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Estado de Minas

Acerto de contas na região iraquiana de Al Anbar antes das eleições


postado em 10/05/2018 11:00

Na província sunita de Al Anbar, onde os extremistas do grupo Estado Islâmico (EI) fizeram sua primeira aparição no Iraque, chegou a hora de acertar as contas, com vistas às eleições legislativas de 12 de maio.

Para muitos dos novos candidatos, o objetivo é tomar o assento dos deputados em fim de mandato que, segundo eles, simpatizaram com o grupo EI ou, pelo menos, subestimaram o risco que os extremistas representavam para o país, ao qual fizeram mergulhar em um sangrento conflito desde 2014.

"A classe política que estava antes do Daesh [acrônimo em árabe para o EI] perdeu a credibilidade", afirmou Rafea Al Fahdawi, líder da lista Al Nasr, conduzida em nível nacional pelo primeiro-ministro, Haider Al Abadi.

"[A classe política] fez as pessoas acreditarem que os terroristas não eram mais que simples rebeldes das nossas tribos. O povo iraquiano os punirá nas urnas", acrescentou este homem, que foi líder das "tribos contra o terrorismo", uma coalizão que combateu os jihadistas nesta província ocidental.

No extenso jardim de sua casa, em Ramadi, foram erguidas tendas para os moradores que foram ouvir o chefe de governo durante a campanha.

"Combatemos o terrorismo e hoje, graças à nossa candidatura, queremos terminar a guerra confessional [entre sunitas e xiitas]", afirmou Al Fahwadi, de 62 anos, vestindo a tradicional túnica branca usada pelos homens.

- Febre eleitoral -

A "batalha de Al Anbar" começou no fim de 2013 com uma insurreição de tribos sunitas contra o governo, dominado pelos xiitas. Em janeiro de 2014, Fallujah caiu nas mãos dos extremistas e em maio de 2015, após mais de um ano de combates, Ramadi foi conquistada pelo grupo EI.

O exército iraquiano e os paramilitares das Forças de Mobilização Popular recuperaram estas cidades em 2016 e no final de 2017 já controlavam o conjunto da província.

As Forças de Mobilização Popular, constituídas em 2014 a instâncias do líder espiritual da comunidade xiita, o aiatolá Ali Sistani, tiveram um papel-chave para contrabalançar a ofensiva do grupo EI.

Na província de Al Anbar, onde as tribos têm um peso considerável, 352 candidatos competem em 18 listas por 15 assentos. Deles, um quarto é de novos aspirantes, principalmente jovens e mulheres, segundo a comissão eleitoral.

O desejo de mudança é forte na região, tão grande quanto a decepção com a classe política.

"O povo iraquiano em geral aspira a uma mudança total e radical e não aceitaremos ver as mesmas cabeças apresentando novos lemas para serem eleitas", afirma o xeque Mohamed Al Nimrawi, um dos líderes das tribos de Khalidiya, localidade a 10 km de Ramadi.

Em uma demonstração dessa mudança, uma febre eleitoral tomou conta de toda a província, onde as campanhas das eleições anteriores passavam quase despercebidas, quando não eram realizadas clandestinamente, pois os jihadistas costumavam ameaçar os candidatos e atentar contra as seções eleitorais.

E embora o grupo EI tenha voltado a ameaçar os sunitas que participam das eleições, cartazes são vistos por todos os lados e os candidatos abriram escritórios para receber os eleitores, algo nunca visto.

E, o que é ainda mais surpreendente, há inclusive uma lista da Al Fatah, chefiada por Hadi Al Ameri, a quem muitos sunitas viam até a pouco como uma abominação, pois combateu junto com o Irã na guerra com o Iraque (1980-1988) e foi acusado de ter iniciado os esquadrões da morte contra sunitas no pior momento das tensões confessionais, há dez anos.

- Retorno do sentimento nacional? -

"O momento da mudança chegou. Al Anbar assistirá a uma revolução social e política e elegerá os homens que puderem conduzir o barco para a segurança, pois esta província emergiu de uma guerra feroz", assegurou Jalaf Al Jeblawi, candidato nesta lista, destacando o importante papel das Forças de Mobilização Popular na batalha.

Pois o fato de ter concentrado a atenção no combate ao EI talvez tenha ajudado a deixar em segundo plano o conflito entre sunitas e xiitas.

"As tensões confessionais são um conflito do passado. Isso não quer dizer que as identidades confessionais tenham desaparecido, mas o confessionalismo não se percebe como a ameaça existencial", afirmou Fanar Haddad, pesquisador associado no Instituto do Oriente Médio da Universidade de Singapura.

"Após a derrota do Daesh, é possível que assistamos ao retorno do sentimento nacional e um relativo declínio do reflexo pavloviano consistente de se posicionar confessionalmente", avaliou Karim Bitar, do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS), de Paris.


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