O governo da Colômbia anunciou nesta terça-feira a abertura de um processo de paz com o Exército de Libertação Nacional (ELN), que se soma ao que está em curso com os rebeldes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
"O governo nacional e o ELN iniciaram uma fase exploratória de conversas em janeiro de 2014, após uma série de contatos e reuniões realizadas desde 2013. O objetivo é ajustar a agenda e o desenho do processo que torne viável o fim do conflito e a construção da paz", informaram as partes em um comunicado publicado nesta terça-feira pela Presidência.
O anúncio ocorreu cinco dias antes do segundo turno das eleições presidenciais, em que o presidente Juan Manuel Santos tenta a reeleição contra o direitista Oscar Iván Zuluaga.
No poder desde agosto de 2010, Santos se candidatou a um novo mandato de quatro anos com a promessa de selar a paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, comunistas). As negociações estão sendo realizadas desde novembro de 2012.
Ao confirmar a aproximação com o ELN, Santos afirmou, em uma curta declaração transmitida pela TV, que "este esforço de paz corresponde à visão de uma paz integral" promovida pelo governo colombiano.
O presidente disse que as condições exigidas ao ELN para dar "início a uma mesa formal de negociações" serão parecidas com as exigidas das Farc: "com deposição de armas (...), no exterior, sem cessar fogo bilateral e sem desmilitarizar nenhum tipo de território".
O comunicado reforçou a "vontade recíproca" das partes em estabelecer uma mesa de negociações que leve à "assinatura de um acordo" e indica que o governo divulgará periodicamente os alcances e resultados desta fase exploratória.
"A agenda de negociações incluirá os pontos das vítimas e a participação da sociedade. Os demais temas estão por acertar", destacou o texto, no qual Bogotá também agradece a Chile, Cuba, Equador, Noruega e Venezuela pelo "compromisso manifestado no acompanhamento e nas garantias deste processo".
Sem detalhar quem integra cada uma das delegações ou quando e onde serão formalmente iniciados os diálogos de paz, as partes pediram o apoio do povo colombiano "para que faça parte do propósito comum de alcançar o fim do conflito".
O ELN, com 2.500 combatentes em suas fileiras, segundo o Exército, é a segunda maior guerrilha da Colômbia, atrás das Farc, que têm 8.000 homens.
Santos enfrentará nas urnas no próximo domingo o candidato Zuluaga, afilhado político do ex-presidente e atual senador eleito Álvaro Uribe. Com forte oposição ao diálogo com a guerrilha, Zuluaga manifestou recentemente a intenção de negociar, mas com condições.
Para este segundo turno, as Farc anunciaram uma trégua eleitoral, à qual o ELN não aderiu, embora tenha se comprometido a não afetar o pleito. O ELN tinha aderido a um cessar-fogo unilateral das Farc no primeiro turno das eleições, em 25 de maio.
- "Uma nova oportunidade" -
Tanto a delegação das Farc em Havana, quanto o delegado das Nações Unidas na Colômbia, e a ex-senadora Piedad Córdoba, mediadora para a libertação de reféns da guerrilha, saudaram imediatamente o anúncio.
"É uma notícia muito importante para a paz na Colômbia. Consideramos que é positivo e esperamos que se avance com espírito de paz, e não espírito eleitoral", disse à AFP Andrés París, um dos delegados desta guerrilha.
Fabrizio Hochschild, chefe da delegação da ONU na Colômbia, sustentou que "esta é uma mensagem de uma nova oportunidade, é um assunto histórico, porque este assunto não veio do nada, foi resultado de meses e, talvez, anos de negociações".
Enquanto isso, Córdoba afirmou que "começa uma rodada de contatos e de negociações para dar início à elaboração de uma agenda que dê lugar a um processo de paz com o ELN".
"Esta agenda que começa no ponto de vítimas tem uma grande ênfase na participação da sociedade colombiana", disse.
León Valencia, presidente da fundação Paz e Reconciliação e ex-integrante do ELN, considerou que o país está perto de uma "paz integral", com a participação todos os atores".
Valencia declarou a jornalistas em Bogotá que, possivelmente, o ex-presidente Ernesto Samper (1994-1998) e o comandante guerrilheiro Antonio García chefiariam cada uma das delegações.
O conflito armado que assola a Colômbia há meio século já deixou pelo menos 220.000 mortos. Mais de cinco milhões de pessoas deixaram suas casas para fugir da violência.
