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Estado de Minas

Entenda por quê militares venezuelanos apoiam Maduro


postado em 31/03/2017 17:22

Falta quase tudo, não há dinheiro suficiente frente a brutal inflação, a rejeição popular é enorme e o desprestígio internacional crescente. Por que, na pior crise da Venezuela em décadas, os militares apoiam o presidente Nicolás Maduro?

- Poder institucional -

As Forças Armadas já tinham grande poder durante o governo do falecido tenente-coronel Hugo Chávez (1999-2013), e ampliou ainda mais sua influência com Maduro, cuja gestão é rejeitada por sete em cada dez venezuelanos.

Um militar ativo e dez na reserva ocupam 11 dos 32 ministérios, incluindo Defesa, Agricultura e Alimentação.

As Forças Armadas, que prometeram "lealdade incondicional" a Maduro, controlam a produção e distribuição de alimentos básicos - em grave escassez -, bem como uma empresa de petróleo, uma estação de televisão, um banco, uma montadora de veículos e uma construtora.

Para o analista Benigno Alarcón, ao perder sua base eleitoral, o governo decidiu manter o poder "pela força" e "comprou a lealdade" daqueles que a garantem.

"Ele o fez pagando-os mais ou dando-lhes posições em que podem enriquecer", aponta Alarcon.

De acordo com o major-general Clíver Alcalá, que ajudou a restituir Chávez durante um breve golpe em 2002, as Forças Armadas têm 1.000 generais, quando precisa de apenas 200.

"Isso faz com que cuidem do posto, não assumam riscos, porque há 800 à espera", comentou à AFP o oficial chavista, crítico de Maduro (eleito até 2019).

A Venezuela tem 165.000 soldados e 25.000 na reserva, bem como milhares de membros de uma milícia civil.

Com exceção do Parlamento de ampla maioria opositora - que o Tribunal Supremo acaba de despojar de sua funções-, o chavismo controla todo o aparato do Estado.

- "Poder corruptor" -

Várias instituições geridas pelos militares são acusadas de corrupção por líderes da oposição.

"Há relatos de que vários oficiais têm laços muito estreitos com o narcotráfico e outras formas de crime", declarou à AFP Michael Shifter, presidente do centro de pesquisas Diálogo Interamericano, com sede em Washington.

Oficiais como o ministro do Interior, o general Néstor Reverol, ou o ex-diretor de inteligência Hugo Carvajal são acusados pela justiça dos Estados Unidos de tráfico de drogas.

Alarcon observa que o presidente também colocou militares em cargos chave para exercer uma espécie de chantagem. São responsabilidades que os tornam "vulneráveis" a "processos por violações dos direitos humanos, lavagem de dinheiro ou tráfico de drogas".

"É como se estivesse em um navio que está afundando. As pessoas que mais vão cooperar para que o naufrágio não aconteça são aquelas que não sabem nadar", ilustra.

Alcalá argumenta que "há um grupo de militares corruptos que vende a ideia de apoiar Maduro", com o qual a maior parte da instituição não se identifica.

"Maduro foi inteligente ao envolver as Forças Armadas em questões tão difíceis de resolver como a escassez, porque assim passam a fazer parte do problema", diz ele.

- Medo -

Alguns oficiais apoiariam Maduro mais por medo de uma caça às bruxas do que por convicção.

"As Forças Armadas temem, porque muitos sentem que a sua liberdade, sua vida, seu patrimônio, dependem da estabilidade do governo. Pensam que a oposição no poder irá persegui-los", opina Alarcón.

O opositor Julio Borges, presidente do Parlamento, admite que o medo é um dos "maiores entraves" para que haja uma mudança de governo, porque, em sua opinião, apenas a cúpula militar apoia Maduro.

"Se não desatarmos este nó poderemos passar décadas vendo o mesmo filme", afirma Borges, que na quinta-feira pediu aos militares para que quebrem seu silêncio contra o que ele denunciou como um "golpe" de Maduro contra o Legislativo.

Mas não são apenas os militares que apoiam Maduro, que enfrenta um verdadeiro coquetel explosivo que talvez em outro país já teria custado a presidência.

Após a vitória esmagadora nas eleições legislativas de 2015, a oposição se chocou no muito institucional do chavismo e terminou dividida, mais uma vez, sobre como antecipar a saída de Maduro.

Tudo isso em meio a um colapso econômico (inflação que pode fechar este ano em 1.660%, segundo o FMI) e uma criminalidade desenfreada.

Não há liderança que faça as massas "se apaixonarem", ou que as façam sentir "paixão pela mudança", afirma o analista Luis Vicente León.


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