Um político texano, conhecido apenas por seu nome de batismo, agita a política americana. É Beto O'Rourke, um democrata que desafia a hegemonia republicana no Texas com uma campanha a favor da igualdade com a qual pretende conquistar para seu partido uma cadeira no Senado nas legislativas de 6 de novembro.
Mas o congressista alto e magro, muito popular entre os jovens por seu passado como cantor de punk rock, enfrenta o enorme desafio de enfrentar em seu reduto o senador conservador Ted Cruz, em uma campanha com a qual quer convencer também o restante dos Estados Unidos de que o Partido Republicano do presidente Donald Trump não merece controlar o Congresso.
Quando Beto O'Rourke, de 45 anos, chega aos comícios, é recebido com uma aclamação ensurdecedora, agitando cartazes que dizem "Acredita, Beto". Os pedidos para selfies são constantes.
Parece quase impróprio de um lugar como o Texas, estado do sul dos Estados Unidos, na fronteira com o México, um reduto republicano que nenhum democrata representou no Senado em meio século.
Mas Beto pode conseguir o impossível.
O dinheiro continua enchendo os cofres de sua campanha e estes recursos não vêm de grandes empresas, nem de grupos de pressão, garante o aspirante.
Seus comícios atraem multidões e nas pesquisas aparece ombro a ombro com Cruz para as eleições em que os americanos vão renovar um terço do Senado e toda a Câmara de Representantes.
Perguntado pela AFP sobre os questionamentos de que ele não refletiria os valores do Texas, o candidato diz ter um bom pressentimento.
"Eu tenho uma boa ideia sobre quem somos e nós não somos pessoas que tomam as decisões baseadas no medo", disse. "Nós não temos medo do futuro", acrescentou o candidato.
- Ombro a ombro -
Eleito para a Câmara dos Representantes em 2013, em seus discursos Beto defende um sistema de saúde universal, critica a Justiça que às vezes é arbitrária com as minorias e ataca a política migratória de Trump, que separou centenas de crianças de seus dos pais.
Mas a pergunta de se a mensagem de O'Rourke realmente faz eco no eleitor texano só será respondida em novembro.
Nas grandes cidades do Texas, a maioria vota nos democratas. Mas o restante deste imenso estado é formado por pequenas aglomerações e territórios rurais, onde se honra as tradições e Cruz soube se manter apegado a elas.
Beto é "muito inteligente e um bom orador, mas é tão terrivelmente progressista", advertiu o executivo imobiliário James Griffith, de 74 anos, enquanto assiste a um rodeio na cidade de Abilene.
"É socialista até a medula", emendou à AFP Winston Ohlhausen, presidente do Partido Republicano do condado de Taylor. Para Ohlhausen, de 78 anos, os democratas não compartilham os "valores texanos".
"Ele é favorável às cidades santuário, contra o muro na fronteira, a favor do aborto", acrescentou.
As pesquisas mostram que a disputa será apertada no Texas, mas também no Arizona, em Nevada e no Tennessee, onde os republicanos defendem um assento que já têm.
As cadeiras democratas também estão em risco, mas segundo especialistas o pêndulo da política americana poderia se inclinar para os democratas, identificados com a cor azul, contra os republicanos, pela cor vermelha.
As mudanças demográficas, inclusive os filhos de imigrantes latinos que chegam à maioridade, poderiam mudar o tom político no Texas. Beto fala espanhol fluente.
A voz de Beto ecoou no estado da bandeira da estrela solitária.
"Eu não acho que o Texas seja o estado exclusivamente vermelho que já foi no passado", disse Caroline Korst, uma funcionária de escritório de 23 anos em um comício de O'Rourke na cidade de Plano.
- Complacência -
Mas a ameaça para Cruz cresce tanto que Trump anunciou que tem planos para apoiar sua campanha.
"É perigo é que a economia está crescendo, as pessoas estão concentradas em seus trabalhos ou em seus filhos ou em ir para a igreja e não vão votar", disse Cruz na cidade de Columbus. "Nosso perigo é a complacência", advertiu.
Os democratas têm "o vento de popa e isso me inquieta", admitiu Matt Mackowiak, estrategista republicano da capital do Texas, Austin.
Mas a frágil participação endêmica neste estado, que é particularmente baixa nas legislativas, também poderia afetar os democratas, explicou James Henson, da Universidade de Austin.
"Vai ser difícil para eles romperem com o monopólio republicano, e isso também vale para O'Rourke", advertiu.