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Estado de Minas

Cubanos celebram reaproximação com os EUA

Anúncio histórico de Raúl Castro e notícia da libertação de três dos cinco cubanos foram comemorados ao longo do país


postado em 19/12/2014 06:00 / atualizado em 19/12/2014 09:03

(foto: JOE RAEDLE)
(foto: JOE RAEDLE)
Santiago de Cuba – Em um mercado na Plaza de Marte, em Santiago de Cuba, Adriano Pérez e três amigos compraram, na manha de ontem, uma garrafa de um litro de rum. A bebida lhes custou 150 pesos cubanos, um pouco mais de cinco euros. Um terço de um salário médio de um advogado no país. Para eles, que são músicos, o valor é alto, mas a data merece. Há poucos minutos, o presidente Raúl Castro anunciava a aproximação entre Cuba e os Estados Unidos.

“Posso estar errado, mas sinto um espírito de boa mudança na ilha”, diz Pérez, que toca percussão em uma casa de shows no Centro da cidade. Para aumentar sua renda, com a qual sustenta uma filha de 2 anos, ele também trabalha informalmente como guia. Apresenta aos que chegam os locais onde caíram mártires da revolução, como Abel Santamaría e Frank País. O músico está contente sobretudo com a soltura de três dos cinco cubanos detidos nos EUA por espionagem. “Foi uma promessa que o Raúl nos havia feito há uns 10 anos que finalmente foi cumprida.”

No Centro da Santiago, a notícia sobre a liberação dos três e do possível reatamento diplomático com os americanos, após mais de 50 anos de ruptura, foi transmitido ao vivo em uma TV na sede da Confederação dos Trabalhadores. Depois, foi repercutida pela rádio da Rua Aguirre, fundada por movimentos clandestinos de estudantes na década de 50, ainda no governo de Fulgencio Batista. Na sede, com umas 20 pessoas e nenhuma garrafa de rum, houve alguns aplausos. “Não vai mudar nada”, disse um jovem. “Homem, três deles estão livres”, respondeu uma senhora.

Pouco tempo depois, a rua da sede ficou lotada por alunos da Universidade Oriente. Eles faziam uma passeata, convidando a todos para se juntarem a eles, muito parecido com o que ocorreu nas grandes cidades brasileiras, em julho de 2013. Carregavam a bandeira de Cuba, a do Partido Comunista e uma maior, preta e vermelha, com “26 de Julho” bordado em branco. A data lembra a tentativa frustrada de Raúl, Fidel e Santamaría de tomar o Quartel Moncada, em 1953. Hoje, o local é uma escola, mas ainda conserva sua trajetória histórica. Está lá um museu e, nos muros, os buracos das balas trocadas entre os militares e os revolucionários.

Elói Oliveiro, estudante de ciências da computação, ajudava a carregar a bandeira preta e vermelha. “Hoje comemoramos um novo caminho de esperança para o povo cubano, pelo fim dessa disputa que não faz mais tanto sentido”. Ele também reconhece o empenho de Raul Castro. “O presidente entende o que é melhor para Cuba”.

Em casa, em uma rua próxima à manifestação, Luiz Pinelta, um pastor evangélico de 50 anos, descansava para o culto da noite. Recebeu com entusiasmo a notícia do dia, pois vê uma possibilidade real de melhoras na economia. Não para ele usufruir, mas sim para os três filhos e o neto, com quem divide, junto com a esposa, uma casa de três cômodos. Pinelta reconhece as conquistas da ilha. “Meu filho mais novo sabe tocar violino, o que em qualquer lugar do mundo é um luxo. Aprendeu na nossa escola pública”. Acredita, porém, que lhes falta oportunidades para mostrar a suas capacidades. “Esse bloqueio impede que o mundo conheça o quanto o cubano é bom trabalhador”.

Na estante da sua casa, o pastor mostra suas bíblias, outros livros religiosos e alguns volumes dos pensamentos de José Martí, tido como principal líder da independência cubana do reino espanhol, no século 19. O busto de Martí e algumas de suas frases estão em praças, escolas e prédios públicos por toda a ilha. Pinelta costuma citá-lo em seus discursos, assim como faz Raúl e fazia Fidel. Já Perez apresenta o seu rosto em bronze aos turistas. Uma de suas idéias mais conhecidas é sobre a revolução social, que começa com a insatisfação popular, passa pela insurreição e termina com a manutenção do idealismo que a possibilitou. Esta última fase, segundo o pensador, é a mais difícil, por requerer resistencia. Na Cuba de hoje, esse seria o papel que caberia a atual geração.


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