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Estado de Minas

EUA aguardam Francisco, crítico do 'American Way of Life'


postado em 17/09/2015 16:10

Embora o aguardem com fervor, os americanos verão o papa Francisco agitar suas consciências com a defesa dos migrantes e contra a pobreza durante sua visita ao coração do capitalismo mundial.

O jesuíta argentino, de 78 anos, "vai sacudir os americanos" de todos os setores porque, em um país onde o capitalismo é rei e o empreendimento individual é virtude, leva a mensagem de que "os cristãos devem reconfortar os afligidos e afligir os acomodados", afirma o chefe de redação da America Magazine e sacerdote jesuíta James Martin.

Em sua primeira visita a território americano na próxima semana, o Papa pronunciará um discurso ante o Congresso em Washington em 22 de setembro, dias depois de visitar Havana e após mediar a aproximação entre Estados Unidos e Cuba, enquanto os legisladores ainda mantêm o embargo à ilha.

Seguirá sua viagem por Nova York e Filadélfia (leste) até 27 de setembro.

Há assuntos nos quais os americanos "custam a entender Francisco", afirma Massimo Faggioli, historiador da faculdade de teologia da Universidade St. Thomas, Minnesota.

Sua encíclica "Laudato si", sobre o meio ambiente e contra o desperdício, é "uma acusação muito forte contra um sistema econômico que é o modo de vida dos americanos", estima Faggioli.

As posturas de Jorge Bergoglio não são bem vistas entre a classe política americana: "Eu não vou à missa para (ouvir falarem) sobre política econômica ou política", lançou o pré-candidato republicano Jeb Bush em junho, quando o documento papal foi publicado, irritando também os céticos sobre as mudanças climáticas.

Entre os americanos católicos, apenas 29% consideram que a luta contra as mudanças climáticas é essencial para sua identidade religiosa, de acordo com uma pesquisa do instituto Pew.

Francisco, que falou na Bolívia contra a ideia de que "o capital se (converta) em ídolo", chega a um país onde "as disparidades de renda são um escândalo", e onde "muitos capitalistas americanos não podem ouvi-lo", acrescentou Martin.

Muito bem recebido

Quanto aos migrantes, um dos grandes temas da campanha presidencial americana, a mensagem do Papa se choca com o Partido Republicano, que se opõe a uma reforma migratória, estima Faggioli.

O choque é ainda mais forte com aqueles que se sentem próximos às polêmicas propostas sobre migração do explosivo aspirante à Casa Branca Donald Trump, acrescenta o historiador.

A Igreja católica americana foi muito ativa em acolher imigrantes e refugiados, e se antes o Vaticano a criticava por seu radicalismo, o papa Francisco agora ressalta seu magnífico trabalho.

Além disso, mais da metade dos fiéis da Igreja católica americana são hispânicos, razão pela qual o primeiro Papa latino-americano será muito bem recebido entre esta comunidade de 50 milhões de pessoas, afirma à AFP Jonathan Fox, professor da American University.

No entanto, a visita papal pode ser incômoda para o seio do clero americano, que foi abalado por vários escândalos de pedofilia, que levaram o Papa a demitir dois bispos em junho, no que constituiu um gesto inédito do Vaticano neste tema.

Igreja atrativa

Quando Francisco fala sobre sexualidade, agilizar a anulação do casamento ou não excomungar os divorciados, os bispos "acreditam que não sabe o que faz", afirma Faggioli.

"Acreditam que está revertendo completamente suas políticas dos últimos trinta anos" de "guerra cultural contra a modernidade liberal nos Estados Unidos", explica.

Resta saber se o Papa atenderá as expectativas de seus fiéis, mais progressistas que seus bispos e que exigem um enfoque mais flexível em matéria de anticoncepção, dos divorciados que voltam a se casar, de concubinatos ou casais homossexuais, segundo o instituto Pew.

Os católicos americanos também têm uma visão menos tradicional da família, que estará no centro da visita do Papa à Filadélfia na última etapa de sua viagem.

O Papa "não acredita na guerra cultural, acredita no diálogo" e em uma Igreja atrativa, afirma Faggioli.

"Manteve a tradição católica em temas como aborto, casamento gay e inclusive a anticoncepção, mas mudou radicalmente o enfoque", afirma Paul Vallely, autor de uma recente biografia do Papa, no site Político.

Dois terços dos americanos - 45% dos quais se consideram ligados ao catolicismo - têm uma opinião positiva do Papa e os ingressos para assistir a sua última missa na Filadélfia se esgotaram em segundos.

As freiras do Leadership Conference of Women Religious (LCWR), que brigaram - e depois se reconciliaram - com o Vaticano, dizem estar encantadas com a visita do Papa, que provoca até a admiração do presidente protestante Barack Obama, que o receberá pessoalmente em sua chegada.


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