A União Europeia e o Reino Unido não conseguiram alcançar, nesta segunda-feira (4), um acordo para encerrar a última fase de suas negociações de separação, durante um encontro em Bruxelas, mas disseram estar "confiantes" de que alcançarão um consenso até o fim desta semana.
A primeira-ministra britânica, Theresa May, e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, não chegaram a uma resolução, mas conseguiram fazer avanços encorajadores sobre a questão da fronteira irlandesa.
A UE exige conclusões acerca de questões fundamentais da separação - a fatura a ser paga pela, o futuro dos cidadãos europeus após o Brexit e a questão da fronteira irlandesa - para permitir o início das discussões sobre as relações comerciais e o período de transição, na cúpula de 15 de dezembro.
"Apesar de nossos melhores esforços e dos avanços significativos que nós e nossas equipes fizeram nos últimos dias sobre os problemas remanescentes da saída, não foi possível chegar a um acordo completo hoje", disse Juncker em uma entrevista coletiva ao lado de May.
"Isso não é um fracasso. Estou muito confiante de que vamos alcançar um acordo ao longo desta semana".
Juncker, ex-primeiro-ministro de Luxemburgo, disse que May é "uma negociadora dura e nada fácil".
May disse que ainda há "algumas questões".
"Mas nós vamos nos reencontrar antes do fim desta semana, e eu também estou confiante de que vamos concluir isso bem", disse May.
- 'Se aproximando' -
O anúncio do fracasso do acordo aconteceu horas após depois de Tusk ter demonstrado otimismo e dito que UE e Reino Unido "estão se aproximando" de um acerto, após um encontro "encorajador" com o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar.
Tusk deve voltar a encontrar May em Bruxelas e cancelou uma viagem ao Oriente Médio devido às negociações "cruciais".
A emissora irlandesa RTE e o Financial Times reportaram que a Grã-Bretanha iria manter as regras aduaneiras e de mercado único da UE para a Irlanda do Norte, a fim de atender a um pedido insistente de Dublin de que o Brexit não traga de volta uma "fronteira dura", ameaçando um processo de paz que deu fim a décadas de tensões separatistas.
O primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, demonstrou sua decepção pelo recuo. "Estou surpreso e decepcionado que o governo britânico não pareça estar em condições de concluir o que tinha sido acordado antes", disse Varadkar em uma entrevista coletiva em Dublin.
Conforme os rumores ganharam força, os sindicalistas - fieis a Londres - da Irlanda do Norte protestaram contra um possível acordo nesses termos, porque aproximaria a província de Dublin, afastando-a do resto do Reino Unido.
Os unionistas do norte-irlandeses apoiam o governo de Theresa May no Parlamento.
"Não aceitamos nenhuma forma de divergência regulatória que separe a Irlanda do Norte econômica ou politicamente do Reino Unido", disse Arlene Foster, líder sindicalista da Irlanda do Norte.
- Fatura e direitos dos cidadãos -
A UE exigiu "avanços suficientes" da Grã-Bretanha acerca da fatura de saída, dos direitos dos cidadãos e da Irlanda para que os 27 iniciem a segunda fase de negociações, que inclui a futura relação de UE e Londres, especialmente no setor comercial.
O fracasso para alcançá-los ainda neste mês poderia fazer a UE "repensar" se um acordo geral de saída sequer é possível, alertou Tusk, trazendo a perspectiva de uma saída caótica, com efeitos econômicos de larga escala.
De acordo com alguns veículos da imprensa, já haveria um acordo sobre a fatura do divórcio, entre 45 bilhões e 55 bilhões de euros.
A informação foi negada pelas duas partes, mas Londres "apresentou propostas muito próximas das demandas dos 27 Estados-membros", admitiu o comissário europeu, Phil Hogan.
Um acordo acerca da terceira questão, a dos direitos dos mais de 3 milhões de cidadãos europeus no Reino Unido, se aproxima, mas ainda não está certo. O Parlamento Europeu exige um compromisso do Tribunal de Justiça da União Europeia para garantir os direitos dos europeus no território britânico após o Brexit.