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Estado de Minas

Fartos da austeridade, portugueses viram a página da troika


postado em 15/05/2014 15:07

Portugal será no sábado o segundo país a ter recebido ajuda financeira da zona do euro, depois da Irlanda, a se libertar da tutela de seus credores, aproveitando uma melhora dos dados macroeconômicos que não se reflete na vida da população.

Os sócios europeus de Lisboa saudaram o governo conservador de Pedro Passos Coelho por sua decisão de sair do plano de resgate, prescindindo de uma linha de crédito de precaução.

No entanto, a opinião pública, que sofreu com três anos de cortes, está muito longe de estar entusiasmada.

"Isto aqui está de mal a pior. As receitas estão cada vez mais baixas, e os impostos mais altos. O acesso à saúde ficou caríssimo. A troika vai embora, mas a austeridade está sendo mantida", resume Dima Nunes, de 53 anos.

No entanto, não faltam clientes em sua pequena loja de cerâmica, em uma pequena rua do bairro lisboeta da Alfama.

"Há muitos turistas, mas eles compram menos. Em seus países também há crise", lamenta Dima.

Atingido pela crise da dívida, Portugal se viu em 2011 incapaz de se financiar nos mercados de renda fixa, que exigiam taxas proibitivas.

Depois de Grécia e Irlanda, Portugal foi o terceiro país da zona do euro a ter que pedir um plano de resgate à troika formada por Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional.

Em maio de 2011, o país fechou um acordo para resgate de 78 bilhões de euros. Em troca, o governo teve que aplicar um plano de austeridade sem precedentes, que se concretizou em um corte drástico nos salários dos funcionários públicos e das aposentadorias, e em um aumento de impostos de 30%.

- Um consenso esgotado -

O governo de direita, que sucedeu em junho de 2011 um gabinete socialista desgastado pelo pedido de resgate, tem aplicado com cuidado a doutrina de austeridade receitada pela troika para os países que receberam ajuda financeira.

Entretanto, o consenso em torno da necessidade de aplicar medidas rigorosas foi rompido no dia em que o governo quis aumentar as contribuições sociais dos trabalhadores para poder baixar as das empresas.

Centenas de milhares de portugueses saíram às ruas para protestar no outono de 2012 contra essa medida, vista como uma injustiça social.

Desde então, a mobilização veio perdendo força até dar lugar à resignação.

O tom catastrófico das autoridades mudou na primavera de 2013, quando Portugal saiu da recessão.

De acordo com os dados macroeconômicos, a situação mudou em comparação a 2011: forte queda nas taxas da dívida, déficit sob controle, retorno do crescimento após a pior recessão desde 1975, forte aumento das exportações, turismo em níveis recordes.

A intervenção da troika permitiu reduzir o déficit à metade, em comparação com 2010. Ele foi de 4,9% do PIB em 2013.

A dívida pública, contudo, continuou subindo, e passou de 94% em 2010 para 129% do PIB em 2013.

Apesar dos dados macroeconômicos, a realidade para o cidadão médio é que cerca de um em cada cinco portugueses vive com uma renda inferior a 410 euros mensais.

A taxa de desemprego baixou, mas segue atingindo 15% da população e, em particular, 37,5% dos jovens.

- Demissões continuam -

"O governo diz que a economia está melhor, mas não vemos nada disso. Eu perdi meu emprego e na minha idade tenho poucas chances de voltar a encontrar trabalho", conta Antônio Silva, de 55 anos, no centro de emprego de Conde Redondo, em Lisboa.

Antônio foi demitido no mês passado de um restaurante da capital, com outros cinco garçons, e agora recebe um auxílio desemprego de 420 euros por mês. Apesar da tímida recuperação da economia, as empresas seguem despedindo gente.

O recuo do desemprego também se deve, em grande medida, à emigração, que voltou aos níveis dos anos de 1960. Cerca de 300 mil portugueses deixaram o país entre 2011 e 2013, o que representa 6% da população ativa.

O diagnóstico de Pedro Lains, professor de História da Economia na Universidade de Lisboa, é inequívoco: "a troika deixa uma herança pesada. Sua austeridade contribuiu para destruir uma parte considerável da economia e do emprego em Portugal".


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