(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Com Ebola, FMI e BM sofrem críticas por pressão para corte de gastos na África


postado em 18/11/2014 19:55

O presidente da Guiné foi o primeiro a se surpreender: diante dele, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, pediu que os países aumentassem seus déficits para conter o avanço do Ebola, afastando-se da ortodoxia fiscal defendida pela instituição.

"O FMI não costuma dizer coisas como esta", admitiu Alpha Condé, cujo país é um dos mais atingidos pela epidemia. "É realmente uma mudança em relação ao que escutamos normalmente".

A mudança, que se deu no início de outubro em Washington, resume a evolução e também as ambiguidades do FMI e do Banco Mundial: as duas instituições fazem coro pelo combate à epidemia, mas são acusadas de contribuir para enfraquecer os sistemas de saúde pública na África ocidental, impondo políticas duras de ajuste fiscal.

- "Mãos atadas" -

A acusação se refere mais especificamente ao período de "ajustes estruturais" implementados nas décadas de 80 e 90, que condicionaram os empréstimos a uma rígida disciplina orçamentária, que acabaram forçando cortes nos gastos no setor de saúde.

"Os governos ficaram com as mãos atadas por estes acordos e não tiveram os recursos necessários quando as epidemias foram desencadeadas", afirmou à AFP David Stuckler, professor de economia política em Oxford, na Inglaterra.

Segundo um de seus estudos, que abrange o período 1996-2006, a rapidez com que foram realizados gastos na saúde foi a metade nos Estados que receberam financiamento do FMI em comparação a outros países de rendimento equivalente.

"O Banco Mundial, por sua vez, implementou um outro incentivo ao defender projetos que estabeleciam cotas de usuários aos serviços de saúde e que reduziam o papel do Estado", diz à AFP Mohga Kamal-Yanni, especialista em saúde da Oxfam.

Para Kamal-Yanni, o resultado chama a atenção nos países afetados pelo Ebola: "Não existem funcionários de saúde, não há centros médicos, não há medicamentos".

"Nossos sistemas se deterioraram por uma dificuldade de investir nos setores sociais e particularmente na saúde", reconhece Dede Ahoefa Ekoue, ministra de Ação Social da República Togolesa, encarregada de coordenar o combate ao Ebola na região.

A crítica não é nova. Em 2002, o prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz acusou o FMI de ter forçado a Tailândia a reduzir seu orçamento na área de saúde durante a crise asiática de 1997-1998, mesmo diante do risco de prejudicar o combate ao HIV. A entidade classificou a acusação como "nociva".

Dez anos depois, o debate, contudo, segue aberto. "O mundo atribuiu ao FMI e ao Banco Mundial muito mais influência do que eles têm de fato", contra-argumenta Amanda Glassman, do Centro para o Desenvolvimento Global, de Washington.

De acordo com Glassman, os conflitos e os maus governos contribuíram mais para a redução do gasto com saúde na África subsaariana, que passou de 6,9% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2005 para 6,5% em 2012, segundo o Banco Mundial.

Consultado pela AFP, o FMI afirma que as decisões orçamentárias dos governos seriam "mais difíceis" sem a sua ajuda e afirma que os países pobres sob a sua assistência aumentaram seus gastos sociais em "1% em média" em cinco anos.

Os organismos podem se defender ressaltando a ampla mobilização contra a atual epidemia: o Banco Mundial destinou cerca de 1 bilhão de dólares para financiar o envio de profissionais de saúde e defendeu nesta terça-feira a criação de um fundo emergencial contra epidemias. Já a contribuição do FMI ultrapassa os 430 milhões de dólares em empréstimos e perdão de dívidas.

"No período dos últimos cinco anos, o grupo Banco Mundial mudou a sua estratégia para ajudar os países a reforçar seus sistemas sanitários", afirma à AFP um porta-voz da instituição.

Seus críticos, contudo, continuam céticos. Para Kamal-Yanni, as mudanças aconteceram nas sedes das instituições, mas é difícil ver seus efeitos em campo.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)