Era uma sexta-feira, 6 de agosto de 2004, quando Cyntoia Brown (16) se recusou a ser mais uma vítima do feminicídio. Naquele dia, ela foi intimidada por um traficante a se prostituir, para 'fazer algum dinheiro' e por 'estar folgada'. O mesmo homem já havia abusado dela sexualmente e a forçado a usar diferentes tipos de drogas.
Diante da ameaça, Cyntoia aceitou uma proposta de US$ 150 do atirador do Exército Johnny Allen (43), em Nashville, no estado do Tennessee. Foi na casa dele que o pesadelo da adolescente viveu seu apogeu. “Johnny estava me acariciando, depois me agarrou entre as pernas muito forte. Ele me olhou de um jeito, tipo, um olhar muito feroz, e eu senti um calafrio. Achei que ele ia me bater ou fazer alguma coisa assim comigo. Mas aí, ele rolou para o lado e se esticou. Então, achei que ele não ia me bater, achei que ele ia pegar uma arma", afirmou a garota em seu testemunho.
No mesmo dia, Allen mostrou à jovem diversas armas espalhadas pela casa. Por temer ser assassinada, Brown pegou um dos revólveres do local, atirou contra Allen e o matou. Apesar do cenário de legítima defesa, a adolescente foi condenada a prisão perpétua pelo juri local. A sentença ainda determinou que ela poderia viver em liberdade condicional a partir dos 51 anos.
Hoje com 29 anos e presa há 13, a história de Brown chama atenção de celebridades nos EUA. Uma petição já reuniu mais de 285 mil assinaturas, até a tarde desta quinta-feira, para tentar a libertação da mulher. O objetivo do documento é alcançar 300 mil vistos. "Cyntoia poderia ser sua filha. Esta petição precisa de tantas assinaturas forem possíveis, para ser apresentado o pedido de clemência ao governador do Tennessee, Bill Haslam", afirma a certidão.
A partir da hashtag #FreeCyntoiaBrown, celebridades como Kim Kardashian, Rihanna, Cara Delevigne e Lauren Jauregui também se manifestaram. "O sistema fracassou. É de cortar o coração ver uma jovem ser traficada e, quando toma coragem de lutar, é presa!", disse Kardashian em seu perfil no Twitter.
The system has failed. It%u2019s heart breaking to see a young girl sex trafficked then when she has the courage to fight back is jailed for life! We have to do better & do what%u2019s right. I%u2019ve called my attorneys yesterday to see what can be done to fix this. #FreeCyntoiaBrown pic.twitter.com/73y26mLp7u
%u2014 Kim Kardashian West (@KimKardashian) 21 de novembro de 2017
Rihanna, por sua vez, também condenou a Justiça dos EUA. "Nós mudamos a definição de justiça? Algo está terrivelmente errado quando o sistema deixa que esses estupradores passem ilesos, enquanto a vítima é presa!", destacou a estrela pop no Instagram.
História de vida conturbada
Apesar da sentença chamar a atenção, Cyntoia Brown enfrentou dificuldades desde seus primeiros dias. Aos dois anos, ela foi colocada para adoção pela mãe, Georgina Mitchell. Viciada em cocaína e crack, Mitchell entregou a filha a Ellenette Brown, que deu seu sobrenome à jovem.
Com a mudança de lar, Cyntoia teve apoio familiar e condições financeiras para mudar de rumo. Entretanto, pressões emocionais a levaram para o caminho que resultou na prisão.
Toda a história pode ser vista no documentário Me Facing Life: Cyntoia's Story, produzido pela BBC e lançado em 2011. Assista ao trailer abaixo: