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Estado de Minas

Guilherme Boulos, o líder dos sem-teto que quer chegar à Presidência


postado em 06/06/2018 09:00

Aos 35 anos, Guilherme Boulos sonha em chegar à Presidência unindo movimentos sociais como candidato do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), da vereadora Marielle Franco, assassinada em março no região central do Rio de Janeiro.

Pré-candidato mais jovem às eleições de outubro, ele entra na disputa com uma trajetória marcada por contrastes: professor universitário, formado em Filosofia e Psicanálise, tornou-se coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).

E, embora tenha apenas 1% das intenções de voto, recebeu um forte apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que em seu último discurso em São Bernardo do Campo, antes de ir para a prisão, em Curitiba, disse-lhe, "Você tem futuro, meu irmão", aconselhando-o a "não desistir nunca".

Boulos tem como companheira de chapa Sônia Guajajara, uma líder indígena da região amazônica.

Filho de médicos, sensibilizou-se com a luta pelo direito à moradia e, antes de completar 20 anos, se instalou em uma ocupação do MTST em São Paulo, onde nasceu.

"Algo que me incomodava muito até da esquerda, de setores da esquerda, era falar em nome do povo, defender as bandeiras do povo, mas não se dispor a escutar ao povo, a estar junto das pessoas, a viver com as pessoas", disse o pré-candidato em entrevista à AFP.

"As desigualdades sociais no Brasil são gritantes e elas se apresentam para quem quiser ver em cada esquina (...) Comecei a me incomodar com isso e atuar em relação a isso", explicou em seu comando de sua pré-campanha em um bairro de classe média da capital paulista.

Em um escritório pequeno de uma casa de dois andares, um par de escrivaninhas acumulam pilhas de papéis. Destacam-se adesivos exigindo justiça pelo assassinato de Marielle Franco.

Segundo Boulos, este crime, sem solução até agora, foi "a expressão dramática" do aumento da "violência política, da intolerância, do ódio" no Brasil atual.

Uma espiral que, detalhou, inclui a destituição em 2016 por "um golpe parlamentar" da presidente Dilma Rousseff, sua substituição pelo presidente Michel Temer, um governo "com retrocesso em direitos sociais e democráticos", a condenação "política" de Lula e a "ascensão de ideias de extrema direita".

Este cenário "nos levou a entrar nessa disputa pelos rumos do país", explica.

Boulos afirma que usará sua campanha para impulsionar sua bandeira pela moradia. "O que deveria espantar não é que as pessoas se mobilizem para ocupar, senão que em pleno século XXI, em 2018, a gente tenha 6 milhões e 300 mil famílias sem moradia no Brasil".

- Desafiar tabus e privilégios -

Boulos argumenta que os altos índices de abstenção ou votos nulos nas pesquisas indicam "uma insatisfação na maneira como está o sistema político, mas não significa que eles [os eleitores] estão descrentes e jogaram a toalha".

Perguntado sobre a bênção política de Lula, Boulos sorriu com timidez, rejeitando a denominação de "herdeiro", dada pela imprensa, e relativizou o apoio recebido do ex-presidente, considerando-o um reconhecimento coletivo.

"Lula expressou um reconhecimento em relação à luta que nós temos feito pelos direitos sociais no Brasil e por democracia", disse.

"Uma campanha tem que servir para elevar o nível de consciência política da sociedade; para ganhar também, essa não é uma campanha para marcar posição", garantiu.

A baixa intenção de votos atribuída a ele nas pesquisas, explicou, se deve a que "ninguém pode votar em alguém que não sabe quem é".

Boulos sabe que precisará fazer campanha com recursos modestos.

"É uma batalha de Davi contra Golias, mas é muito possível porque as pessoas aqui estão cansadas desse jeito de fazer política. Não é uma candidatura com rabo preso, nem medo de enfrentar privilégios e tabus (aborto, racismo, diversidade sexual, segurança pública) a partir de um foco diferente", afirmou.

Mas esclareceu não ter a pretensão de governar para todos. "Não dá para ficar bem com todo mundo no Brasil. Não dá para fazer a política da média. Nós precisamos tomar lado e enfrentar privilégios".

Ele lamentou que o PT, de Lula, não tenha aproveitado a oportunidade de 13 anos no poder para impulsionar uma reforma política "que pudesse mudar a forma como se governa no Brasil".

"Faltou apostar numa mobilização da sociedade, apostar em que se se colocam as decisões nas mãos do povo, este poderia pressionar o Congresso" para levar adiante as reformas necessárias. "Isso é democracia", afirmou.

Sobre a Venezuela, avaliou que o Brasil deve agir como mediador, sem se alinhar às críticas dos Estados Unidos. "A subordinação do Brasil aos EUA (...) afeta muito mais o povo brasileiro do que todo o debate da Venezuela", declarou.


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