O governo turco destituiu nesta quarta-feira a cúpula da polícia de Ancara, quatro dias depois do atentado que deixou 97 mortos e provocou um movimento de indignação contra o presidente Recep Tayyip Erdogan, poucas semanas antes das eleições legislativas.
O ministério do Interior anunciou a destituição do diretor geral da polícia da província de Ancara, Kadri Kartal, e de seus dois principais auxiliares, o diretor de Segurança e o de Inteligência.
Os três comandantes foram suspensos como parte da investigação aberta após o atentado terrorista de 10 de outubro diante da estação de Ancara, destacou o ministério.
O ataque, cometido por dois homens-bomba durante uma concentração de simpatizantes de esquerda e pró-curdos que participariam em uma manifestação pacifista, deixou pelo menos 97 mortos e 500 feridos.
Na terça-feira, Erdogan reconheceu "possíveis erros" dos serviços de segurança antes do ataque.
Em sua primeira aparição pública após o atentado, Erdogan anunciou a abertura de uma investigação sob o comando do Conselho de Inspeção do Estado (DDK).
"Houve sem dúvida algum erro, alguma falha em algum momento. De que tamanho? Isto ficará claro depois da investigação", afirmou Erdogan.
"Se houve o menor descuido, o primeiro-ministro e as autoridades competentes tomarão as medidas necessárias. Ninguém deve ter dúvidas", completou.
Responsável por verificar o bom funcionamento dos diversos níveis do Estado, o DDK investigou recentemente as circunstâncias da morte do ex-presidente turco Turgut Ozal, que faleceu em 1993 em circunstâncias controversas.
Erdogan é alvo de críticas violentas dos adversários, em particular da oposição pró-curda que denuncia sua responsabilidade no atentado.
O líder do Partido Democrático dos Povos (HDP), Selahattin Demirtas, o acusou de ter descuidado deliberadamente da segurança dos simpatizantes da causa curda, alvos do atentado de sábado.
Demirtas também acusou Erdogan de manter vínculos com os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI).
Desde sábado, milhares de pessoas protestam com gritos de "Tayyip assassino" ou "Conhecemos o assassino", para denunciar a estratégia de tensão aplicada, segundo os opositores, pelo chefe de Estado antes das eleições de 1º de novembro.
Na segunda-feira, o primeiro-ministro turco Ahmet Davutoglu apontou o EI como o principal suspeito do ataque.
A Turquia, inimiga do presidente sírio Bashar al-Assad, foi acusada durante muito tempo de complacência com os os grupos jihadistas.
Mas depois de um atentado em janeiro em Suruç, perto da fronteira com a Síria, o governo turco executou ataques aéreos contra o EI, que ameaçou o país com ações de represália.
Nesta quarta-feira, as autoridades turcas anunciaram a detenção de dois homens vinculados ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), suspeitos de terem conhecimento prévio do atentado em Ancara.
Nas eleições de 7 de junho, o HDP obteve 13% dos votos e 80 cadeiras de um total de 550 no Parlamento, o que deixou o partido de Erdogan sem a maioria absoluta que desfrutava há 13 anos.
A relação tensa entre os partidos levou o governo a acusar o HDP de "cumplicidade" com os "terroristas" do PKK, con a esperança de atrair o eleitorado nacionalista hostil aos curdos.
No sábado, poucas horas depois do atentado de Ancara, o PKK anunciou a suspensão das operações militares até 1 de novembro, data das eleições, exceto em caso de "legítima defesa".
Apesar do anúncio, novos confrontos foram registrados entre as forças de segurança e as milícias curdas.