversário de sua morte divide a sociedade entre o repúdio e a admiração, a dor e a gratidão.

- Os sobreviventes -

Ángela Zuluaga não chegou a conhecer seu pai. Estava na barriga de sua mãe quando, em outubro de 1986, pistoleiros atacaram o carro onde estava a família. Mataram a tiros o juiz Gustavo Zuluaga e deixaram sua esposa ferida.

A razão: o traficante o sentenciou à morte por ter ditado uma ordem de captura contra ele e seu primo Gustavo Gaviria. Embora tenha recebido ameaças e tentativas de suborno por três anos, Zuluaga afirmou que preferia "morrer a fraquejar".

Para os Zuluaga, demolir o edifício Mónaco é combater "a cultura do tráfico" e dar espaço aos que foram calados pela ficção.

"Ter um espaço para lembrar é ter um espaço para tentar ressarcir, simbolicamente, os que são vítimas deste flagelo do narcoterrorismo", diz Ángela.

Entre 1983 e 1994 houve 46.612 mortes violentas pela guerra dos traficantes colombianos, segundo a prefeitura de Medellín.

- Os defensores -

Luz María Escobar troca a lápide de seu irmão no cemitério Jardines Montesacro, na cidade que foi fortim do traficante. Ela redigiu a inscrição que o acompanhará a partir deste aniversário. Em meio às lágrimas, lê em voz alta para um grupo de turistas.

"Para além da lenda que hoje simbolizas / poucos conhecem a verdadeira essência de sua vida", recita. Uma jovem de Porto Rico, comovida, pergunta se pode abraçá-la.

Para Luz María, apesar de seu irmão ter cometido muitos erros, seu lar deve continuar de pé. "A história de Pablo, derrubando o edifício Mónaco, não vai ser derrubada", confessa a caçula dos Escobar Gaviria.

Contudo, a prefeitura tem enfatizado a inviabilidade do seu pedido. O custo da remodelação e adequação do imóvel supera os 11 milhões de dólares; derrubá-lo e construir o parque custa cerca de 2,5 milhões.

- Pablo, o 'herói' -

Os moradores do bairro Pablo Escobar vivem esta data com nostalgia. O "Robin Hood colombiano" os tirou do lixão de Medellín onde sobreviviam e lhes deu casas, 443 no total, em uma montanha da cidade.

"Para mim, primeiro Deus e segundo, ele. O vejo como se fosse um segundo deus", diz María Eugenia Castaño, uma dona de casa de 44 anos, enquanto acende uma vela no pequeno altar decorado com uma fotografia do traficante.

Yamile Zapata trabalha no salão de cabeleireiro El Patrón, um pequeno estabelecimento dedicado à beleza e ao marketing em torno da imagem de Escobar.

"Pablo confunde você. Se você se basear no que era bom, ele era muito bom. Se procurar o mal, ele era muito mal", diz Yamile, amiga de Juan Pablo Escobar, ou Sebastián Marroquín, como é conhecido o filho do chefe do extinto Cartel de Medellín.

Levará entre três e quatro segundos para o edifício Mónaco se transformar em escombros. Sua estrutura extravagante mostra a vontade de Escobar de ascender socialmente.

"Irá doer (...), mas vai ser a única forma de nós começarmos a curar uma ferida", afirma Villa, que em poucos meses estará diante da contagem regressiva da implosão.


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