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Estado de Minas

Prestígio de Mujica, a maior conquista de sua gestão


postado em 24/10/2014 19:55

A fama que o presidente uruguaio José Mujica ganhou no mundo é a maior conquista de uma gestão marcada por avanços em leis sociais inovadoras, como a legalização da maconha, mas que deixou pelo caminho parte de suas promessas de campanha.

Os pontos fortes de Mujica são que "manteve a proximidade com o povo, seu estilo de vida, sua humildade, sua capacidade de comunicação; tudo isso se manteve intacto do primeiro ao último dia e isso dá a ele altos índices de popularidade", acima a 50%, disse à AFP Juan Carlos Doyenart, diretor da consultoria Interconsult.

Segundo esse analista político, o maior êxito de Mujica é o prestígio internacional do líder porque "faz do Uruguai um país mais crível, mais confiável para se investir e isso não é pouco".

"Em um mundo tão descrente das classes dirigentes, onde há tantos presidentes e primeiros-ministros corruptos, aparece um homem como Mujica e (...) deslumbra com sua filosofia popular", considerou.

Pouco aberto a convencionalismos, este ex-guerrilheiro de 79 anos que chegou ao poder em 2010 para um mandato de cinco anos atraiu as atenções do mundo com seu estilo humilde e com um discurso contra o consumismo.

Ele ganhou um lugar de destaque -que o levou a ser indicado ao prêmio Nobel da Paz- com a descriminalização do aborto, a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, a regulação do mercado de maconha, o refúgio a famílias sírias e seu plano de receber presos de Guantánamo.

Economia forte, promessas descumpridas

O problema daquele que é popularmente conhecido como Pepe "é que prometeu muitas coisas que não conseguiu cumprir", avaliou Doyenart.

"Não houve reforma da educação, não houve reforma do Estado, não houve investimentos em infraestrutura, não há porto transoceânico", nem trens, disse, referindo-se a vários projetos do mandatário.

Nem tudo foi culpa do governante, segundo esse analista, que ressalta o estilo conciliador "que não permitiu que muitas coisas pudessem ser concretizadas tentando agradar todas as partes".

Além disso, a coalizão de esquerda Frente Ampla, que reúne doze partidos, promoveu as políticas em torno das quais já havia consenso durante o primeiro governo de Tabaré Vázquez (2005-2010), novamente candidato nestas eleições.

"Mujica procurou melhorar a educação e a competitividade do país", questões que causavam uma forte divisão entre seus próprios aliados. "Nas duas coisas ele não conseguiu nada", disse Doyenart.

Mujica deixará para seu sucessor, que vai assumir em março de 2015, um país que soma onze anos consecutivos de crescimento, com uma taxa de desemprego em torno de 6% e uma forte queda da pobreza.

"Ter mantido a economia em crescimento, manter os indicadores sociais, o desemprego sob controle e a agenda de novos direitos" são conquistas dignas de destaque, segundo o cientista político Daniel Chasquetti.

"Chego cansado"

"Eu não pude cumprir meu programa eleitoral. Mas isso não me frustra", afirmou o próprio Mujica em maio deste ano.

Nesta sexta, ele admitiu a jornalistas que chega cansado ao fim de sue mandato. "Estou cansado de uma longa viagem", mas "preciso seguir".

Em um país onde a reeleição não é permitida, Mujica se candidatou a senador nas eleições de domingo, segundo ele próprio, por sua capacidade negociadora em um parlamento em que nenhum partido terá a maioria.

Embora nenhum dos candidatos à sucessão de Mujica - o governista Tabaré Vázquez, Luis Lacalle Pou e Pedro Bordaberry - se aproxime de seu estilo, nem na forma nem en el discurso, os analistas acreditam que o próximo presidente também não será dado a protocolos.

"O que ele fez foi potencializar muitos traços muito característicos da política uruguaia e torná-los muito mais visíveis", explicou o cientista político Adolfo Garcé, lembrando que no Uruguai é normal "o político simples que anda na rua sem problemas, que entra em um bar e come um bife".


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