O presidente americano, Donald Trump, lançou nesta sexta-feira uma nova estratégia com o Irã ao prometer enfrentar o "fanático regime" e não certificar o acordo nuclear internacional alcançado em 2015, que ameaçou abandonar a qualquer momento.
Em um discurso televisionado na Casa Branca que fez referências à Revolução Islâmica de 1979, Trump criticou o comportamento da "ditadura iraniana" no Oriente Médio e afirmou que Teerã é "o principal patrocinador do terrorismo no mundo".
"Anuncio que não podemos, nem faremos essa certificação", declarou o presidente. "Não seguiremos por um caminho cujo final previsível é mais violência e terror, e a verdadeira ameaça de um Irã nuclear".
Em um tuíte na noite desta sexta-feira, Trump atacou os países que firmaram o acordo, aparentemente acusando-os de colocar os interesses comerciais à frente da segurança. "Muita gente está falando e concordando com o meu discurso sobre o Irã. Os que firmaram o acordo estão ganhando muito dinheiro em negócios com o Irã".
A retórica bélica de Trump foi rechaçada pelo presidente da República Islâmica, Hassan Rohani, que assegurou que os "Estados Unidos estão mais sozinhos do que nunca contra o acordo nuclear e mais sozinhos do que nunca em seus complôs contra o povo iraniano".
"O acordo nuclear não é modificável, não lhe pode acrescentar nem um artigo, nem uma nota", afirmou o dirigente. Trump "não leu o direito internacional (...). Aparentemente não sabe que este acordo não é um acordo bilateral entre Irã e Estados Unidos".
Embora os Estados Unidos não tenham deixado o acordo, a guinada estratégica de Trump pode abrir um período de incertezas ao não seguir o posicionamento da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA), que até agora confirmou que Teerã cumpre com seus compromissos.
O acordo, que também foi assinado por França, Reino Unido, Alemanha, Rússia e China, tem o objetivo de garantir o caráter exclusivamente civil do programa nuclear iraniano.
- Revisão contínua -
O presidente americano, que reafirmou as "agressões" do Irã nos conflitos que afetam o Oriente Médio, destacou que o acordo fracassou ao abordar o seu papel na região e o seu programa ilegal de mísseis.
E apoiou os esforços do Congresso para conseguir novas medidas diante das ameaças que Teerã apresenta sem prejudicar o acordo de forma geral.
"De todas as formas, no caso de não sermos capazes de alcançar uma solução com o Congresso e nossos aliados, o acordo acabará", advertiu.
O acordo, aprovado durante a presidência de Barack Obama, "é revisado continuamente e eu, como presidente, posso cancelar a nossa participação a qualquer momento", assegurou Trump.
Paralelamente à declaração presidencial, o Departamento do Tesouro revelou medidas econômicas contra os Guardiões da Revolução, o Exército de elite iraniano, por meio de uma ordem executiva de 2001 e acrescentou quatro empresas em sua lista negra.
Trump evitou chamar este corpo de grupo terrorista. Além de estar envolvido na economia e no programa balístico iraniano, os Guardiões da Revolução são acusados de ajudar o Hezbollah no Líbano, os huthis no Iêmen e as milícias xiitas na Síria e no Iraque.
"Consideramos que há riscos e complexidades na hora de designar todo um Exército", explicou Tillerson.
- A favor e contra -
O principal negociador americano do tratado, o ex-secretário de Estado John Kerry, criticou a decisão de Trump, advertindo que é "perigosa" para a própria segurança dos Estados Unidos e "abre as portas para uma crise internacional".
A comunidade internacional também fervilhou depois do anúncio de Trump.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyhu, comemorou a "valente decisão do presidente americano no momento de "enfrentar o regime terrorista iraniano".
A Arábia Saudita se manifestou na mesma linha, celebrando a "estratégia firme" dos Estados Unidos.
França, Alemanha e Reino Unido emitiram um comunicado conjunto no qual se declararam "comprometidos" com o acordo nuclear.
"Estimulamos o governo e o Congresso americano a levar em conta as implicações que sua decisão teria para a segurança dos Estados Unidos e de seus aliados", destacaram.
A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, também garantiu que Trump "não tem" o poder de acabar com o pacto.
O secretário de Estado americano, Rex Tillerson, respondeu "a nossos amigos e aliados na Europa": "acredito que tenhamos uma oportunidade real de abordar as ameaças que o Irã supõe".
A Rússia denunciou a estratégia do presidente americano e considerou que o pacto continua intacto.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, manifestou a esperança de que o acordo sobreviva, considerando-o "uma conquista muito importante para consolidar a não-proliferação nuclear e avançar para a paz e a segurança globais".
A China se posicionou quase nos mesmos termos horas antes do discurso de Trump, assinalando que o acordo é "importante para assegurar o regime internacional de não-proliferação nuclear" e "a paz e estabilidade da região".
A principal negociadora americana do texto na era Obama, Wendy Sherman, disse que "a inquietante política estrangeira do Irã é precisamente a razão pela qual o acordo é necessário".
"Um Irã dotado de uma arma nuclear seria muito mais ameaçador para a segurança regional e mundial", escreveu Sherman essa semana, advertindo sobre as repercussões potencialmente "desastrosas" na política estrangeira americana em caso de saída do acordo.