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Estado de Minas

Pinochet, personagem ausente, mas inevitável nas eleições chilenas


postado em 19/11/2017 11:31

Sete eleições depois do fim da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), o Chile não termina de se desprender do extenso legado de seu regime, pondo em especial destaque a direita chilena, que está em vantagem para retornar ao poder.

Doze por cento dos chilenos consideram o ex-ditador - cujo regime custou mais de 3.200 vidas - "um dos melhores governantes do país", segundo pesquisa do Centro de Estudos Públicos (CEP), um percentual impossível de se ignorar às vésperas das eleições de 19 de novembro.

Franco favorito, o empresário Sebastián Piñera, que se autodenomina de centro-direita, avança para vencer com folga o primeiro turno. Mas tudo leva a crer que precisará disputar um segundo turno, no qual o apoio da direita mais radical será chave em sua tentativa de retornar ao Palácio de La Moneda.

O surgimento repentino como candidato do deputado ultraconservador José Antonio Kast, que reivindica abertamente a ditadura de Pinochet, trazendo de volta sem pudores o ideário 'pinochetista', levou Piñera a "endireitar" seu discurso durante sua segunda campanha, quando voltou-se a ouvir gritos de "Viva Pinochet!" em alguns de seus comícios.

Embora cada vez mais reduzido, o chamado 'pinochetismo' ainda tem um imenso poder econômico e controla grande parte da União Democrata Independente (UDI), o maior partido político do país.

"Piñera não é pinochetista, mas precisa do pinochetismo", diz, demonstrando a encruzilhada em que o empresário se encontra, o analista da Universidade de Santiago, Raúl Elgueta, à AFP.

Contrário ao aborto, favorável a fechar as fronteiras aos migrantes e ao porte maciço de armas para enfrentar a criminalidade, Kast busca captar o voto de direita "mais duro" e que desconfia das lealdades do ex-presidente.

Com uma linguagem direta e algumas vezes extrema, como quando prometeu atirar caso um delinquente entrasse em sua casa, Kast conseguiu fazer bastante barulho, embora nas pesquisas não passe dos 3% das intenções de voto.

"No segundo turno, todos deverão votar em Piñera, e Piñera deverá adotar posições mais moderadas para poder vencer. O pinochetismo está morto ou é muito marginal", diz o analista da Universidade de Nova York, Patricio Navia.

- Direita renovada? -

O "endireitamento" de sua campanha levou Piñera a sepultar momentaneamente suas tentativas de se erguer como o líder de uma direita renovada e despojada de toda herança da ditadura de Pinochet.

O empresário votou 'Não' no plebiscito que decidiu, em 1988, pelo fim do regime ditatorial e durante seu primeiro governo, entre 2010 e 2014, criticou setores dentro da mesma direita, ao qualificar de "cúmplices passivos" os civis que apoiaram a ditadura.

Também - em uma decisão que nenhum de seus antecessores de esquerda se atreveu a adotar - m,mandou fechar uma prisão especial para violadores dos direitos humanos.

Mas em sua nova campanha, disse que reabriria a prisão de Punta Peuco, uma penitenciária especial, onde cumprem pena mais de cem violadores dos direitos humanos, caso Michelle Bachelet concretize seu anunciado fechamento.

Confrontado com uma eleição em 1988, Pinochet obteve 43% dos votos, mas com o passar dos anos, a figura do ex-ditador foi se tornando cada vez mais frágil, embora seu legado econômico e político se mantenha.

Vinte e sete anos depois do fim de sua ditadura, o sistema econômico de livre mercado que ele instaurou permanece quase intacto, assim como o sistema privado de pensões e a Constituição, que ele impôs em 1980.

Seu sistema eleitoral - que por anos beneficiou a direita - foi desmantelado pelo governo de Bachelet, que também busca por fim ao seu sistema educacional.

As mudanças, no entanto, têm ocorrido a passos lentos em uma sociedade que se acostumou a viver sob o modelo de Pinochet.


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