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Estado de Minas

Em busca das palavras em hebraico perdidas


postado em 14/09/2017 16:07

Gabriel Birnbaum não tira os olhos do computador, absorto na missão gigantesca de documentar e definir todas palavras em hebraico que surgiram ao longo dos milênios, desde a Bíblia e os Manuscritos do Mar Morto até as gírias contemporâneas.

Com óculos, duas canetas no bolso da camisa e uma quipá preta na cabeça, este pesquisador participa do projeto de dicionário histórico da Academia de Israel para o hebraico, lançado em 1959.

A obra levará anos para ser concluída, mas será um instrumento essencial para professores universitários, escritores e linguistas.

No final do século XIX, o hebraico ressuscitou como língua vernácula, após ser usado como língua de culto durante 1.700 anos.

"Fazemos algo muito importante pelo povo judeu, mas também para a linguística em geral, porque este é um enorme projeto linguístico por si só", explica Birnbaum à AFP, em seu escritório de Jerusalém.

A palavra "mesa" em hebraico, por exemplo, conta com quase 3.000 ocorrências, incluindo o livro do Êxodo da Bíblia, quando Deus ordena a Moisés que construa um tabernáculo.

Este tipo de dicionário existe em outras línguas, como o monumental Oxford English Dictionary, mas a história do renascimento do hebraico lhe confere um caráter particular.

- 'Um milagre' -

Na época bíblica, as comunidades judias falavam hebraico, mas ao serem obrigadas ao exílio, a língua oral foi desaparecendo, enquanto a escrita perdurava.

Dezessete séculos mais tarde, no XIX, a língua oral reviveu graças ao movimento sionista que preconizava o regresso dos judeus às terras que seus antepassados tiveram que abandonar.

O hebraico depois se tornou língua oficial do Estado de Israel, criado em 1948, um renascimento considerado único na história.

"É um milagre", resume Gabriel Birnbaum, que aos seis anos deixou a Hungria rumo a Israel.

O projeto ao que se dedica segue os passos de Eliezer Ben Yehuda, um ensaísta membro do movimento sionista e considerado o pai do hebraico moderno.

O quartel-general do projeto abriga os livros de Ben Yehuda (1858-1922), que começou a redigir à mão o primeiro dicionário de hebraico moderno.

Hoje, cerca de 20 pessoas trabalham no projeto do novo dicionário.

A maioria dos manuscritos antigos e das inscrições se encontram fora de Israel, de modo que durante muito tempo tiveram que recorrer a fotocópias.

Agora alguns dos escritos estão na internet, como o calendário Gezer, considerado pelos especialistas o documento mais antigo redigido em hebraico, no século X antes de Cristo.

- Uma tarefa imensa -

Cerca de 50.000 palavras do dicionário já estão disponíveis na internet, assim como as análises linguísticas e as definições redigidas desde 2005.

"A ideia é dispor, a longo prazo, de um banco de dados eletrônico", explica Steven Fassberg, um dos responsáveis do projeto. "Ninguém pode se aventurar a prever quanto tempo levará" terminar a obra, acrescenta.

"Os projetos de dicionário que traçam a história da língua de uma nação costumam estar vinculados às crenças culturais e ideológicas sobre o estatuto da nação, o patriotismo. Mas acredito que este é uma exceção", estima Charlotte Brewer, professora do College Hertford de Oxford, que estuda o Oxford English Dictionary.

Gabriel Birnbaum se orgulha de continuar o trabalho iniciado por Eliezer Ben Yehuda. Na sala, com móveis que pertenceram a este último, aponta para um quadro com uma inscrição tradicional judia que resume sua missão: "O dia é curto e a tarefa é grande".


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