Os argentinos votaram em massa neste domingo nas eleições legislativas, nas que a coalizão do presidente Mauricio Macri aparece como favorita, mas que também devem confirmar um assento no Senado para a ex-presidente opositora Cristina Kirchner.
As seções eleitorais fecharam às 18H00 locais (19H00 em Brasília). A taxa de participação foi de 78%, segundo dados da Junta Eleitoral.
"É muito lindo que vamos todos votar e expressar em que Argentina queremos viver", disse o presidente após votar em uma escola de Buenos Aires.
Os primeiros resultados serão divulgados às 21H00 (22H00 em Brasília), e a tendência definitiva deve ser divulgada às 02h00 (03H00 em Brasília) de segunda-feira.
As pesquisas de opinião apontam uma vantagem ao macrismo, como primeira força nacional. Macri liderou a campanha oficialista para aprofundar suas reformas econômicas e sociais liberais e pró-mercado.
Mas Kirchner (2007-2015), que concorre pela Unidad Ciudadana (peronistas de centro-esquerda) na província estratégica de Buenos Aires - que concentra quase 40% dos 33,1 milhões de eleitores -, aspira a um assento no Senado para "colocar um freio" a Macri em sua política de ajustes tarifários, financiamento do déficit fiscal com dívida e flexibilização das leis trabalhistas.
O presidente, por sua vez, pediu que o país "não retorne ao passado" de um "populismo que alterou a cabeça do povo".
"Uma vitória de Macri é um sinal de saída do populismo e um sinal de que o rumo econômico se mantém", afirmou o cientista político Rosendo Fraga, da consultora Nueva Mayoría.
Os eleitores renovarão metade da Câmara dos Deputados, de 254 assentos, e um terço do Senado, de 72 assentos.
A votação ocorreu com normalidade em todo o país. Em Mar del Plata (sul), candidatos do pequeno Frente de Izquierda foram detidos por manter aberto um local partidário.
- Polarização -
A mãe de todas as batalhas será travada na província de Buenos Aires. "Existe uma intensificação da polarização em relação às primárias de agosto", aponta o cientista político Facundo Nejamkis, da Opina Argentina.
Em agosto, Kirchner prevaleceu na província por uma pequena margem, mas o macrismo foi o mais votado a nível federal.
Com Esteban Bullrich, um político pouco carismático, enfrentando Kirchner, a campanha macrista esteve a cargo da governadora provincial, María Eugenia Vidal, cuja imagem é inclusive melhor que a de Macri, após ela ter vencido o peronismo em seu bastião em 2015.
Oito empresas de pesquisas preveem para o macrismo uma diferença média maior que 3,5% na estratégica província.
O governo de Kirchner foi criticado pelo macrismo por ter manipulado estatísticas de inflação, entre outras denúncias. Mas a ex-presidente se tornou a principal figura opositora à administração de Macri.
Kirchner deve responder ante a Justiça por supostos casos de corrupção com fundos de obras públicas, que ela nega, alegando que há "uma perseguição política" orquestrada pelo governo para destruí-la.
Macri, engenheiro de família rica cujo trampolim para a política foi seu cargo como presidente do clube Boca Juniors, foi denunciado pelo escândalo "Panama Papers", mas a justiça rapidamente o absolveu.
- Macrinomics -
Cambiemos é uma aliança de partidos de direita, centro-direita e social-democratas da histórica União Cívica Radical.
Macri, sem uma maioria parlamentar, conseguiu adotar leis por meio de acordos com peronistas inimigos de Kirchner e governadores cujas finanças dependem dos fundos do governo federal.
O primeiro ano do presidente foi marcado por uma grande queda de popularidade, de quase 30%. A economia caiu 2,3%.
Mas a atividade econômica passou a crescer, a 1,6% no primeiro semestre. Os indicadores positivos ainda não alcançaram aqueles da primeira década do século, sob os governos kirchneristas, mas Macri diz confiar na reinserção do país no cenário mundial.
O presidente argentino é apoiado pelos Estados Unidos, União Europeia e órgãos internacionais de crédito.
Ele acaba de receber elogios no recente colóquio do IDEA, o maior fórum empresarial argentino.
Na última semana, a campanha eleitoral teve que ser suspensa em razão da descoberta do cadáver de um ativista que apoiava os indígenas mapuches desaparecido há 78 dias após a repressão policial na Patagônia. O caso comoveu o país, mas parece não ter sido suficiente para alterar as tendências da votação.