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Estado de Minas

Sul-africanos voltam às urnas 20 anos após fim do apartheid

Na primeira eleição desde a morte do patriarca da democracia racial, o partido que ele liderou enfrentará nas urnas um país insatisfeito com a corrupção e as desigualdades


postado em 04/05/2014 00:12 / atualizado em 04/05/2014 09:08

Gabriela Freire Valente

A líder opositora Helen Zille no palanque: discurso à classe média(foto: Marcos Longari/AFP)
A líder opositora Helen Zille no palanque: discurso à classe média (foto: Marcos Longari/AFP)

Brasília – Passados 20 anos após o fim do apartheid, em 1994, os sul-africanos voltam às urnas para eleições gerais que devem desenhar o futuro político do país. É a primeira disputa realizada sem a presença física do ex-presidente Nelson Mandela, herói da luta contra o regime racista e patriarca da democracia racial, morto em dezembro. O desempenho do Congresso Nacional Africano (CNA), que Mandela personificou por várias décadas, será observado com atenção. Embora a legenda governe o país desde 1994 e continue favorita, uma série de escândalos de corrupção, somados aos problemas socioeconômicos, vem derrubado os índices de aprovação do presidente Jacob Zuma e, consequentemente, de confiança no partido. Para analistas, a eleição de quarta-feira representa o início de um novo cenário político na África do Sul.

De acordo com estudo divulgado pelo instituto Ipsos, em novembro, apenas 46% dos sul-africanos aprovavam o trabalho de Zuma. Em teoria, a insatisfação com o governo deve se refletir nas urnas, mas sondagens eleitorais indicam que os partidos opositores carecem de força em nível nacional, propiciando que o CNA ultrapasse os 60% dos votos. Cleomar Souza, professor de relações internacionais da Universidade Católica de Brasília, acredita que o passado de segregação alimente uma resistência a propostas distintas. “No inconsciente coletivo daquela maioria negra não existe ainda, de forma competitiva, outro elemento político que possa ser mais confiável que o CNA. Por mais que Mandela tenha pacificado a África do Sul, institucionalmente, ainda há, de maneira óbvia, alguns ranços que contaminam a tomada de decisão”, sustenta Souza.

O candidato à reeleição Jacob Zuma discursa no Dia do Trabalho(foto: Gianluig Guercia/AFP)
O candidato à reeleição Jacob Zuma discursa no Dia do Trabalho (foto: Gianluig Guercia/AFP)


A ausência da figura conciliadora de Madiba, nome tribal de Mandela, pode evidenciar as deficiências do partido e abrir nova perspectiva para o país. James Mittelman, professor de relações internacionais da American University, em Washington, avalia que os votos dos sul-africados devem tentar colocar em prática os ideias da longa batalha por liberdade que precedeu a democratização. “O desafio político é preservar os ganhos do período pós-apartheid e atender às questões de justiça social. Enquanto o governo do CNA avançou na construção de uma sociedade multicultural, a desigualdade entre as classes se tornou cada vez mais um divisor”, observa.

Embora a legenda tenha arrebatado a herança política de Mandela, André Duvenhage, especialista em cenários políticos da Universidade North-West, na África do Sul, disse à reportagem que a imagem do ícone da luta antirracista tem sido explorada de forma sutil – a figura do presidente Zuma é predominante no material eleitoral. “Acredito que eles queiram evitar comparações, pois isso teria reflexos negativos para o partido”, indicou. “Essa é, definitivamente, a eleição mais difícil para a CNA desde 1994”, considera.

Desde meados de 2012, a África do Sul enfrenta uma série de violentos protestos e greves em setores importantes da economia. De acordo com dados oficiais, o desemprego atinge 25% da população e chega a 40% entre os jovens. “Alguns avanços foram feitos, mas ainda há problemas com a criação de empregos, o que implica mudanças na política macroeconômica, e com a corrupção, que destrói a capacidade do Estado para atacar questões do desenvolvimento”, indica Alexander Beresford, especialista em política africana da Universidade de Leeds, no Reino Unido.

DIFICULDADES Embora a Aliança democrática (AD, centrista), principal partido opositor, tente convencer os eleitores – especialmente os de classe média – de que uma agenda mais liberal trará mais prosperidade à África do Sul, a legenda opositora enfrentou problemas de articulação danosos à sua imagem. A AD, que é liderada por Helen Zille, uma mulher branca, tentou se coligar com Mamphela Ramphele, negra e fundadora do partido AgangSA. A união, porém, durou poucos meses. “Isso deixou uma impressão de fraqueza no partido, e tais problemas de publicidade afetam as esperanças de conquistarem uma parcela maior dos votos”, avalia Beresford.

O CNA ainda tem o apoio dos poderosos sindicatos e associações trabalhistas, mas vem perdendo a sustentação desse importante eleitorado. A União Nacional de Metalúrgicos, uma das principais representações de trabalhadores do país, desligou-se do partido governista logo após a morte de Mandela. “Se mais sindicatos seguirem esse caminho, isso pode ser muito significativo. Eles têm um discurso mais socialista, que pode atrair grande parte dos sul-africanos”, pondera Beresford.


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