As potências emergentes do grupo Basic - Brasil, África do Sul, Índia e China - deixaram em segundo plano suas diferenças durante as negociações de Paris sobre o clima (COP21), nesta terça-feira, e formularam propostas que segundo os observadores poderiam abrir vias de consenso.
Os Basic também reiteraram seu "compromisso de unidade" com os países em desenvolvimento, apesar das discrepâncias que existem entre eles no que diz respeito às metas de contenção do aquecimento global.
Os emergentes, que nas últimas décadas se converteram em grandes emissores de gases de efeito estufa, anunciaram, em comunicado conjunto, seu apego ao princípio de "responsabilidades comuns, mas diferenciadas" desenvolvido na Eco-1992, que aponta para os países industrializados as responsabilidades históricas do aquecimento global.
- Um por todos e todos por um -
Diante de reclamações deste tipo, os Basic buscam manter a unidade, tanto entre si como com os países em desenvolvimento, que querem limitar o aumento das temperaturas a 1,5ºC relativos à era pré-industrial, enquanto os emergentes se inclinam para os 2ºc para não ver seu crescimento ameaçado.
O enviado especial chinês para o aquecimento global, Xie Zenhua, que abriu e liderou a coletiva de imprensa, lembrou que os Basic fazem parte do conglomerado de 134 países emergentes e em desenvolvimento conhecido como G77-China. "Nos comunicamos periodicamente entre nós, estamos unidos e compartilhamos nossos pontos de vista", declarou.
"Nós enfatizamos os 2º e somos conscientes de que eles defendem 1,5º. É um tema que claramente lhes preocupa e que estamos discutindo ativamente. Espero que alcancemos um entendimento global", disse a ministra brasileira, Izabella Teixeira. "Ninguém deve ser desprezado", acrescentou.
O grupo também apresenta diferenças entre si, como, por exemplo, o que envolve as primeiras verificações dos acordos aplicados, que o Brasil quer realizar cinco anos depois de sua entrada em vigor, mas que a Índia gostaria de adiar para 2029.
"Estamos decepcionados pelo baixo nível de ambições e apoio por parte dos países desenvolvidos", disse o ministro indiano do Meio Ambiente, Prakash Javadekar, em uma coletiva de imprensa junto a seus três colegas do Basic em Le Bourget, nos arredores de Paris, onde negociam o acordo que deve entrar em vigor em 2020.
"É importante que os países desenvolvidos, que têm a responsabilidade histórica e capacidade, tomem a dianteira na redução de emissões e contribuam com o financiamento e as tecnologias que o mundo em desenvolvimento necessita. Infelizmente, não é isso o que acontece", acrescentou Javadekar.
- Ideia 'interessante' -
Javadekar levantou, quase de passagem, que os compromissos nacionais (INDC, no jargão das negociações sobre o clima) não se referem apenas à mitigação do impacto das emissões de gases com efeito de estufa, mas também incluem medidas de adaptação e ajuda financeira.
A ideia é que "os INDC e o novo acordo não se limitem a à mitigação, mas também à adaptação e ao apoio", afirmou.
A ideia foi recebia com interesse por Matthieu Orphelin, porta-voz da Fundação Nicolas Hulot, uma ONG que acompanha de perto as negociações do clima.
"Essa ideia de que os países desenvolvidos digam em seus INDC quais serão suas ajudas me pareceu bastante interessante. É algo que nos permitirá ir rumo a um acordo ambicioso", declarou Orphelin à AFP.
Quando os Basic convocaram de improviso uma coletiva de imprensa, "tememos uma má surpresa", disse Orphelin, que lembra ainda o fracasso das negociações de Copenhague em 2009.
Mas os emergentes tiveram "um tom de consenso", agregou, aliviado.