Orquestrar a tranferência para a Turquia dos novos migrantes que chegam às suas ilhas e se ocupar das pessoas bloqueadas em seu território, assegurando a todo momento que seja respeitado o direito de asilo, são parte do trabalho hercúleo que espera a Grécia para cumprir o acordo entre UE e Turquia.
Segundo a Comissão Europeia, cerca de 4.000 especialistas serão mobilizados para a operação.
O governo grego, mergulhado por seis anos em políticas de austeridade, que, a duras penas, pode gerenciar os centros de recepção de refugiados, conseguiu que seus sócios europeus reforçassem com 2.300 especialistas suas tarefas, informou o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras.
"Haverá 400 especialistas em asilo, 400 intérpretes e tradutores e 1.500 especialistas em temas de segurança", declarou Tsipras, ao informar sobre os resultados da cúpula.
A UE e a Turquia firmaram para a meia-noite de domingo os primeiros voos desde as ilhas gregas, onde era notada a urgência dos migrantes para chegar à costa antes do prazo.
Segundo as autoridades gregas, nas últimas 24 horas foram registradas 1.500 chegadas, mais do que o dobro do dia anterior, um número muito acima dos níveis do início da semana.
A chanceler alemã, Angela Merkel, que desempenhou um papel-chave nos acordos, suavizou um pouco os prazos e disse na sexta-feira, em Bruxelas, que a operação começará em 4 de abril.
Frente às críticas de defensores dos direitos dos refugiados, a UE prometeu respeitar o direito internacional e irá assegurar que cada demandante de asilo que chegue à Grécia a partir de domingo tenha direito a um exame individual.
"Um trabalho hercúleo nos espera, especialmente a Grécia", reconheceu o presidente do Executivo europeu, Jean-Claude Juncker, já que a maior parte dos migrantes que chegam à costa grega são iraquianos e sírios.
O acordo propõe que a cada refugiado sírio reeviado à Turquia, a UE aceite um refugiado dos 2,7 milhões que se encontram na Turquia, com um teto de 72.000 lugares.
Tsipras, muito fragilizado pelo preço que teve que pagar pelas políticas de austeridade, também afirmou que serão respeitadas as regras humanitárias.
"Não vamos fazer nenhuma concessão", assegurou.
Contudo, a juventude de seu partido, a formação de esquerda Syriza, convocou manifestações neste sábado para expressar seu descontentamento com o acordo, em sintonia com uma mobilização internacional.
- 'Os refugiados necessitam de proteção' -
O Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur) estimou nesta sexta-feira que a forma de aplicação do acordo será "crucial". "Os refugiados necessitam de proteção, e não rejeição", completou a organização em um comunicado.
A UE espera que o acordo desestimule as chegadas, mas também que a Turquia cumpra o trabalho de conter os migrantes que tentam cruzar o Mar Egeu. O primeiro-ministro grego disse que espera que a força da Otan mobilizada no final de fevereiro também cumpra um trabalho de "filtragem".
Além disso, a Grécia deve se encarregar das pessoas bloqueadas em seu território desde o fechamento da rota dos Bálcãs, separando os migrantes econômicos, que serão expulsos, dos demandantes de asilo, que serão realocados em outros países da UE.
Para os migrantes que aguardavam no acampamento de Idomeni, o dilema deste sábado era grande. Tentar cruzar ou se conformar em ser realocado, sem poder escolher para qual país será enviado.
Procedente de Damasco, Mohamed, de 30 anos, preparava-se para pegar o ônibus para se inscrever em Atenas no programa europeu. Já Yasmin, quer esperar.
"Não podem nos proibir que nos reunamos com nossos maridos que conseguiram entrar na Alemanha neste verão", disse à AFP a jovem, procedente de Aleppo, que se encontra no acampamento com seus dois filhos e suas irmãs.