O jóquei brasileiro Jorge Ricardo ganhou a 12.844ª corrida no hipódromo do Rio de Janeiro, na segunda-feira (5), igualando o recorde mundial de seu eterno rival canadense, Russell Baze.
Os dois conquistaram mais vitórias do que qualquer outro jóquei ao redor do mundo, alternando o primeiro lugar durante anos.
Quando Baze se aposentou, em 2016, deixou o caminho aberto para Jorge alcançá-lo. O brasileiro colocou à prova seu castigado corpo, que segue resistindo às difíceis corridas sobre cavalo.
O duelo entre Jorge e Baze foi intenso. Durante 15 anos, um foi a sombra do outro: quando um alcançava a marca de 10.000 corridas primeiro, o outro superava as 11.000 vitórias e mantinha viva a rivalidade.
"Acho que tivemos uma conexão", disse Jorge. "Ele sabia sobre as corridas que eu vencia aqui e eu sempre olhava quando ele ganhava lá. Era uma simbiose", acrescentou.
Mas os adversários se reuniram poucas vezes em uma mesma corrida, incluindo disputa cabeça a cabeça no Brasil em 2014, vencida por Jorge.
A rivalidade se tornou guerra de resistência, não apenas contra o adversário mas contra a idade.
"É uma profissão muito arriscada. Você luta com seu corpo e algumas vezes tem sorte, outras não", afirmou.
- Vencedor -
Na noite de segunda-feira, Jorge finalmente conquistou seu objetivo na sexta corrida, provocando um pequeno tumulto entre torcedores, familiares e jornalistas aos redor do cavalo Jubileia.
Jorge, que mora na Argentina, disse que quer quebrar o recorde no país vizinho para satisfazer seus fãs locais.
Ainda assim, para um homem que corre sem parar e raramente descansa, conquistar outra vitória pode ser mera formalidade. O verdadeiro desafio já foi alcançado.
"Esperei muito por isso e finalmente consegui", disse em lágrimas.
Como Jorge e Baze são os únicos jóqueis no mundo que ganharam mais de 10.000 corridas, é pouco provável que alguém o supere nos próximos anos.
Perguntado sobre os acidentes sofridos na carreira, Jorge lembra os ossos quebrados: pescoço, úmero, maxilar, costas, cotovelo, dedos, costelas... Além dos golpes, Jorge admite que 56 anos "não é uma idade normal para um jóquei".
- Aposentadoria -
Para além da exigência física, existe o desgaste emocional de uma vida ao extremo.
A esposa Renata Teixeira, 42 anos, diz que o recordista é um pai carinhoso, mas "ausente", e que os filhos "se orgulham e sentem saudades". Ela nunca assiste as corridas ao vivo "porque fico muito nervosa" e quero que se aposente.
Mas o atleta parece não escutar o conselho: "cada vez que ele vence, fica mais excitado. Fica pior", disse Renata à AFP. "Não acho que vai parar, não", acrescentou.
A quebra de recordes pode ser o momento ideal para se aposentar, mas não existem sinais de que Ricardo queira seguir o caminho natural após tantas vitórias. Perguntado sobre o assunto depois de igualar a marca na segunda-feira, Ricardo parou de chorar, sorriu e respondeu: "é algo que ainda não passa pela minha cabeça".