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Estado de Minas

Propaganda e censura: armas estratégicas da Grande Guerra

Na guerra vale tudo. Até governos incentivam população à chamar inimigos por xingamentos. Sem também deixar de pedir doações controlar a opinião pública pela imprensa e outros meios de comunicação


postado em 28/06/2014 06:00 / atualizado em 28/06/2014 09:47


Famoso
Famoso "Tio Sam", personagem folclórico da guerra Civil Norte Americana, foi pela primeira vez formalmente usado pelo governo em cartazes nos postos de recrutamento (foto: AFP PHOTO)
Reforçar o sentimento nacional, demonizar o inimigo, elevar o moral das tropas e dos civis com uma "lavagem cerebral" permanente: associada à censura, a propaganda teve um formidável desenvolvimento na Primeira Guerra Mundial, tornando-se uma verdadeira arma estratégica.

                                         Veja a retrospectiva da guerra no infográfico

"Os cadáveres boches (como eram chamados os primeiros germânicos) se sentem pior do que os dos franceses", diz o jornal "Le Matin" de 14 de julho de 1915.

"Mais vale uma mentira patriótica do que a verdade crua e assustadora para manter o moral do país e controlar a opinião pública. Esse é o cálculo das autoridades, que encorajam a imprensa a jogar o jogo da união nacional", explica para a AFP o historiador Jean-Yves Le Naour, especialista em Primeira Guerra Mundial.

Em todos os países, a propaganda reina sobre a informação, por meio de editoriais inflamados, panfletos nacionalistas, comunicados do Estado-Maior colados em muros, cartazes, músicas, histórias em quadrinhos, fotos, ou charges. A pena de jornalistas, escritores e intelectuais e o lápis dos ilustradores se tornam armas de guerra, assim como as fotos das frentes de batalha tiradas pelos Exércitos, ou mesmo as imagens apresentadas pelo novíssimo cinema.

"Lavagem cerebral"


A guerra é realmente assassina apenas para o inimigo, garantem os comunicados, que afirmam que, graças à lira (moeda da época), as tropas do Kaiser são compostas de covardes e famintos, que se entregam por um sanduíche. Conhecendo o valor de seus inimigos, os "Poilus" franceses (ou "peludos", como eram chamados os soldados), inventam a expressão "lavagem cerebral".

Cartazes em favor da guerra se espalham por todos os cantos. "Para a França, entregue seu ouro", "On les aura!" ("Vamos conquistá-los", em tradução livre), clama na França o cartaz do Segundo Empréstimo da Defesa Nacional em 1916. "Assinem o sexto empréstimo de guerra", convoca na Alemanha a imagem de um cavaleiro que mata o inimigo com uma lança.

Os grandes intelectuais não ficam para trás. "A luta engajada contra a Alemanha é a luta da civilização contra a barbárie", afirma o filósofo francês Henri Bérgson, em agosto de 1914. "Os alemães verão, necessariamente, a vitória de sua causa, porque é a da civilização", rebate o economista alemão Werner Sombart.

Censura e propaganda

Todas as partes beligerantes criam escritórios de propaganda e censura.

Na França, o serviço oficial da censura foi instaurado em 30 de julho de 1914, dois dias antes da mobilização. Oficialmente, a imprensa continua livre, mas o governo pede que informações não sejam passadas ao "inimigo".

Em outubro de 1914, é criado na Alemanha o Bureau Central de Censura. Em julho de 1917, o Alto Comando militar assume o controle da propaganda de olho nos soldados e na retaguarda. Oficiais de propaganda são designados em todo o Corpo do Exército.

Na Itália, um Ministério da Propaganda é instaurado no final de 1916, mas o fato é que, até o desastre de Caporetto, em outubro de 1917, não há uma censura real.

As cartas dos soldados são, com freqüência, abertas, e os trechos considerados imprudentes e inadequados, censurados. "Trata-se mais de um controle postal. O objetivo não é suprimir os pensamentos dos 'poilus', mas de conhecer seu estado de espírito. É uma espécie de pesquisa de opinião", garante Le Naour.

Os "jornais de trincheiras", que aparecem em 1915 nos dois lados da frente de batalha com o apoio da hierarquia militar, também devem se submeter à censura. Em geral satíricas e confeccionadas por soldados com os meios disponíveis na época, essas páginas chegarão a quase 500 no lado francês, entre elas "Coin Coin", "L'Echo des marmites" e "Hurle Obus".

Perseguição de pacifistas e desertores


Em casa, os censores visitam teatros, cabarés e "music-halls" para perseguir pacifistas, subversivos, desertores, ou derrotistas. As canções populares são as mais controladas.

A Alemanha "imoral e bárbara" e as "atrocidades" de suas tropas são o principal tema da propaganda da Entente. Já na Alemanha, o foco é a invencibilidade do Exército do Reich frente ao mundo inteiro. "A França é vista como decadente, degradada", acrescenta o historiador Le Naour.

A população é inundada de imagens, que mostram uma França liliputiana frente ao gigante alemão. Para a Alemanha, o verdadeiro adversário é a Inglaterra, que luta pelos franceses.

No lado britânico, a propaganda se destina, sobretudo, a recrutar voluntários. O alistamento começa, na verdade, somente em 1916. O Comitê Parlamentar de Recrutamento publica um grande número de cartazes e convocações, como a famosa do general Kitchener "Your country needs you" ("Seu país precisa de você", em tradução livre).

O Escritório de Propaganda britânico também explora o torpedeamento de seu navio RMS Lusitânia, por parte de um submarino alemão, para fazer a opinião pública norte-americana pender para os Aliados.

Nos países neutros, reina "uma luta até a morte entre a propaganda alemã e a da Entente, entre pró e anti-engajamento", completa Le Naour.

O Comitê britânico de Imprensa Neutra (Neutral Press Committee) recruta vários escritores e pintores, enquanto o Reich gasta fortunas, até mesmo pagando jornais nesses países. Como lembra Le Naour, porém, a Alemanha perderá a guerra no campo da propaganda.


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