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Estado de Minas

A dissuasão nuclear, uma herança de Hiroshima


postado em 06/08/2015 17:01

Nascida do medo do apocalipse e destinada a impedir novas guerras, a dissuasão nuclear continua sendo um dos pilares da ordem mundial, apesar dos embates sobre a proliferação.

"A arma nuclear estruturou a Guerra Fria e, em seguida, cruzou o Muro de Berlim para continuar sendo o instrumento de uma estratégia de defesa e de afirmação de potência", diz Philippe Wodka-Gallien, especialista em tecnologia militar da Revista de Defesa Nacional francesa.

Durante toda a Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética, entrincheirados atrás de montanhas de ogivas nucleares, ameaçaram se destruir mutuamente se seus interesses vitais corressem risco.

Vinte anos depois, a arma atômica em poder de nove países - Estados Unidos, Rússia, França, Reino Unido, China, Índia, Paquistão, Coreia do Norte e, extra-oficialmente, Israel - continua "tendo êxito", apesar do debate ininterrupto sobre o risco de um "inverno nuclear" e a urgência de um desarmamento.

"Como explicar a ausência totalmente inédita de um conflito entre as grandes potências há 70 anos sem a dissuasão nuclear? Seu principal mérito é ter contribuído para que as grandes potências tenham medo de fazer a guerra", argumenta Bruno Tertrais, especialista da Fundação para a Pesquisa Estratégica (FRS), em Paris.

Efeito nitroglicerina

Tertrais considera que a dissuasão "delimita o horizonte dos conflitos" e dá como exemplo a crise ucraniana. "Um conflito militar em larga escala entre a Rússia e a Otan parece hoje impensável por causa da arma nuclear", avalia.

O argumento, implacável na aparência, não desperta unanimidade. Com suas imagens apocalípticas do cogumelo nuclear e de corpos irradiados, "Hiroshima provoca muitas emoções que impedem ver os fatos objetivamente", afirma Ward Wilson, diretor do projeto "Repensar as armas nucleares", no centro de reflexão British American Security Information Council (BASIC).

Os japoneses não capitularam, segundo ele, pelo trauma da bomba atômica, mas porque os soviéticos declararam guerra contra eles em 8 de agosto de 1945.

Em nome da paz, "nos arriscamos a uma guerra nuclear com, afinal, 300 milhões de mortos", resume Ward Wilson, que se preocupa, sobretudo, com o desencadeamento "por engano" do fogo nuclear.

"A arma atômica é para um país como a nitroglicerina para a segurança pessoal de alguém. Se a gente tem medo de ser atacado e dispõe dela, não deve utilizá-la porque poderia se fazer explodir", argumenta.

Como responder se outro ataca primeiro? Se alguma instalação nuclear for alvo de um ciberataque? Se líderes irracionais ativarem o código nuclear ou terroristas tomarem o controle de uma arma deste tipo?

"Um futuro promissor"

O número de países dotados de arma nuclear ou que se consideram protegidos pela dissuasão (no âmbito da Otan) não para de aumentar. A Coreia do Norte entrou recentemente no clube. E apesar de seus desmentidos, o Irã nunca demonstrou não ter nenhuma ambição nesta área.

Tudo isto incentiva uma corrida armamentista, uma proliferação que fragiliza a dissuasão. "O risco do cataclismo nuclear desapareceu, mas, paradoxalmente, o risco de uso da arma nuclear talvez tenha aumentado", admite Bruno Tertrais.

Não é inconcebível o seu uso na Coreia do Norte se o regime se considerar, por uma razão ou por outra, ameaçado. "Pyongyang demonstrou há quatro ou cinco anos uma disponibilidade em assumir riscos extremamente forte", continua o especialista.

O surgimento de atores não estatais, como os grupos terroristas, também altera os princípios.

Outro atentado como o cometido em 2008 em Mumbai (166 mortos), que a Índia atribuiu a um movimento vinculado aos serviços secretos paquistaneses, poderia levar o país a responder militarmente ao Paquistão, ativando uma engrenagem incontrolável até a utilização do fogo nuclear, segundo vários especialistas.

Por outro lado, a volta das tensões entre a Rússia e o Ocidente e a ameaça nuclear proferida pelo presidente russo, Vladimir Putin, pôs novamente na atualidade o tema da dissuasão nuclear, que muitos tinham relegado a um papel secundário desde o fim da Guerra Fria.

"A dissuasão tem um futuro brilhante, salvo um 'acidente' técnico ou estratégico", prevê Bruno Tertrais.


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